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Moralismo: o último refúgio de uma esquerda derrotada que não compreende o próprio fracasso
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Moralismo: o último refúgio de uma esquerda derrotada que não compreende o próprio fracasso

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por Gustavo Guimarães

Por trás de todo “eu avisei”, há um “nós fracassamos, mas somos melhores”. No caso do estágio em que estamos da pandemia no Brasil, tal frase tem muito mais dramaticidade. Nesse texto, buscamos, introdutoriamente, revelar os erros históricos que se escondem por trás do moralismo da esquerda brasileira neste momento.

Com o início de 2021, nos deparamos com um escândalo moral da mídia burguesa, acompanhado por extensos setores da esquerda, diante da aglomeração de trabalhadores e da população em geral durante as festas de fim de ano, especialmente o ano novo. Qualquer um de nós, na esquerda, na mídia burguesa — principal bastião do liberalismo (às vezes com verniz social) no Brasil (incluímos aqui as redes sociais, que são tão monopólios capitalistas quanto os jornais e canais da ordem) — e na extrema-direita, tinha plena ciência de que isso aconteceria. No período anterior à “tragédia anunciada”, parecia que “não havia alternativas” a isso além da apaixonada conclamação moral para que o povo não saísse de casa: o governo nós conhecemos; e o social-liberalismo de ocasião estava e está sempre irremediavelmente preso ao grande capital que representa, incapaz de ensaiar qualquer oposição real, para além de bravatas e blefes que nunca se traduzirão em ações efetivas: a Rede Globo não está disposta a arriscar reclamações da Abag [1] ou uma instabilidade das suas ações na Bolsa de Valores e rendimentos financeiros “apenas” em nome de uma disputa por hegemonia política para a qual existem outros meios — para ela, uma campanha real e prolongada por um isolamento social eficaz ​que nunca existiu e por um plano de vacinação nacional, universal e gratuito não faz o menor sentido. A oposição com as palavras vazias, discursos cínicos e simbolismos hipócritas parece melhor, e a política burguesa vive disso.

E a esquerda? Bem, a temporalidade aqui é importante, e não por causa das festas de fim de ano. Ela é importante porque quanto mais o tempo passa, mais a esquerda brasileira acumula derrotas que não está disposta a examinar seriamente; mais se enfraquece politicamente, mais perde força de influência nos trabalhadores e no restante das massas populares; mais a inércia da luta de massas afeta sua própria vontade e perspectiva política… A inexistência de uma campanha nacional e popular pela vacinação geral, por parte da esquerda, não é por falta de vontade, mas por falta de ​força efetiva​, capacidade de agitação e propaganda e poder de mobilização, organização e transformação concretas. A esquerda brasileira foi derrotada, e navega entre a negação da derrota e a glorificação moral da derrota. O programa democrático-popular [2] se arrasta como um zumbi (muito perigoso) pelas organizações populares — e não somente aquelas que se vinculam oficialmente à esfera de influência do petismo. Para o campo democrático-popular, que ganha aliados não só táticos mas estratégicos nas fileiras trotskistas e nacional-desenvolvimentistas, admitir a derrota, reconhecer sua gravidade e examinar as causas profundas que nos trouxeram até aqui exigiria se ​auto-destruir enquanto campo político, chegar a conclusões práticas que só poderiam significar o suicídio político. Na esquerda dita revolucionária, por outro lado, a investigação profunda e de longa duração sobre nossos erros táticos, organizativos e estratégicos também não parece interessante, por motivos que serão discutidos abaixo. Mas não há marxismo que sobreviva muito tempo à distância do proletariado e das tarefas urgentes que a garantia dos interesses da classe impõem à atual conjuntura.

Por isso não é surpresa o refortalecimento [3], em uma esquerda fraca e perdida, do moralismo sempre idealista como forma de intervenção prática e como maneira de se manter intacto a qualquer autocrítica profunda. A ​culpa — palavra favorita da pequeno-burguesia — da incapacidade dos trabalhadores de se manterem em isolamento, não usarem máscaras e assim vai. Tudo bem ficar no busão lotado, isso nós entendemos… Mas fazer festa? Ir à praia? E se fica feio demais acusar os trabalhadores, nos voltamos à pequeno-burguesia — a miséria teórica é muito profunda, é claro, poucos são os militantes de esquerda capazes de fornecer uma caracterização precisa do que seria a pequeno-burguesia, e de repente ela inclui desde os ​youtubers famosos até pessoas trabalhadoras LGBTs precarizadas que usam maquiagem. Mesmo assim, a denúncia do comportamento da pequeno-burguesia como fundamento do sofrimento dos trabalhadores na pandemia é tosca em intenção, sugere que nós, enquanto marxistas, esperamos algo de diferente dessa classe enquanto ela não está sob a influência e direção do proletariado revolucionário. É claro que a denúncia moral da aglomeração não tem qualquer efeito prático — já se passaram 10 meses, e nada. Mas o moralismo é sempre sobre o enunciador, não sobre aqueles a quem critica. No caso da esquerda brasileira, a ​manutenção da pureza de intenções​, da ​superioridade moral e da recusa ao auto-exame sistemático frente aos trabalhadores é a chave para explicar apersistência desse comportamento. A longo prazo, porém, é ele tanto ​fruto do nosso fracasso histórico, o refúgio de uma esquerda incapaz ou indisposta a intervir estruturalmente no curso sangrento do capitalismo dependente brasileiro; como ​causa do nosso fracasso futuro. Mas superar o moralismo e o idealismo na esquerda é uma tarefa muito mais ampla do que parece.

Restabelecendo o materialismo histórico

Desde o aumento intensivo de casos da covid 19 no Brasil, o padrão de resposta da maior parte da esquerda brasileira tem sido similar, apesar de sofrer variações. Enquanto pessoas de esquerda desorganizadas ou sem nenhuma filiação definitiva ou visível a algum campo político na esquerda facilmente se revestiram do moralismo e da tentativa de influenciar a conduta individual isolada — que são a mesmo coisa — como forma prioritária de tratar a pandemia, especialmente nas redes sociais pessoais, o comportamento da maioria dos militantes organizados de esquerda e — o que é muito mais grave — de figuras públicas de esquerda [4] não tardou a seguir o mesmo padrão, mesmo em intervenções públicas de caráter político. Claro, o discurso contra o governo federal assumia certa centralidade… Por um tempo, e a depender de que campo político se tratava. No caso da conduta do PT, PCdoB, PDT e suas organizações de influência, o discurso oscilante revelava uma prática bem coesa. De um lado, seus governadores assumiram um discurso mais moderado sempre que a burguesia pressionava um pouco, mesmo diante do governo federal (Rui Costa e amigos que o digam) [5]; ou então confrontavam o governo enquanto defendiam, de forma suave e refinada, a necessidade de “algum tipo” de reabertura de tempos em tempos e fracassavam na garantia de condições econômicas estáveis para as classes populares se manterem em isolamento [6]. Por outro lado, estavam lá as denúncias verborrágicas ao governo Bolsonaro de Manuela D’Ávila, Haddad, Flávio Dino, Ciro Gomes e dos militantes da base, os mesmos que vez ou outra estavam apoiando abertamente, a nível local ou nacional, propostas do bolsonarismo; enquanto faziam pouquíssimo para garantir condições materiais para o isolamento social e uma revitalização profunda do SUS diante do desmonte de longa data do qual sempre fizeram parte [7]. E, estavam sempre dispostos a negociar com Maia, o Centrão, o Partido NOVO e o Partido Democrata estadunidense para aprofundar o ultraliberalismo, a dependência e, consequentemente, os efeitos destrutivos da pandemia, em troca de qualquer minúcia irrelevante.

O recurso à culpabilização do povo dependia da necessidade do momento, a saber, sempre era mais utilizado quando uma confrontação real com a burguesia, a direita e/ou o governo não era tão “estratégica”. Mas estava sempre lá, especialmente nos meios informais, e se fortalecia diante dos fracassos. As figuras mais pequeno-aburguesadas do campo democrático-popular — por si só um campo pequeno-burguês em sua perspectiva de classe, conciliador por natureza, completamente tomado pelas ilusões democráticas e institucionalistas, incapaz de romper com a ordem e no fundo indisposto a fazê-lo —, como as da academia ou dos quadros burocráticos do Estado, eram sempre as mais dispostas a assumir o discurso moralista frente a incapacidade de ação concreta, fora a contaminação com a teoria pós-estruturalista que as levava mais diretamente nessa direção. Sua própria crítica abstrata do autoritarismo de Bolsonaro e suas explicações da crise revelavam um desprezo de classe pelo povo, visto como responsável pelo bolsonarismo de uma forma ou de outra, seja por seu voto ou por sua subjetividade inerentemente reacionária.

De qualquer forma, o discurso do campo democrático-popular em relação à pandemia, seja moderado, individual-moralista (explicitamente liberal) ou confrontacionista em relação ao ​governo sempre explicitava dois pontos centrais: a) a renúncia em ir longe na crítica à burguesia interna e ao imperialismo — o que inclui seu comportamento diante dos parlamentares de direita, diante dos ‘coronéis’ locais, diante do agronegócio, da mineração, da indústria e dos bancos e da mídia burguesa; b) como consequência lógica do item anterior, uma renúncia, consciente ou não, a uma oposição efetiva à política genocida do governo federal, que nessa conjuntura só pode envolver ir ​além das ameaças​, punir a oposição liberal por suas hesitações para colocá-la nas rédeas, confrontar decididamente os ​interesses objetivos por trás do extermínio e estar disposto a escalonar o confronto até a mobilização permanente das massas.

A maioria da “esquerda radical” — termo cada vez mais vazio de significado conforme setores cada vez mais expressivos dessa tal esquerda adotam na prática estratégias democráticas e se tornam completamente subordinados às diretrizes e ilusões do campo democrático-popular ou mesmo da oposição social-liberal —, porém, não está longe do quadro da esquerda da ordem. Sua palavra de ordem principal é o ​taticismo​,um taticismo que no entanto mal consegue vitórias táticas. A derrota das eleições municipais de 2020 lhe deu um duro golpe, e sua fraqueza numérica e política parece facilitar ainda mais o caminho para o moralismo e o individualismo liberal: para a indignação frente ao comportamento das classes populares na pandemia, para lhes dizer que devem ficar em casa, não sair, não fazer aquilo ou tal coisa, mesmo que não exista nenhum chão concreto para essas atitudes, em um momento de total ofensiva do capital, precarização sem precedentes das condições de vida dos trabalhadores brasileiros e ínfima solidariedade de classe, destruída há muito tempo atrás no meio do avanço neoliberal e do apassivamento do confronto de classe do lado do proletariado, que conduz necessariamente ao aprofundamento da concorrência dentro da classe, e portanto mais facilidade de penetração da ideologia, do individualismo, do racismo, do sexismo, da LGBTfobia e afins [8]. A formação teórica deficitária no meio revolucionário também facilita esse moralismo idealista a ganhar terreno.

Mas, afinal, qual o problema desse tipo de comportamento diante da pandemia, qual o problema de os marxistas se prestarem ao papel de recomendarem aos trabalhadores comportamentos individuais para sobreviverem na pandemia? Toda e qualquer crítica do comportamento individual de aglomeração e descuido no contexto da pandemia é condenável? O que o materialismo histórico tem a dizer? Comecemos a responder algumas dessas perguntas aqui.

De certa forma, há uma consciência generalizada nos militantes revolucionários de que frases como “seja a mudança que você quer ver no mundo” ou chamados individuais, isolados e/ou localizados à mudança social não passam de ideologia, de liberalismo e idealismo burguês que mistificam o real funcionamento da nossa sociedade e o tipo de ação coletiva que é necessário para subvertê-la. Mas, embora vários de nós consigam prontamente identificar as manifestações mais típicas dessas formas ideológicas, por vezes estes mesmos falham em perceber as formulações mais flexíveis e/ou sofisticadas dessas formas. Por exemplo, muitos de nós estão prontos a adotar uma concepção de adoecimento mental que o reduz a determinações pontuais, individuais e auto-constituídas, ignorando a determinação social do processo saúde-doença [9]. Para problemas localizados, só se pode sugerir soluções localizadas. No caso da saúde em termos mais amplos, o mesmo se repete, poucos tendo a compreensão de que a saúde não é algo que flutua sobre as sociedades, sobre as condições materiais, históricas e sociais em que o sujeito se desenvolve, mas que justamente está totalmente conectada aos modos de produção e formações sociais, do mesmo modo que a ciência e a tecnologia [10]. Outro exemplo de moralismo individualista que circula facilmente em meios marxistas é o discurso sobre “consumismo” [11]. Muitos desses exemplos vêm acompanhados de uma aparência de contestação radical do sistema, mas no final facilitam a própria reprodução dele, ao compreender a realidade e seus problemas de forma equivocada e propor soluções falsas para eles. [12]

Nesse sentido, não é que toda e qualquer ação ou conduta individual para conter a contaminação por covid 19 é inútil e irrelevante. O uso de máscaras, o isolamento social, o cuidado com as aglomerações etc. são todos métodos efetivos de reduzir o contágio, obviamente. Muitos na esquerda estão plenamente conscientes, porém, e embora continuem com o moralismo, que só a ação individual sem a ação do “governo” é completamente ineficiente. O que não faz sentido, e nunca fará, é propor esses métodos individuais de proteção abstratamente para os trabalhadores e demais classes populares sem considerar todas as condições materiais necessárias para a sua aplicação e mesmo a determinação material e histórica da construção da subjetividade dos seres humanos.

Esperar que esse tipo de recomendação abstrata de conduta surta algum efeito é esperar que o povo aja de determinada forma ​apenas por causa do discurso isolado, em um contexto histórico, econômico-social que absolutamente não favorece esse tipo de comportamento. Recorrer a uma certa culpa e sentimento de solidariedade que se imagina existir no fundo do coração humano é de um idealismo e subjetivismo brutais, que creem que o comportamento dos indivíduos depende apenas das vontades e sentimentos ou estão perdidos na ilusão de que há vontades e sentimentos que permanecem impassíveis e inalterados diante do substrato histórico em que se baseiam [13]. Se quisermos ver essas medidas sendo tomadas, precisamos ​criar esse substrato com nossa ação política coletiva e organizada.

E quando falamos em ​substrato histórico​, não estamos só nos referindo às condições econômicas para ficar em casa, usarmáscara e não se aglomerar e se contaminar, mas também de condições subjetivas e sobretudo de uma ​consciência do coletivo, da gravidade do problema, da necessidade de cuidar dos demais membros da classe, da identificação do fenômeno da pandemia como algo que existe dentro de determinadas relações sociais e que é produto delas — e não de uma força estranha e arrematadora da natureza — e que portanto é controlável pela ação humana, do papel de agentes históricos concretos, como o Estado e a classe dominante, na manutenção dessa calamidade; uma consciência da própria humanidade e da ​humanidade dos setores proletarizados e do exército industrial de reserva (‘população excedente’) em uma realidade nacional onde a reprodução necessariamente racializada e dependente do capitalismo naturaliza e normaliza ​cotidianamente a morte da maior parte de sua população [14]…

Enfim, o ​requisito concreto para que a classe trabalhadora, os camponeses e a pequeno-burguesia brasileiros ​adotem, de forma generalizada, resoluta e rígida tais medidas e valores que lhe estão sendo cinicamente recomendadas pela esquerda é, além de socialização do conhecimento científico mais básico sobre vírus e doenças, estabilidade econômica e uma ação coordenada do Estado ​— tudo o que não existe em um paísdependente e subdesenvolvido onde as grandes massas estão jogadas à própria sorte —, sobretudo uma ​consciência própria, afastada da ideologia burguesa e dos delírios da extrema-direita que dia sim e dia também pintam a pandemia como um fenômeno ou inexistente e não-sério ou natural, inevitável e independente da ação humana; ​em últimainstância, a adoção desses valores e comportamentos por parte do povo pressupõe uma compreensão marxista, proletária de mundo que revele a essência do capitalismo dependente brasileiro, sua transitoriedade e a possibilidade e urgente necessidade históricas de superá-lo através da ação humana, coletiva, das classes populares​;enfim, uma​consciência e solidariedade de classe ​que só podem ser construídas na organização e na confrontação diretacom a ordem. Seria preciso, além dessa consciência e para mantê-la viva, de um processo de mobilização de massas, de um ascenso organizativo e de uma agitação e uma propaganda que, juntos, façam os trabalhadores acreditarem na possibilidade de superar a pandemia com sua própria ação.

Afinal, ninguém está disposto a fazer eternamente algo para ajudar no enfraquecimento de um problema se se sabe que este algo não é o suficiente para resolvê-lo, ninguém confia na benevolência do governo atual em simplesmente resolver a situação sozinho e nenhuma consciência de classe generalizada e massiva sobrevive por muito tempo sem ver ​frutos. Difícil, não? Tão difícil que nem a esquerda moralista segue seus próprios valores, suas recomendações de ação. O discurso hipócrita sobre não se aglomerar, não sair, usar máscara etc. permanece, mas não pode se adequar com a realidade vivida dos enunciadores justamente porque manter um tal comportamento por muito tempo requer, para além da vontade, substrato histórico [15].

Nada disso é novidade, claro, Marx e Engels lançaram mão inúmeras vezes de argumentos semelhantes contra o moralismo que diziam ser completamente incompatível com o materialismo histórico [16]. O moralismo é sempre uma determinação de como o indivíduo deve se portar independente das condições em que vive; o materialismo histórico é sobre partir das condições vividas​, da realidade humanamente produzida. Nenhuma recomendação moral que se destine a ​todos sem distinção — abstraindo de todos os antagonismos reais, de todas as desigualdades reais, de todas as diferentes condições de vida que formatam diferentes consciências e subjetividades e produzem ou condicionam esses comportamentos que consideramos moralmente reprováveis — pode funcionar. Se quisermos extingui-los de verdade, nenhuma palavra bastará, nem ações pontuais. A mera ​consideração dessa tática, por parte da esquerda brasileira, em um país tão gritantemente desigual como o ​Brasil, revela a gravidade de seu fracasso histórico e desespero.

A construção de um fracasso em longa duração

No pós-ditadura empresarial-militar, se constituiu na esquerda um novo campo político, aglutinado ao redor do que ficou conhecido como a “estratégia democrático-popular​”. Tal estratégia revisava os últimos desenvolvimentos da luta de classes no Brasil, fazia um balanço histórico negativo do movimento comunista brasileiro, centrado no PCB, delineava uma certa leitura da formação social brasileira e, a partir desses aspectos, pretendia superar a antes hegemônica estratégia nacional-popular ou nacional-democrática, desenvolvida pelo Partidão e seus intelectuais desde de o início de sua atuação efetiva entre as massas proletárias e camponesas. A antiga estratégia se fundamentava sobre uma análise equivocada da formação social brasileira, compreendendo-a como tendo traços arcaicos, pré-capitalistas e relações de produção de tipo não-capitalista como predominantes; enxergando o domínio sufocante do imperialismo como um atravancador do desenvolvimento capitalista no Brasil. Daí decorria a necessidade de uma revolução nacional, democrático-burguesa, em aliança com a burguesia “nacional”, e o esgotamento de tal estratégia já estava claro mesmo antes do golpe de 1964. A estratégia democrático-popular, no entanto, ao mesmo tempo que nega a necessidade de uma aliança com a burguesia e não considera o Brasil uma formação social recheada de traços arcaicos incompatíveis com o capitalismo, enxerga “tarefas democráticas” a ainda serem realizadas pelas classes populares ​antes de uma revolução propriamente socialista. Em suma, crê não só na possibilidade, mas na ​necessidade de ​democratizar a autocracia burguesa que necessariamente surge como​forma política do capitalismo dependente brasileiro​, sem se propor de pronto a​superá-lo​. Mauro Iasi afirma que o programa democrático-popular ​foi efetivado durante os governos petistas [17]. A questão é que a democratização da autocracia burguesa de um lado só lhe deu fôlego para continuar, de outro é pouco, pouco demais. E por fim, não resiste por muito tempo.

A concretização da estratégia democrática-popular se deu às custas de muito, muito do qual não é possível esgotar aqui, mas que já fora abordado por diversos camaradas. Centralizemos, então, a imiseração teórica profunda, o abandono prático do marxismo, o oportunismo sem precedentes, a política eleitoreira da mais baixa qualidade, o apassivamento dos trabalhadores e de seus instrumento de luta, a burocratização das centrais sindicais, da UNE, do próprio PT/PCdoB e de vários mecanismos de mobilização, a própria negação da mobilização popular como ferramenta de combate e a consequente conciliação com a burguesia, o Estado burguês e seus representantes que decorreu disso e ao mesmo tempo o provocou. Por fim, a explícita e nada envergonhada gestão do neoliberalismo [18].

Mas a gestão petista do capitalismo dependente e neoliberal brasileiro não poderia durar tanto, frágil como era, completamente afastada das massas populares e indisposta a conclamá-las — duas condições imprescindíveis de seu poder e da realização de sua estratégia —, amarrada a um pacto de classe alicerçado sobre um crescimento econômico via venda de produtos primários, financeirização intensa, tímido desenvolvimento local etc. O programa democrático-popular (PDP) foi expulso do governo sem grande alvoroço, e ao golpe de 2016 se seguiu uma brutal, sanguinária e acelerada política de desmonte de todos os direitos e garantias restantes aos trabalhadores e aprofundamento da dependência poucas vezes visto. O PDP, embora dotado de importantes instrumentos de mobilização e entidades massificadas, já estava — e ainda está — há eras distante da grande maioria de trabalhadores desorganizados e não fez nada para conquistá-los, nem durante nem após o governo. Diante do bolsonarismo, cresce momentaneamente, sobretudo apoiado na fraqueza da oposição ultraliberal e da chamada “esquerda radical” (a qual abocanha grande parte e põe mais outra sobre sua influência). Mas sua fraqueza popular, seu comportamento eleitoreiro, seu cretinismo parlamentar, sua moderação indigesta, seus compromissos com a ordem e os partidos da ordem, para nem falar do capital; tudo isso lhe dificulta a vida, impede que se torne um partido realmente capaz de aglutinar poder de influência mediante o bolsonarismo.

Diante dele, se alia com Maia e a direita apaixonadamente, e dessa forma se destrói como alternativa ​popular​. Como alternativa burguesa, com certeza a classe dominante lhes dispensa, há gestores melhores. A verdade é que o campo democrático-popular é forte, suas ilusões ainda se fazem sentir por todos os lados na esquerda, nas organizações populares, nas entidades da classe trabalhadora. Porém é ​fraca​,pois sua força só lhe serve para a realização de seu programa, a saber, para se eleger aos quadros do Estado burguês; seu poder de mobilização nunca é utilizado e cada vez mais se diminui; e a burguesia lhe enxerga como um inimigo tosco, porque vê nos seus blefes apenas ameaças vazias, nunca concretizadas. Os capitalistas sabem que podem detê-los facilmente recorrendo à ordem burguesa, e sabem que eles nunca estarão dispostos a romper, mesmo que minimamente, com a obediência e o louvor a esta ordem. Mesmo com significativa inserção popular, o PDP tem capacidade ​reduzida de influenciar o cenário político real e afunda sua força com a sua própria mediocridade. Os lulistas sempre foram moralistas, é fato [19], mas agora pouco lhes sobra senão o alento moral: não estão no governo, têm baixa capacidade de intervenção política concreta dentro dos limites da própria estratégia e da conciliação com a burguesia e se ressentem do povo, diante dos últimos eventos, como as eleições de 2018 e 2020. Seu moralismo é produto desse quadro histórico, além de uma decorrência da operacionalização de longo prazo de sua estratégia.

Já a esquerda ‘radical’, especialmente a revolucionária, nunca teve força eleitoral pós-64, salvo situações específicas. Sua força de intervenção na realidade concreta dos trabalhadores, no alívio de seus problemas mais imediatos, é limitada ao trabalho de massas e de base; à atuação junto aos sindicatos, comunidades, entidades estudantis, ocupações, associações de bairro, conselhos, movimentos sociais e populares, coletivos culturais etc., à agitação e propaganda em todos os meios, e à mobilização popular. Ela depende inteiramente desses mecanismos. É fato que a ascensão e queda do PDP destruiu grande parte de seu apelo frente ao povo e limitou sua influência nas organizações populares e movimentos espontâneos de trabalhadores, sobretudo após 2013. Mas também temos que nos questionar porque tal esquerda ‘radical’ também fracassou em fazer frente ao PDP, tanto antes como agora, porque ainda não se coloca como alternativa para os trabalhadores.

É uma resposta muito, muito densa. Envolve problemas organizativos, teóricos, estratégicos e táticos, de condução da agitação e propaganda, de atividade financeira, além de certas condições históricas. A maior parte da esquerda ‘radical’ é composta por organizações trotskistas e/ou abertamente reformistas, há algo de anarquista e autonomista, coletivos isolados, movimentos populares mais à esquerda, o restante do PSOL, o PCR e todas as suas frentes, e o complexo partidário do PCB. Essa esquerda fora inteiramente construída, com poucas exceções (sendo o PCB uma delas), com base nas teses, análises e balanços históricos que fundamentaram a fundação do PT, embora cada organização discorde com intensidade diferente e a seu modo da política atual do partido, ou da condução do governo por parte do PT. Esse “espírito do marxismo brasileiro” nas décadas logo após a queda da ditadura mesclava fortes ilusões democratistas/ formal-institucionalistas com forte incidência do eurocomunismo, do pós-estruturalismo e da derrota do Bloco Socialista, com a negação da centralidade da questão militar, a demonização do centralismo democrático, e décadas de enfraquecimento do marxismo e da luta de classes proletária.

Grande parte da esquerda ‘radical’ de hoje nunca chegou a abandonar oficialmente estratégia democrático-popular, mas saíra do campo político do PDP pois acreditava que ele havia traído tal estratégia. Além disso, a maior parte dos erros da estratégia anterior (nacional-popular) persistem na esquerda ‘radical’, de certa forma, até piorados. E as “soluções” a esses erros se revelaram armadilhas, não soluções. A resposta ao nacionalismo transclassista e com traços identitaristas da estratégia nacional-popular, para ficar só em um exemplo, foi uma alergia à quase todas as pautas de soberania nacional, a renúncia à crítica do colonialismo cultural e à valorização da cultura popular que decorre dessa crítica, e uma secundarização do anti-imperialismo: um caminho que produziu perigosíssimos resultados.

De toda forma, o que acontece é que os antigos erros da estratégia nacional-popular e os novos erros da estratégia democrático-popular se apoiam um no outro na esquerda ‘radical’ de hoje, com a adição de mais uma série de outros problemas e erros que, além de ruins em si próprios, dão força a erros anteriores. O que me parece central em termos ​políticos é a manutenção do etapismo ou de uma ​estratégia democrática como horizonte, mesmo sem o admitir abertamente, já que, na prática, a tática sempre adotada de abrir mão de ​toda independência de classe e da​conquista futura em nome de uma democracia abstrata, departicipar da frente ampla democrática contra o fascismo independente de ​qualquer conteúdo que ela vá assumir e sem a intenção de fazer com o que proletariado a dirija ou de ​disputá-la realmente para que consiga alcançar seu objetivo: essa tática é completamente ​incompatível com uma estratégia socialista, revolucionária.

No fundo, o objetivo primordial é novamente a democratização da autocracia burguesa​, e tudo vale a pena para alcançá-lo, até mesmosacrificar a revolução proletária. Não se trata de lutar pelos direitos democráticos da classe trabalhadora e defendê-los: se esse fosse o objetivo, como seria possível fazê-lo renunciando independência de classe, à mobilização, à combatividade, à confrontação com a burguesia e o Estado, à agitação e propaganda radical? A burguesia só reconhece os direitos democráticos dos trabalhadores enquanto sua ordem não é realmente ameaçada por esses direitos, ou quando a força da luta organizada dos trabalhadores os ​impõem. Se a luta por democracia em abstrato abre mão, um a um, dos meios que o proletariado dispõe para impor seus direitos democráticos e aceita até mesmo a restrição dos direitos democráticos dos trabalhadores ou o silenciamento frente a esta restrição como condição para “manter” a aliança, ela não é uma luta por direitos democráticos, mas pela manutenção ou desenvolvimento da legalidade burguesa [20].

A revolução proletária não é sua prioridade, mas sim ​o avanço dentro do capitalismo​, no nosso caso dentro do capitalismo​dependente​, onde não se pode ir muitolonge. Creio que tal erro político explica ao menos um pouco da situação da esquerda ‘radical’ hoje, parte de sua fraqueza política, numérica e peso de massas; seus vícios localistas e sua incapacidade de atuação centralizada, nacional. É pequena, restrita e com pouca inserção proletária. Nos últimos anos, fracassara em quase todos os seus grandes projetos (como eleições municipais e federais, resistências a corte de direitos e campanhas por variadas pautas), teve um crescimento irregular e insatisfatório para o acirramento da conjuntura que presenciamos. Seu poder de intervenção na realidade brasileira é baixo, seu distanciamento histórico das grandes lutas radicais da classe trabalhadora brasileira e mundial a tornam fonte fácil para o derrotismo, o niilismo, a ideologia burguesa… ou o ​moralismo​. Neste último, encontra um refúgio mental muito perigoso: ele conforta sua consciência e a impede de repensar tudo o que está fazendo, de examinar sistematicamente seu desenvolvimento passado, teorizar sobre a realidade brasileira e compreendê-la profundamente, formular sínteses e corrigir a sua teoria e prática para ter maior capacidade de intervenção política no Brasil contemporâneo. Esse caminho, porém, só pode conduzi-la a mais derrotas e, eventualmente, à autodestruição.

Em relação à pandemia, tais erros políticos, organizativos, táticos e estratégicos da esquerda em geral, tanto liberal quanto ‘radical’, também entram na conta no sentido de ajudar a produzir a desolação que vivemos agora. Sabemos como a política do campo democrático-popular fortaleceu o bolsonarismo [20], ao compactuar, em nome da democracia e da conciliação de classes, com todo tipo de reacionarismo e punitivismo, ao aplicar a austeridade neoliberal, ao fazer vista grossa ao imperialismo, ao aprofundar a dependência — poderíamos escrever páginas sobre isso (indico textos de outros camaradas nas notas). Já, para os socialistas — os revolucionários, principalmente —, embora os erros não tenham sido tão fatais, eles no entanto nos atrasaram em décadas e permitiram a continuação da barbárie e do sangue desnecessário a escorrer, perpetuaram o sofrimento de nosso povo, nos conduziram a uma situação tão extrema como a qual nós vivemos (são 200 mil mortos!). Sem admitir a derrota e diagnosticá-la, nos veremos de volta nessa situação: apelando a uma inexistente consciência solidária dos trabalhadores porque somos completamente incapazes de ajudá-los a efetivamente transformarem-se e a toda a vida ao seu redor.

Superando o politicismo reacionário e o democratismo ingênuo

De todos os motivos para ​não recorrer ao moralismo nesse momento, o principal é que se trata de uma tática nada ​estratégica​.Para além de ineficaz, do ponto de vista de produzir os resultados que almejamos, ele ​fortalece a ideologia burguesa, mistifica a realidade, afasta uma compreensão de ​totalidade da situação que presenciamos e desresponsabiliza o capital da catástrofe que ele mesmo provocou. Todos os dias, a mídia burguesa recorre à responsabilização individual para blindar a burguesia de qualquer crítica no que diz respeito à condução da pandemia. Quando os veículos burgueses defenderam a reabertura de escolas e setores não-essenciais, quando não foram incisivos na exigência do isolamento social e da vacinação em massa — ou seja, quando a burguesia lhes pressionava a não ser —, sempre recorriam à falácia de que a solução para crise era mesmo o uso de máscaras, o cuidado pessoal e afins. O momento social-democrata da Rede Globo, onde parecia que o medo das massas lhe tirava o sono, logo foi substituído pelo terrorismo ultraliberal de sempre. Seus momentos, junto da ​Folha de S. Paulo​,de oposição espalhafatosa — meramente aparente e cínica — ao governo foram justamente quando Bolsonaro negava a necessidade da conduta individual ​no combate à pandemia — ou a pandemia como um todo — e não diante da ausência de medidas nacionais efetivas, da destruição nunca antes tão acelerada da saúde pública, de sua subserviência à doutrina geopolítica do imperialismo estadunidense mesmo no quesito vacinação etc. Está claro, portanto, que se o nosso interesse enquanto esquerda é demonstrar a determinação ​social das mortes e da pandemia, sua conexão com o modo de produção capitalista, o papel do Estado e seus operadores e da classe dominante na produção e gestão do extermínio, ​qualquer menção à centralidade da conduta individual isolada e da rigidez moral para combater a pandemia — o que é muito diferente da organização popular e comunitária para resolver problemas decorrentes da crise e da pandemia, que tem outro papel e sentido, completamente distintos — não faz qualquer sentido, e é contraproducente. Por que, então, se mantém?

Como expus anteriormente, apenas as enormes debilidades da esquerda no último período explicam tal “tática”. Mas tais debilidades também se conectam, obviamente, com uma disputa classista de fundo, que permanece oculta para os espectadores desavisados, delineada de leve no tópico anterior. O moralismo esconde o papel da burguesia interna, do imperialismo e do Estado burguês na barbárie, sabemos, além de também fazer desaparecer os próprios equívocos da esquerda no último período que contribuíram para a criação do cenário que vivenciamos. Aqui, porém, percebemos de sobressalto algo fundamental: o fato de que o grosso da esquerda brasileira, por mais pressionada que seja, só consegue oferecer mediante a gigantesca crise que enfrentamos a) a crítica ao próprio ​povo​, e então pregar retidão moral; ou b) a crítica ao ​governo​, sem nunca desvelar os interesses de classe que o mantém de pé; tem por base ​a negação constante e resoluta a qualquer enfrentamento de classe com a burguesia.

O governo aparece como ente autônomo, guiado por interesses próprios. Bolsonaro e sua equipe de ministros e apoiadores aparecem como loucos desvairados que tomaram de assalto a máquina pública e permanecem por lá por pura apatia da sociedade brasileira. São fenômenos ​excepcionais no capitalismo dependente, não ​fruto de seu ​máximo desenvolvimento. Esse ​politicismo gritante​, nunca disposto a esclarecer o pacto de classe que sustenta Bolsonaro-Mourão-Guedes e a denunciar a burguesia como principal responsável pela morte e miséria de milhões de brasileiros, é apenas uma consequência ​necessária (embora também atue às vezes como causa) de uma ​ilusão que fundamenta uma ​tática​, que também leva a ​derrotas​. A ilusão é a da possibilidade de cooptar a burguesia e a pequeno-burguesia para uma luta democrática, em aliança com os setores populares, utilizando de ​seus próprios instrumentos​: louvando a institucionalidade burguesa e renunciando à crítica da própria burguesia e da ordem burguesa como um todo, portanto renunciando à toda luta proletária em favor da subsunção ao programa social-liberal burguês, ou, sendo muito otimista, ao democratismo, republicanismo ingênuo pequeno-burguês. A tática se chama ​Frente Popular​, quer seus proponentes admitam ou não — grande parte deles, fervorosamente anti-stalinistas, mas prontíssimos para adotar para si uma das piores heranças do stalinismo. Enfim, se limitar a culpar o governo e o Estado pela catástrofe é retornar ao institucionalismo, ao positivismo, ao politicismo. Nossa crítica perde toda a força: em vez de criticar o bolsonarismo por meio do materialismo histórico, nos reduzimos novamente ao ​moralismo​, tentando encontrar no governo traços próprios e autônomos de psicopatia, maldade ou ódio do povo, perdendo de vista a base material, sócio-histórica de suas ações. No máximo chegamos perto de um foucaultianismo miserável, o que é dizer: moralismo anti-moral “refinado” [22]. A tentativa de opor uma burguesia que apoia o governo e outra que não, e então se limitar a responsabilizar a primeira pelo estado da pandemia no Brasil, e manter a outra impune esperando que esta se alie a uma frente democrática por meio do “diálogo” e eternas concessões, e não da pressão e confronto, é uma repetição variada do mesmo método. A essência da tática da Frente Popular (FP), ou qualquer nome que se queira atribuí-la, não é a amplitude numérica nem a coalizão, mas a aceitação por princípio da aliança com a pequeno-burguesia e, posteriormente, com setores daburguesia, sem ​qualquer exigência anterior​: o proletariado, ao compor a aliança, já o faz preparado ​para ceder qualquer aspecto ou o todo de sua estratégia e de seus instrumentos deluta em nome da sacralidade da aliança, ao invés de ​tentar forçar as demais classes a se aglutinarem ao seu redor [23]. Com isso se vão todas as melhores armas de mobilização, agitação e organização — as únicas capazes de gerar a pressão necessária para jogar a pequeno-burguesia (em ​certos casos, mesmo a burguesia) na luta contra o fascismo —, não em nome da manutenção dos ​direitos democráticos da classe trabalhadora [24] — mas em nome da democracia burguesa, da ​forma jurídica​,do modelo abstrato. ​A Frente Popular é a forma mais acabada de taticismo​. O resultado dela só pode ser a derrota, tanto no seuobjetivo imediato, ao menos o objetivo pronunciado (derrotar o fascismo, salvar a democracia para os trabalhadores, engajar as outras classes nessa luta) quanto no objetivo geral da revolução proletária. A FP só é compatível com uma estratégia ​democrática​. A esquerda ‘radical’ está presa nela, não por simpatia ao stalinismo e à certo momento da IC (Internacional Comunista), mas porque compartilha com essa tática ideias reformistas, taticistas, praticistas, dogmáticas e ​liberais​, e sua fragilidade teórica, política, organizativa etc., além das condições em que foi formada e em que atua, a conduzem facilmente à dissolução dentro da política pequeno-burguesa e burguesa, a ser guiada pelos interesses de tais classes na luta política. A dificuldade em abandonar a FP como tática se relaciona diretamente a esses fatores, que abordei acima discutindo a influência da estratégia democrático-popular junto de outros.

Sobre as tarefas dos comunistas brasileiros

Portanto, encontramos por trás do moralismo da esquerda brasileira, sua fraqueza, debilidade, sua indisposição em realizar um exame realmente crítico de sua práxis passada e presente. Também encontramos o taticismo e a conciliação de classes, o liberalismo e o reformismo, a Frente Popular e a perspectiva pequeno-burguesa. As derrotas anteriores são fruto de erros não superados do passado, ambos enfraquecem a esquerda e fomentam erros e derrotas futuros, novos, todos eles acontecem no terreno da luta de classes e do desenvolvimento capitalista brasileiro. Interesses de classe impedem a efetivação de uma mudança na teoria e na prática, reproduzindo erros e mais derrotas; que por sua vez enfraquecem perspectivas revolucionárias e favorecem o moralismo, o derrotismo, o reformismo, e assim vai. Não se trata de um círculo sem fim, obviamente, porque ​há alternativa​: o direcionamento para a luta proletária revolucionária, firmemente calcada no marxismo e no ​leninismo​,armada de uma compreensão completa da realidade brasileira, de sua formação econômico-social [25], de olhos presos ao objetivo final e preparada em termos teóricos e organizativos para as futuras lutas. Escrever é mais fácil que fazer, evidentemente. Existe uma série de outros problemas que também dificultam a irradiação do leninismo crítico aos trabalhadores brasileiros e a manutenção da estratégia socialista. Mas aqui, basta assumir que, continuando tudo como está ou no mesmo ritmo, o resultado será a decadência cada vez mais generalizada da política de esquerda para todo tipo de ação prática, argumentação, agitação e propaganda ​estranhos ao materialismo histórico. O crescimento do moralismo é um dos exemplos mais perigosos e evidentes.

Alguns apontamentos fundamentais para o próximo período de lutas, no que diz respeito às tarefas dos comunistas brasileiros, com base no que discutimos, entretanto, podem ser feitos de antemão. Nossa primeira missão deve ser, primeiramente, cessar o discurso moralista, a denúncia vazia, a arrogância que vem de cima. É completamente irrelevante para nossa agitação e propaganda cotidiana o que os trabalhadores fazem ou deixam de fazer individualmente no combate ao covid-19, a não ser que seja para utilizar demandas por proteção localizada, isolamento, distribuição de máscaras etc. como meio para solidariedade de classe e organização política. Não importa se o motivo do descuido é trabalho ou recreativo, a pressão constitutiva que o capital e a sociabilidade burguesa exercem, especialmente no período em que vivemos e na realidade brasileira, não se limita à esfera do trabalho, nem mesmo às condições socioeconômicas; e sim sobre a totalidade das relações sociais, sobre a formação da subjetividade e da vida. Também não devemos nos surpreender ou chocar-nos com o fato de que a pequeno-burguesia está constantemente participando de aglomerações e afins. É a pequeno-burguesia agindo como age fora de qualquer politização e direção proletária, e ainda impulsionada pelas condições materiais. Se ela adota o moralismo contra os trabalhadores enquanto não o pratica, trata-se de típica hipocrisia, mas nada além disso. Também devemos superar o vício de atribuir culpa a tudo e a todos, a pessoas individuais específicas de classes oprimidas que não tem qualquer controle sobre a resposta nacional à crise. Em vez disso, devemos buscar ​responsabilizar os sujeitos específicos que detém o poder real nesta sociedade e que poderiam, ao menos hipoteticamente, facilmente ter impedido a catástrofe, caso isso não ferisse de morte seus interesses de classe.

Nossa denúncia deve se centrar objetivamente à ​classe dominante [26], que obriga os trabalhadores a permanecerem no trabalho e em condições perigosíssimas no que diz respeito ao contágio; e que não está disposta a abrir mão de um centavo de sua reserva de mais-valor para resolver o problema ou mesmo fornecer mínimas condições materiais de sobrevivência para os trabalhadores, camponeses e os setores baixos da pequeno-burguesia durante a pandemia — pior, lucra com o extermínio. Devemos conectar diretamente a ação do Estado burguês, seu governo, seus representantes e sua burocracia aos interesses objetivos da classe dominante, deixando ​claro seu ​imenso papel no desenvolvimento e continuidade da política genocida de Bolsonaro-Mourão-Guedes. Devemos nos atentar ao papel econômico-social do genocídio, especialmente dos trabalhadores negros e dos povos indígenas e comunidades tradicionais, no que diz respeito à 1) ​expropriação direta de meios de produção e modos de vida, 2) oportunidade para ​eliminação de largos estratos de população excedente — “exército de reserva —, dispendiosos para o capital em termos dos recursos destinados à parte da reprodução social garantida pelo Estado (saúde pública, previdência, assistência etc.) e que poderia estar sendo destinados aos lucros dos capitalistas, e também perigosos em termos sociais e políticos para a manutenção da ordem burguesa; 3) ​oportunidade de rebaixamento geral ​das condições de vida dos trabalhadores (incluindo salários e direitos), já extremamente precarizadas, e portanto aumento dos lucros [27]; 4) ​enorme janela histórica para concentração e centralização de capital​,como toda crise, em que os capitais menores colapsam em números cada vez mais assustadores, mais membros da burguesia são proletarizados e os monopólios saem vitoriosos — sendo o Estado burguês brasileiro serviçal prioritário do grande capital, dos oligopólios e monopólios nacionais e internacionais [28]. Tudo isso, claro, sem contar o enrobustecimento do domínio político-militar da classe dominante sobre os explorados e oprimidos [29]. Nossa agitação e propaganda em combate a pandemia precisa ser unitariamente anticapitalista, antirracista, feminista e anti-imperialista, conectando toda miséria e sofrimento na direção da fonte ordenante das relações sociais, isto é, no capitalismo dependente.

Precisamos, aliás, explicar a situação ​particular do Brasil na pandemia, em relação aos países centrais do capitalismo e a alguns poucos países periféricos que estão em melhores situação no enfrentamento à crise sanitária, recorrendo prioritariamente ao caráter ​dependente de nossa economia e de nossa burguesia interna; e secundariamente, ao nível da luta de classes no país. A necessidade de expropriação constante, de rebaixamento das condições de vida dos trabalhadores, de precarização da reprodução social, de extermínio de um enorme contingente do exército de reserva, do enrobustecimento do domínio político-militar da autocracia burguesa, da subordinação aos ditames do imperialismo estadunidense, o estado da nossa saúde pública e das nossas condições sanitárias, o fortalecimento da violência racista e de gênero: tudo isso, entre outros fatores que poderiam ser citados, constitui pressuposto fundamental do regime de acumulação de capital que predomina no capitalismo dependente, baseado na ​superexploração do trabalho e na ​transferência de valor​, liderado por uma burguesia interna fraca, obrigada às suas condições de existência a extrair o máximo dos trabalhadores que estão sobre seu controle e, diante da reação a tamanha violência, se armar e se proteger por trás de um Estado terrorista fortemente autocrático; sustentado por monopólios internacionais que sugam grande parte dessa riqueza, portanto, plenamente interessados na manutenção da barbárie [30]. A situação de nossos irmãos latino-americanos — como os venezuelanos, bolivianos, argentinos etc. — que, mesmo diante de um capitalismo dependente não-superado e tão brutal ou mais que o nosso, estão encontrando seu caminho para fora da crise, só pode ser explicada por suas condições históricas, sociais e políticas específicas de desenvolvimento e, sobretudo, pelo estado da luta de classes em seus países, muito distinto da completa e irrestrita ofensiva burguesa com pouquíssima resistência proletária que vivenciamos atualmente no Brasil.

Partindo destes pressupostos teóricos e políticos comuns, devemos levantar demandas concretas que se conectem à conjuntura atual e às necessidades dos trabalhadores nesse momento, e avançá-las com um enfrentamento de classe ​aberto com a burguesia. Nossa luta contra o bolsonarismo, embora possa se beneficiar taticamente de ações conjuntas com outras classes e seus instrumentos políticos, não pode nunca abrir mãos dessas demandas, da perspectiva ​proletária — e portanto do ​confronto de classe —, e de nossa própria organização e a agitação — enfim, da independência de classe — para se perder em Frentes Populares de novos nomes. Devemos avançar teoricamente, nos submeter a um auto-exame, reafirmar nosso compromisso com o leninismo. Superar o politicismo reacionário, superar o moralismo, superar o idealismo.

Com vitórias e firmeza revolucionária, colocaremos mudança efetiva da realidade no lugar de auto-ajuda individualista disfarçada de política de esquerda.

NOTAS

[1] Associação Brasileira do Agronegócio.

[2] Nas discussões sobre estratégia e programa democrático-popular, me basearei ao longo do texto nas seguintes fontes (chequem!):

IASI, M.; FIGUEIREDO, I.; NEVES, V. ​A Estratégia Democrático Popular: um inventário crítico.Lutas Anticapital, 2019.

MARTINS et al. ​A estratégia democrático-popular e um inventário da esquerda revolucionária​. Marx e o Marxismo v.2, n.3, ago/dez 2014

https://revolushow.com/70-a-estategica-democratico-popular/

https://www.youtube.com/watch?v=e9pNd8iAyIY&ab_channel=Decifra-meEnquantoteDevoro

https://www.youtube.com/watch?v=dWqWy38QFB0&ab_channel=Decifra-meEnquantoteDevoro

https://www.youtube.com/watch?v=8BmH4gYfGPU&ab_channel=Decifra-meEnquantoteDevoro

[3] O moralismo sempre esteve presente na prática política de diversas organizações de esquerda, desde as assumidamente reformistas, oportunistas, até as que se reivindicam revolucionárias. Utilizo o termo refortalecimento porque, de fato, observamos no último período um aumento do moralismo na esquerda como um todo, em não apenas em setores específicos que, por suas perspectivas políticas e teóricas, já tendem naturalmente a esse caminho.

[4] Para evitar polêmicas, nesse caso deixo os exemplos à memória dos leitores.

[5] Diz o governador Rui Costa do PT: “Quem vai garantir que o percentual fique no patamar de 75% não é o prefeito ou o governador. É o conjunto da sociedade, a população usando máscaras, fazendo a higienização das mãos”. https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/07/07/com-shoppings-e-templos-religiosos-em-primeira-fase-rui-costa-e-acm-neto-divul gam-plano-de-flexibilizacao-das-atividades.ghtml

[6] Por exemplo, https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2020/05/20/flavio-dino-edita-decreto-com-regras-para-retomada-do-comercio-no-maranh ao-durante-pandemia.ghtml

[7] A capitulação completa se cristalizou no compromisso parlamentar com a direita firmado por PT, PCdoB, PDT e PSB, onde reduzem a pauta de esquerda a palavras abstratas e ‘contra o autoritarismo’ e sinalizam apoio completo às pautas de ajuste fiscal propostas por Bolsonaro-Guedes e apoiadas unanimemente pela direita. https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/12/28/oposicao-ameniza-discurso-contra-privatizacoes-em-carta-a-baleia-rossi.ghtml

[8] Sobre a relação entre enfraquecimento do enfrentamento proletário e o ascenso da concorrência, racismo etc.: https://traduagindo.wordpress.com/2020/12/22/para-alem-do-capitalismo-racial/

[9] REIS; SOARES; CAMPOS. ​Processo saúde-doença: concepções do movimento estudantil da área da saúde. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000200011

[10] ALBUQUERQUE; SOUZA E SILVA. ​Sobre a saúde, os determinantes da saúde e a determinação social da saúde​.Saúde Debate. Rio de Janeiro, v. 38, n. 103, p. 953-965, Out-Dez 2014.

[11] “A ironia da resposta anti-consumista ao capitalismo é que as soluções baseadas no consumo colocam os trabalhadores mais pobres e os desempregados como os mais leais proponentes do sistema; as “massas sujas” são tratadas como cúmplices das megacorporações porque não conseguem comprar bens locais, orgânicos e sustentáveis. Mas o que nunca parece ser “local” são as siderúrgicas, as minas de estanho, as fábricas onde os dispositivos são reunidos, as usinas processadoras de sílica. As vigas de aço que sustentam as lojas de alimentos naturais não são orgânicas. […] Uma das condições fundamentais da época capitalista é que trabalhadores, não possuindo nada além de sua força de trabalho para vender, também são forçados a viver do trabalho de outras pessoas trabalhando no sistema. Não são apenas os ricos que consomem produtos industrializados; estamos todos subsumidos à economia capitalista” (LEWIS, Holly. ​The Politics of Everbody: Feminism, Queer Theory and Marxism at the intersection​. Londres: Zed Book, 2016. pp. 9-12).

[12] O pós-estruturalismo é outro exemplo, e a teoria pós-estruturalista sobre gênero e sexualidade que centra a contestação local da ordem, da “normatividade” simbólica, discursiva/linguística como principal meio de subversão da opressão de gênero e da LGBTfobia circula abundantemente nas fileiras ‘marxistas’. Sobre isso: https://comunismotransviado.wordpress.com/2020/04/09/por-uma-analise-materialista-do-genero-1-o-que-isso-quer-dizer-afinal/ https://comunismotransviado.wordpress.com/2020/04/18/por-uma-analise-materialista-do-genero-2-com-quantas-identidades-se-tra nsforma-a-realidade/

[13] Uma introdução à determinação histórico-social de toda a consciência: ttps://traduagindo.wordpress.com/2020/12/25/desamparo-e-sociedade-capitalista/

[14] https://youtu.be/_kTXFAp8XUs​.

[15] Circula na internet grandes aglomerações recentes em espaços típicos da esquerda democrática, ou organizados por figuras dela, em capitais e outras cidades.

[16] MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. ​A ideologia alemã​. São Paulo: Boitempo, 2007.

MARX, Karl. ​A miséria da filosofia.

ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã​. https://www.marxists.org/portugues/marx/1886/mes/fim.htm

[17] A crise de uma estratégia https://medium.com/@Contrapoderbr/a-crise-de-uma-estrat%C3%A9gia-coluna-mauro-iasi-85f237807687

[18] https://pcb.org.br/portal2/7283/o-brasil-e-a-politica-do-neoliberalismo/

[19] Lembremos a aliança com o fundamentalismo religioso, o sempre paternalista discurso frente ao povo (Lula sozinho é a mudança, é o messias, é a salvação do Brasil), a disputa com a direita para ver quem é mais conservador nas eleições etc.

[20] Um exemplo recente: em nome da “democracia”, grande parte da esquerda achou que valia a pena apoiar Eduardo Paes à prefeitura do Rio, histórico agente da burguesia contra os direitos democráticos da classe trabalhadora. Entre outras coisas, apoiou a intervenção militar no Rio de Janeiro e a institucionalização da repressão militar na cidade (https://oglobo.globo.com/brasil/paes-defende-atuacao-das-forcas-armadas-apos-fim-da-intervencao-no-rio-23158086​) e foi responsável, além da política cotidiana de genocídio do povo, em especial a juventude negra, por inúmeras ações policiais ilegais e inúmeras remoções de trabalhadores (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/03/apos-remocoes-moradores-da-vila-autodromo-protestam-no-rio.html​, https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150323_rio2016_vila_autodromo_novas_remocoes_jp_rm ). Também sabemos de sua ligação com as milícias e o tráfico, mesmo que não pronunciada. Sobra alguma liberdade democrática sob ocupação militar-policial?

[21] Conferir o item 18.

[22] Tem ganhado força na esquerda explicações foucaultianas para a barbárie que vivemos, como o livro ​A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal de Dardot e Laval, onde o neoliberalismo é uma nova racionalidade, a “governamentalidade”da sociedade contemporânea, conjunto de ideias e práticas, técnicas de poder que buscam criar indivíduos-empresa focados na concorrência que arruínam a si mesmos. O Estado é o principal agente nessa “remodelação” da racionalidade social, as ‘elites’ e o movimento econômico são apenas figurantes. Logo após o Estado, o indivíduo. O final desta miserável formulação idealista e politicista é a proposição ​moral de ideais abstratos de “cooperação” e “solidariedade”, “retomar os bens comuns”. Diante da pandemia, a fórmula se repete, e quem está acostumado com o típico foucaultianismo de sempre não pode deixar de bocejar de tédio: https://blogdaboitempo.com.br/2020/03/26/dardot-e-laval-a-prova-politica-da-pandemia/

[23] Sobre a Frente Popular, além do ​Anti-Dimitrov​,de Francisco Martins Rodrigues:

https://lavrapalavra.com/2019/04/15/marx-engels-e-a-frente-popular/

https://www.jacobinmag.com/2017/10/popular-front-communist-party-democrats

[24] A fraqueza da ilusão democrática: um ensaio político não-sentimental https://blogdaboitempo.com.br/2019/07/17/a-fraqueza-da-ilusao-democratica-um-ensaio-politico-nao-sentimental/

[25] Além das elaboração clássicas da Teoria Marxista da Dependência, destaco o brilhante texto de Edmilson Costa, sempre atual: “O Brasil está maduro para o socialismo” https://lavrapalavra.com/2016/05/24/o-brasil-esta-maduro-para-o-socialismo/

[26] Alguns exemplos disso, entre inúmeros outros, podem ser encontrados no site do PCB (o partido, a juventude e os coletivos partidários tem sido muito bem-sucedidos, no geral, em conduzir sua agitação e propaganda exatamente neste sentido): https://pcb.org.br/portal2/26124/o-virus-como-janela-de-oportunidade/​, https://pcb.org.br/portal2/25929/fortuna-dos-bilionarios-cresce-na-pandemia/ https://monitormercantil.com.br/o-capital-o-governo-e-a-morte

[27] Para além do caso dos trabalhadores de aplicativo, um exemplo gritante da precarização do trabalho durante a pandemia é o caso dos professores, sobretudo de instituições privadas. https://pcb.org.br/portal2/25785/ead-e-os-professores-das-universidades-privadas

[28] Checar textos do item 26.

[29] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/07/letalidade-policial-bate-recorde-e-homicidios-durante-a-pandemia-em-sp.shtml

https://pcb.org.br/portal2/25911/sp-a-politica-de-exterminio-do-estado-burgues/

https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2020/09/03/no-de-pessoas-mortas-pela-policia-cresce-no-brasil-no-1o-semestre-e m-plena-pandemia-assassinatos-de-policiais-tambem-sobem.ghtml

[30] MARINI, Ruy Mauro. ​Dialética da dependência​.In: MARINI, Ruy Mauro; STEDILLE, João Pedro; TRAPODINI, Roberta. Ruy Mauro Marini: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

FERNANDES, Florestan. ​A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica​. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Gustavo Guimarães é graduando e pesquisador em Ciências Sociais (estuda principalmente gênero, sexualidade, marxismo e teoria marxista da dependência), militante da UJC (núcleo UFSCar) e do MUP.