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O alerta do presidente
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O alerta do presidente

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por Vinicius Okada M. M. D’Amico

Podemos dizer, agora mais do que nunca, que o ano começou. As últimas cartas do jogo político-institucional finalmente foram postas na mesa. Já se foram, há algum tempo, as eleições municipais. E junto com ela certo furor. Havia, na grande mídia sobretudo, quem dissesse que quem perdia, na ocasião, era Bolsonaro e o “bolsonarismo”. O “Centrão” alçava-se às prefeituras e delas já havia quem proclamasse voo para as presidências do Senado e da Câmara de uma dita “oposição democrática”. Bolsonaro parecia perder força. As denúncias se acumulavam. A impaciência do mercado lotava os editoriais. O “DESENGAVETA MAIA” já engatilhado.

Resultado: 1º de Fevereiro de 2021: Arthur Lira, candidato do Planalto, é eleito Presidente da Câmara (acompanhado da vitória, momentos antes, do candidato de Bolsonaro no Senado).

Com 302 votos contra módicos 145 de Baleia Rossi, todos os meses de debates “profundos” sobre Frente Ampla versus Frente de Esquerda são jogados no lixo da história da, cada vez mais derrotada, esquerda nacional. Foi preciso muita abstração para justificar tamanho movimento derrotista da esquerda institucional para apoiar o candidato do MDB e virar as costas para qualquer lampejo de política independente, com exceção, claro, da digníssima companheira Luiza Erundina. Abstrações como a velha ideologia da democracia enquanto valor universal, acompanhada da unidade irrestrita contra o “autoritarismo”, ou mesmo a provocação jocosa, e agora risível, de que se estava fazendo “política de verdade e não de DCE”.

Como Lênin bem disse, “a verdade é sempre concreta, nunca é abstrata”. E o fato consumado da esquerda ter sido atropelada pelo candidato de Bolsonaro, ter se isolado na candidatura natimorta de Baleia Rossi, e servido somente de moeda de troca para o próprio “Centrão” negociar em termos mais favoráveis com o Planalto, isso sim, é concreto como um soco na cara.

Com a vitória no jogo institucional, Bolsonaro repete, e aliás cumpre, o alerta dado na reunião ministerial (posteriormente vazada publicamente) de 22 de Abril de 2020. Alerta proferido em meio a uma das maiores crises do governo, entre tapas e berros, e da qual rifaram Weintraub para se manterem governo. O alerta, dirigido a seus pares, hoje serve bem para os ingênuos e iludidos de plantão:

“ACORDEM PARA A POLÍTICA! A LUTA PELO PODER SEGUE À TODO VAPOR!”

O presidente usou de todas as armas a seu dispor para concretizar a presente vitória que a esquerda assiste abismada. Lançou verba grossa para emendas parlamentares, esperou a esquerda reduzir-se à sua insignificância e adentrar na cilada da “Chapa Amplíssima pela Democracia”, barganhou uma vez mais com seus pares do “Centrão” e os trouxe para seu lado. Enfim, venceu.

A esquerda institucional insiste na tática de desaprender a fazer política ao ignorar a correlação de forças e a situação concreta em sua totalidade. Segue firme em sua insistência de abdicar das armas que tem para combater para, servilmente, jogar o jogo segundo as regras do inimigo.

Enquanto se combater unicamente e prioritariamente dentro do Planalto, as ruas seguirão vazias. Brasília seguirá sendo para esses senhores que anseiam pela “refundação democrática da República” um grande mausoléu a céu aberto de “toda uma vida que poderia ter sido e que não foi”.

Tanto os ingênuos quanto os oportunistas preferem não contar com a nossa verdadeira arma na política, esta que é o povo, o movimento de massas mobilizado rumo à Greve Geral, enfim, a independência política da classe trabalhadora.

Por enquanto, vence quem vem mobilizando seus pares e empunhando suas armas: o programa neoliberal da burguesia brasileira, associada ao imperialismo, segue e seguirá sendo implementado. A estabilidade de tal programa em nosso país, aliás, é invejável. Pelo menos desde os anos 1990 entre nós, com algumas alterações de percurso e aliados ocasionais que foram e que vieram. Porém hoje mais forte do que nunca.

Quem quiser seguir o canto da sereia de nossa esquerda social-liberal, aquele abraço. Os que lutam com o povo já sabem há tempos que a tarefa urgente é a reorganização da classe trabalhadora. Bolsonaro e aliados já se reorganizaram. Aos iludidos, vale seguir o alerta de Vossa Excelência e acordar para a política, a qual não é matéria de fé, coragem ou mesmo confiança, mas simplesmente de poder. As ruas podem não estar vazias, mas não estão cheias o bastante.

Vinícius Okada é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela USP de São Carlos e militante do PCB e da UJC na cidade de São Paulo.