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A UJC E O XIV CONEB DA UNE
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A UJC E O XIV CONEB DA UNE

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Entrevista concedida por Bernardo Soares, da Comissão Nacional de Movimento Estudantil da UJC.

De 18 a 21 de janeiro, a cidade de Recife será palco para mais uma edição do Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE (CONEB-UNE). A princípio, o espaço possibilita uma atualização das bandeiras de luta da entidade, devendo reorganizar os estudantes de todo o Brasil para os enfrentamentos contra as sucessivas medidas de mercantilização da educação superior e as medidas autoritárias que retiram a autonomia universitária e dirige as Universidades para a lógica produtivista de mercado.

Para nos dar mais informações sobre este CONEB e como será a participação da UJC neste espaço, entrevistamos o membro da Comissão Nacional de Movimento Estudantil da UJC (CNME-UJC), Bernardo Soares, estudante de História da Universidade Federal Fluminense.

UJC: Bernardo, já nos aproximando do início do CONEB da UNE, qual a avaliação sobre o Movimento Estudantil brasileiro que a UJC vem tendo e em qual contexto se insere esta 14ª edição do CONEB?

Esse ano o CONEB chega justamente depois de uma das maiores greves da educação dos últimos tempos, onde os estudantes, junto aos demais setores da educação, mostraram que tem o potencial de ser um dos protagonistas nas lutas sociais. O contexto dessa edição do CONEB é justamente esse que lutamos contra durante a greve: salas de aula lotadas; falta de políticas de assistência estudantil; desestruturação da carreira docente; péssimas condições de trabalho e salário aos servidores; um ensino público cada vez mais vinculado às demandas de grupos privados; privatização dos Hospitais Universitários, etc. A diferença é que agora ficou ainda mais clara a posição do governo ao debater tais questões, o tratamento dado aos grevistas foi pedagógico. Depois dessa vai ficar muito difícil pra UNE, que na prática não construiu a greve em nenhum momento, convencer os estudantes de apoiarem os projetos de educação governistas.

UJC: De forma análoga a organização sindical brasileira, o governo federal reconhece enquanto entidade legítima dos estudantes a UNE. É possível, por esta forma, os estudantes tocarem lutas no cotidiano?

O papel desempenhado pela UNE durante a greve foi didático. Ficou claro para aqueles que ainda guardavam alguma esperança na entidade o real papel que ela vêm cumprindo. Enquanto estudantes iam pra rua protestar, a UNE optava por fazer acordos de gabinete, isso num claro intuito de desmobilizar o movimento grevista. Chegaram inclusive a lançar alguns boatos, falando que tinha conquistado os 10% do PIB pra educação, que tinham garantido 100% dos royalties para a educação, etc., só tentativas de desarticulação da greve, a contribuição da UJC para o CONEB inclusive fala isso.

É lamentável a posição tomada pela UNE nos últimos anos. O que há algum tempo atrás foi um instrumento legítimo e extremamente atuante em diversas lutas do povo brasileiro, hoje está cada vez mais moldada à ordem dominante. Nesse CONEB eu não tenho dúvidas que, como sempre, os estudantes chegarão lá para ouvir as mesmas defesas acríticas do projeto de educação governista. É uma entidade que não tem enraizamento nas bases, está afastada das lutas, se converteu em um aparelho privado de hegemonia em defesa da ordem. Não partimos de uma crítica superficial, para nós, o problema da UNE não está apenas em sua direção majoritária, mas sim em toda forma que se estrutura, desde a tiragem de delegados até às plenárias finais, passando por todo posicionamento mostrado diante das lutas reais. A UNE, assim como diversas outras entidades que nasceram como instrumentos de luta, passou por grandes mudanças durante os últimos anos e teve oportunidade de optar por um lado, infelizmente optou em se colocar contra os interesses da grande maioria da população.

A UNE hoje em dia pode ter diversas funções: fazer carteirinhas; financiar certos grupos políticos; apoiar o capital privado; lutar pelo interesse dos grandes barões da educação, etc., só não pode tocar as lutas que visem à superação da ordem atual. É uma entidade historicamente esgotada. Acredito que as reais lutas partirão da base do movimento estudantil, articulados aos demais setores da educação e aos movimentos sociais, claro que tudo isso articulado numa clara política que vise atender às demandas da maior parte da população, e é nisso que a UJC tem se focado nos últimos anos: na construção de um movimento estudantil desde sua base, articulados aos demais setores em luta e com uma clara linha política de ruptura.

UJC: Nas resoluções do VI Congresso Nacional da UJC, esta apontado que a Juventude Comunista não irá disputar cargos de direção da UNE, como fazem outras juventudes organizadas. Dessa maneira, qual o real motivo da UJC ir para o CONEB e quais serão suas ações neste espaço?

Exato, há alguns anos abandonamos essa linha de disputas por cargo na direção da UNE, a cada luta que passa essa decisão se mostra mais acertada. Porém, isso não significa dizer que abandonamos por completo a UNE, ainda participamos de seus principais espaços, mas a disputa que fazemos é na política, não na contagem de garrafinhas.

Usamos o espaço para fazer a crítica ao amoldamento da entidade e ao total afastamento do cotidiano de luta da vida dos estudantes, sempre priorizando o debate político, o que, diga-se de passagem, não existe nos fóruns da UNE. Esse ano, por exemplo, como de costume, realizaremos atividades paralelas ao encontro. No dia 19 faremos, em conjunto com os outros setores que constroem o campo de Universidade Popular, uma atividade sobre a privatização dos Hospitais Universitários através das Empresas Brasileiras de Serviços Hospitalares (EBSERH); no domingo, dia 20, faremos uma atividade discutindo Cultura e Universidade. Não tenho dúvidas que ambas as atividades serão um sucesso, é uma questão simples: se a UNE não oferece debate político, nós convidamos os estudantes a debater coletivamente, é o mínimo que se pode oferecer aos estudantes.

UJC: Observamos que a UJC no ultimo período, cresceu e vem se afirmando no Movimento Estudantil. DCE’s, Centros Acadêmicos, Executivas e Federações de Curso contam com a presença da Juventude Comunista. Contudo, as entidades sem uma política de enfrentamento de nada adiantam. Quais as principais bandeiras de luta que a UJC vem apresentando para os estudantes?

Tem razão, a postura acertada que disse anteriormente de não disputar cargos na direção da UNE se refletiu no crescimento de nossa inserção nas lutas, mas, como você mesmo disse, sem uma política de enfrentamento de nada adiantaria esse trabalho.

A política que coletivamente viemos construindo coletivamente ao longo dos anos é aquilo que chamamos de Universidade Popular. Em poucas palavras, essa bandeira é uma tentativa ir além das pautas reativas que durante muitos anos balizaram a atuação do movimento estudantil, ou seja, para nós, a simples luta por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, ainda que indispensável, se encontra ultrapassada. Chegamos a um determinado ponto do desenvolvimento histórico, que a Universidade brasileira pode muito bem atender todos esses requisitos e continuar funcionando dentro da mesma lógica de reprodução do conhecimento para a manutenção da ordem.

A Universidade Popular é justamente a negação e a superação desse atual modelo. O movimento estudantil precisa dar esse salto político em suas proposições, chegou a hora de debatermos de uma vez por todas um programa de Universidade que colabore para um projeto mais amplo de transformação social, que esteja pautada pela real demanda dos trabalhadores. Não temos dúvidas que isso só se dará plenamente em outro tipo de sociedade, que para nós da UJC, é o socialismo, mas a luta começa desde agora.

UJC: Para finalizarmos com um tema polêmico entre as organizações de juventudes, para a UJC, como se dá no cotidiano a luta por uma Universidade Popular?

A pergunta é importante, falamos aqui de um projeto de Universidade que esteja voltado para a transformação social, mas em nenhum momento podemos esquecer que a política se faz no cotidiano. Isso significa que devemos articular todos esses problemas que enfrentamos em nosso dia a dia dentro de uma análise mais geral, só assim a gente pode mensurar seu real tamanho e propor uma alternativa política à altura.

Iniciamos a entrevista falando dos problemas centrais que ocasionaram a última greve, o modo de encará-los é central para articularmos sua superação. O que será que significa essa expansão precarizada do ensino público superior; a baixa qualidade dos cursos da rede particular e o aumento abusivo do valor das mensalidades; a compressão dos direitos trabalhistas para professores e servidores; a expansão do capital privado na rede pública, etc.? Para alguns setores isso é um problema de administração facilmente resolvido: um aumento de verba aqui, maiores investimentos ali e pronto, de uma hora pra outra solucionaremos os problemas.

A UJC encara de uma forma diferente. Para nós, todos esses problemas se relacionam claramente com uma concepção de há anos vem sendo implementada no Brasil, de uma educação que funcione sob os interesses do capital, não sob os anseios dos trabalhadores. Tendo isso em vista, nos fica claro que a sua superação vêm justamente com a inversão dessa ordem. É a partir daí devemos articular as lutas do cotidiano com um projeto político mais amplo, significa dizer que os problemas da educação brasileira não será resolvidos dentro da ordem, ou em uma aliança com setores mais progressistas do empresariado nacional, mas somente em outra forma de organização social, que só se dará através de lutas.