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De pelos e depilações não se faz uma mulher
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De pelos e depilações não se faz uma mulher

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Por Larissa Leal – Militante da UJC em Goiás e da direção da APG/UFG (Associação dos Pós-Graduandos da UFG)

Para falar a verdade, tudo isso começou por causa de uma vulva peluda. Aquela que está circulando nas bancas de revista. Besteira, não? Depende. Se você considera que toda vagina deve ser peluda, pois esse é o natural, vai achar toda essa discussão uma grande besteira. Se você acha o contrário, que mulher tem mesmo é que depilar, vai achar ainda mais banal, afinal, a fórmula é simples: “Depila a tua vulva e serás gostosa”. Eu acho que não é tão simples assim.

Durante muito tempo eu usei a minha ao natural e não me incomodava com isso. Quer dizer, não tão ao natural assim, porque aparar já é uma interferência da cultura. Mas, enfim, o importante é que não depilava e não me sentia menos gostosa por isso. Me sentia menos gostosa por outras coisas, por estar 2 quilos acima do peso, por ter olheiras ou espinhas, tudo isso que faz qualquer ser humano normal menos bonito, e por isso mesmo tão normal quanto os outros.

Depois de muito tempo, e quase nenhuma reflexão a respeito, passei a depilar. Mas nunca com cera, porque achava – e agora tenho certeza – que nada vale essa dor. Traduzindo, hoje sou uma usuária de Veet assumida. O que isso mudou em mim? Quase nada. É claro que quando me depilo sinto-me mais gostosa, dá um tesão daqueles, uma vontade louca de chamar o bofe e dizer na mesma hora: “Me come!”. Só que todo esse sex appel dura, quando muito, 3 dias (e não leva embora as outras pequenas inseguranças de toda mulher). Logo depois volta tudo a crescer e eu já fico esperando dar o tempo para depilar de novo. Mas aí sempre tem 1 milhão de coisas mais importantes, e acabo deixando a depilação pro próximo fim de semana mesmo… Isso mudaria muito se eu depilasse com cera? Talvez ganhasse uma garantia maior, mas a preguiça de renovar seria a mesma. Quem sabe até mais intensa, considerando a dor. Mas não é disso que eu estou falando. Estou falando da necessidade real de se depilar essa coisa, por questão de higiene (nem vou entrar nesse mérito, afinal, se é assim, os homens não acham anti-higiênico o cu peludo deles. Vão depilar também?) ou de gostosice. E, pior, da real necessidade de estabelecer um padrão até para as nossas vaginas. Daqui a pouco, vão decidir inclusive o cheiro que ela deve exalar.

Outro dia, estava circulando na internet uma notícia sobre a crescente popularidade de cirurgias plásticas para a vagina. O novo desejo das mulheres é ter a sua igual à das atrizes de filme pornô. Cabe perguntar: desejo delas, de fato, ou simples necessidade de agradar aos homens?  – Sinto muito em dizer isso, mas o fato da sua vagina ser igual à de uma atriz pornô não vai fazer você ser igual a ela, nem vai fazer com que o seu namorado/marido/amante deixe de se masturbar por/para ela. Não tenho nada contra as vaginas das atrizes, pelo contrário, acho que são mesmo atraentes, mas será que a minha também não é? Será que a minha também não pode ser? Alguém já reclamou da sua vagina?

– Divagação construtiva: Lembro de que uma vez, quando era criança, fui tomar banho com uma coleguinha e achei a dela diferente da minha e, claro, a minha mais feia. Perguntei à minha mãe se tinha razão para aquilo, ao que ela sabiamente respondeu: “A razão eu não sei, mas é assim mesmo, isso não muda nada. Tudo que a sua faz a dela faz também, e isso não te torna nem mais nem menos especial”. Nunca mais pensei no assunto. Até o dia em que decidi me depilar. 

Não sei se foi a decisão errada, afinal, hoje não me faltam incômodos, alergia, pelo encravado… mas manter os pelinhos também não era tão tranquilo, na época da menstruação principalmente. Não sejamos hipócritas, tudo tem prós e contras, mas, nesse caso, só o que de fato interessa é que quem deve decidir para que lado a balança vai pesar é apenas a mulher, a parte realmente interessada. Se for o caso, junto com o companheiro. O meu, pelo menos, não se importa com a minha preguiça em deixar sempre tudo lisinho, e sentir os pelinhos crescendo já faz parte dos nossos carinhos, assim como me excita ir descendo pelos dele… Mas, desse jeito, daqui a pouco isso se torna um conto erótico, e não é isso que queremos.  

A questão, afinal, não é se nós, mulheres, devemos simplesmente permanecer em estado de natureza ou modificarmos o nosso corpo de modo a cumprir com as exigências da cultura. Não são simples alternativas. Independentemente do sexo, há uma natureza a se respeitar e também a se aprimorar, conforme a necessidade e o desejo de cada um, desejo esse que não deve ser uma exigência externa. E como não quero falar o óbvio, fico por aqui. Eu sei que vocês sabem do que estou falando, e sei que isso também não é fácil. Depilada ou não, a vida, com suas alegrias e decepções, continua a mesma. 

– Foto retirada da internet e que foi capa da Playboy na edição de agosto, causando grande polêmica sobre a forma de depilação da atriz Nanda Costa.

Fonte: http://divagacaopolitica.blogspot.com.br/2013/08/de-pelos-e-depilacoes-nao-se-faz-uma.html