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No caminho para derrotar o fascismo: #EleNão e as mobilizações feministas e populares
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No caminho para derrotar o fascismo: #EleNão e as mobilizações feministas e populares

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Kim Taiuara – membro da Coordenação Nacional da UJC-Brasil

Ontem, 29 de setembro, centenas de milhares – talvez milhões – foram às ruas para dizer Ele Não! impondo a primeira derrota política à candidatura e ao programa de teor fascista do presidenciável Jair Bolsonaro. Em mais de 114 cidades, em todos os 26 estados da Federação e no DF ocorreram manifestações protagonizadas pelo movimento feminista brasileiro que, exitoso, conseguiu dar um caráter de massas à mobilização espontânea surgida em rechaço ao reacionarismo vocalizado pelo candidato da extrema-direita.

No contexto de uma das mais acirradas disputas eleitorais, as mobilizações do Ele Não! abriram a possibilidade de intensificar o enfrentamento, numa perspectiva popular e de massas, ao processo de fascistização da sociedade brasileira. Ante uma possível derrota de Bolsonaro nas urnas, saídas autoritárias estão sendo anunciadas como alternativa à instabilidade política em nosso país. Não há dúvidas que é necessário derrotar eleitoralmente a extrema-direita, mas isso por si só não garante conter a radicalização do conservadorismo, nem o seu crescimento enquanto movimento com adesão social significativa. Uma mera derrota eleitoral, ainda que inquestionavelmente imprescindível, não tem força social suficiente para obstar e reverter a difusão cada vez mais ampla do programa econômico ultraliberal e do conjunto de valores e ideias profundamente reacionárias expressas na candidatura Bolsonaro. Para tanto, é preciso alcançar vitórias políticas contra tal candidatura: seu programa econômico, seu autoritarismo político e seu reacionarismo moral.

Até pouco tempo, o envolvimento da população com a presente eleição não estava se diferindo significativamente das anteriores. A prática convencional do modo de se fazer campanha, com exceção das candidaturas da esquerda socialista e comunista, continua a limitar a participação orgânica de grandes parcelas da população, sobretudo, da classe trabalhadora brasileira no processo eleitoral. Não fosse a maior polarização política – expressa, em menor medida, já em 2014 – provavelmente o ritmo das eleições permaneceria sem alterações relevantes. Mas, como os antagonismos, ainda encobertos por diversos véus ideológicos, vêm se escancarando cada vez mais, a ação política de diferentes sujeitos tem sido impelida pela realidade a atuar no cenário atual, alargando os limites estreitos de um modo de fazer política passivizante, que, se por um lado tem o potencial de imprimir uma derrota eleitoral ao candidato da fascistização, por outro, na sua estreiteza, talvez não dê margem a uma vitória política necessária para enfrentar os perigos do fascismo no pós-eleição, resultando, portanto, numa derrota eleitoral sob um clima de vitória política da extrema-direita que lhe possibilitaria o cancelamento do resultado das eleições.

Aqui se situa a importância das mobilizações do Ele Não! para a conjuntura imediata. A mobilização das mulheres contra Bolsonaro articulou um amplo trabalho de agitação e propaganda, envolvendo atrizes, cantoras, musicistas, atletas, escritoras, intelectuais, figuras públicas das mais diversas para dizer que Ele Não as representa, não pode representar e não irá. Disseminando nas redes sociais vídeos, palavras de ordem, músicas etc., as mulheres reafirmaram seu anseio por mudanças sociais, e, assim, o Ele Não. Essa ampla mobilização, já então vitoriosa, foi coroada com a realização de um grande e massivo ato nacional ocorrido no último dia 29 protagonizado pelas mulheres brasileiras para dizer nas ruas em alto e bom som, Ele Não!

Dizer nas ruas o que se quer é tão importante quanto dizer nas urnas. E o êxito político das manifestações em torno do Ele Não! que ganharam caráter nacional, contêm em si a possibilidade de enfrentar o projeto de fascistização da sociedade em vários aspectos, sendo de suma importância fazê-lo desde já, tanto para derrotá-lo política e eleitoralmente como para elevar o nível de organização e consciência da classe trabalhadora, alterando a correlação de forças no sentido de pressionar o próximo governo a anular e revogar as medidas implementadas pelo ilegítimo governo Temer contra os/as trabalhadores/as – em especial a EC 95 e a reforma trabalhista. Mas não só. Politizar ainda mais as eleições é necessário – novamente, desde já – para conter esse processo de fascistização da sociedade brasileira, impondo-lhe derrotas resolutas.

Uma parte da luta está se travando neste momento e o Ele Não! configurou  importante vitória contra o caráter machista, racista, LGBTfóbico do projeto personificado em Bolsonaro. Precisa continuar e articular lutas cada vez mais massivas, envolvendo a classe trabalhadora em toda sua heterogeneidade para derrotar o autoritarismo e a agenda econômica ultraliberal representada naquela candidatura. Portanto, necessariamente a luta irá se prolongar e se acirrar após as eleições. Denunciar as consequências do projeto da extrema-direita em todos os seus aspectos é pressuposto para derrotá-lo política e eleitoralmente, bem como para derrotá-lo política e socialmente nas ruas no período seguinte da luta de classes. Intensificar o trabalho de base, a organização da classe trabalhadora, massificar as lutas e propagandear o projeto que defendemos é também elemento central para o possível êxito da nossa luta. Por isso, mãos à obra, camaradas, e derrotemos mais uma vez o fascismo.

Ousar lutar, ousar vencer!

Unidade para resistir, ousadia para avançar!