
Truculência e racismo: o modus operandi da guarda patrimonial na UFJF
No ano de 2024, e no início de 2025, a União da Juventude Comunista (UJC) em Juiz de Fora tem recebido e observado um aumento no número de denúncias e relatos de enquadros, abordagens agressivas, confisco de materiais de venda de estudantes e agressões realizadas pelos guardas patrimoniais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A conduta rígida dos vigias da UFJF não é novidade em nossos campi. É um serviço terceirizado, com atribuição de realizar uma atividade de vigilância patrimonial, mas que oculta e perpetua casos de racismo, agressão e perseguição, que têm se agravado nos últimos meses.
O ponto-chave mais perceptível dessa mudança veio depois da operação policial no campus da UFJF em Juiz de Fora, que prendeu suspeitos de venda de entorpecentes no bosque da reitoria. Posteriormente a essa ação policial e à troca de gestão da reitoria, os sentinelas intensificaram a abordagem para com pessoas negras e fumantes; também estão confiscando materiais de venda de alunos, entre outras situações que expõem o caráter policialesco das novas orientações – essas ações extrapolam os limites da função dos sentinelas descrita no contrato e simbolizam um retrocesso nas decisões e debates sobre segurança no campus.
As abordagens a estudantes autônomos são uma defesa explícita do lucro das cantinas, restringindo o uso do espaço público e reprimindo alunos que dependem dessa renda para continuar estudando. A lógica do capital, evidente nas decisões da reitoria – autointitulada progressista –, prioriza interesses comerciais em detrimento dos direitos e necessidades dos estudantes, garantindo o monopólio àqueles que geram receita para a UFJF. Essa situação evidencia, para o corpo discente, que a luta de classes também se manifesta dentro da universidade pública, desafiando o movimento estudantil a se posicionar firmemente contra a terceirização dos serviços nos campi.
A partir de uma retrospectiva sobre a situação contratual dos vigias, nota-se que, desde 2021, a orientação contratual é de serem vigilância armada, contrariando os próprios dispositivos do contrato de “proteção à integridade física dos transeuntes” e “proteção à dignidade humana”. A segurança por meio de intimidações e agressões tem repetidamente atentado contra as liberdades democráticas de grupos específicos: pessoas pretas, faveladas e autônomas. Ao passo em que se desenvolvem casos cada vez mais sérios de violência, a iminência de algo pior sempre estará próxima.
Isso porque, junto com a vigilância armada, se caracteriza também a mudança na postura das abordagens – causada tanto por orientações da supervisão de segurança quanto por uma mudança na cultura, com o avanço do conservadorismo social nos últimos anos e pelo descaso da reitoria com a situação. Fatos estes que já ocorrem ao longo dos anos, mas que aumentaram com a mudança da reitoria em abril de 2024.
Nesse contexto, nota-se que a função dos vigias da UFJF dentro do contrato terceirizado entre a universidade e a empresa MASTER VIGILÂNCIA ESPECIALIZADA LTDA restringe a atividade cotidiana desses trabalhadores apenas à “atividades de vigilância necessárias ao bom funcionamento da UFJF”, contradizendo artigos do contrato que proíbem os vigias de exercerem função similar à de polícia: constranger pessoas, realizar abordagens com poder investigativo, agir com conduta discriminatória e exercer violência física.
Apesar da recomendação de procurar a administração, as denúncias realizadas sobre as condutas não repercutem diretamente em função da demora de uma resposta institucional da UFJF, da manutenção dos interesses financeiros e da falta de movimentação política junto às denúncias sobre o tema. É importante ressaltar que, embora as denúncias institucionais de casos específicos sejam essenciais, as leis e normas que controlam esses processos de denúncia são extremamente burocráticas e amorfas, a ponto de excluírem o real direito dos que foram vitimados. A denúncia individual não mudará a postura dos vigias, pois esse problema não concerne apenas um ou outro estudante, ou servidor; portanto, necessita de um esforço coletivo.
Para que essa situação se revertesse, tentamos ampliar este debate em um Conselho dos Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos (CONCADA), mas a postura do Diretório Central dos Estudantes (DCE) foi a de postar uma nota que “passa panos quentes”, insuficiente para pressionar a reitoria e a coordenação de vigilância da UFJF a reorientar a vigilância em sua conduta e a realizar o próximo contrato de forma condizente com a segurança da comunidade, ou seja, sem perseguições raciais, sem armamento, sem postura truculenta e sem poder de polícia. Portanto, necessitamos não só fazer pressão nas instâncias descritas para que esse comportamento não se repita, como também movimentar o debate para que os casos que já aconteceram sejam apurados. Convocamos as forças e entidades políticas e representativas da UFJF a iniciarmos este importante debate de forma séria, sem ressalvas à administração de nossa universidade.
Para além da mera denúncia institucional, o momento pede mobilização estudantil. É inaceitável que nossa universidade, que se orgulha de hastear bandeiras em favor da diversidade e inclusão, continue a reproduzir o padrão policialesco e racista observado na polícia militar em sua estrutura de segurança. A segurança serve a quem? Aos estudantes, professores e técnicos ou aos interesses monopolistas e antidemocráticos de empresas que invadem a universidade pública? Devemos exigir que essa funcione a favor da classe trabalhadora que ocupa o espaço universitário. É mais importante que estes possuam a capacidade de lidar com situações de insegurança! É claramente necessária a capacitação desses profissionais para lidar com casos de assédio sexual em nossa universidade, para prestar primeiros socorros, para se comunicar e fornecer informações de forma eficiente a todos.
Gostaríamos de ressaltar que tal nota política é um primeiro passo para a discussão que deve, posteriormente, englobar não apenas a questão posta acima, mas também sobre a própria terceirização desta categoria, que resulta em superexploração dos trabalhadores – fator este que contribui para as situações de constrangimentos e violência.
Por isso, acreditamos que pensar com seriedade a segurança na UFJF deve ser uma tarefa prioritária de todo o conjunto de estudantes, professores e técnicos (TAEs), daí a relevância do Movimento Estudantil diante dessa situação. Converse com o Centro Acadêmico (CA) ou o Diretório Acadêmico (DA) do seu curso, busque se informar sobre a temática, e, caso tenha alguma denúncia, procure as representações estudantis. Estudantes são mais fortes unidos!
Repressão é coisa de ditadura! Por uma Universidade Popular!
União da Juventude Comunista (UJC) – Núcleo Juiz de Fora
7 de fevereiro de 2025