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As eleições de DCE e os rumos do Movimento Estudantil da UFPI

As eleições de DCE e os rumos do Movimento Estudantil da UFPI

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A UJC, Núcleo UFPI, vem a público manifestar sua avaliação das eleições para o Diretório Central dos Estudantes da UFPI (DCE/UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela.

Após sucessivos adiamentos das eleições do DCE por parte da antiga gestão — que justificava a decisão com base na Greve Docente Federal, articulada pelo ANDES/SN —, o último Conselho de Entidades de Base (CEB) deliberou pela abertura do processo eleitoral para janeiro de 2025.

Na ocasião, avaliamos internamente que essa decisão comprometeria o aprofundamento do debate com os estudantes. Dificultando a real inserção no processo de reflexão acerca das propostas apresentadas pelas chapas inscritas. Outra preocupação foi o desalinhamento com o calendário da UFPI, no final do período letivo, impactando negativamente o engajamento estudantil, já que muitos cursos estariam passando por avaliações finais. Em termos gerais, havia o risco de esvaziamento do ambiente universitário, à medida que os discentes concluíssem a atividades acadêmicas.

De forma concreta, a deliberação aprovada no CEB não se efetivou. A Comissão Eleitoral eleita optou por adiar as eleições de DCE para o mês de março. Conforme fora proposto ainda em CEB, mas sem adesão pela maioria dos Centros Acadêmicos (CAs) —, com o objetivo de sanar os problemas anteriormente apontados. Dessa forma, com o retorno das atividades e a recepção dos calouros, também iniciou-se um dos processos mais decisivos para o Movimento Estudantil na UFPI.

Como participamos das eleições de DCE

Viemos, através desta nota, esclarecer alguns pontos para a comunidade ufpiana que, nos últimos anos, acompanha o trabalho da UJC desde sua reconstrução em 2016. O primeiro diz respeito à nossa ausência nos debates em torno das eleições. Em reunião com o núcleo UFPI, discutimos três posições que poderíamos tomar diante do processo eleitoral de DCE:

  1. Nossa inserção compondo uma chapa conjunta com movimentos alinhados à esquerda radical;
  2. A não-inserção no processo eleitoral para focalizarmos nossos esforços na qualificação política dos nossos militantes;
  3. A criação de uma chapa da UJC, de forma independente. Em que levaríamos a cabo a luta pela defesa da Universidade Popular e por um DCE autônomo em relação aos governos, combativo e alinhado com as pautas da classe trabalhadora.

Optamos pela não-inserção no processo eleitoral, buscando somente avaliar como as eleições de DCE se sucederiam nessa nova conjuntura. O apoio a alguma chapa, naquele momento, dependeria das correlações de forças que iriam ainda se delinear. No entanto, posteriormente, optamos pelo não-apoio.

Não discutiremos nessa nota todos os detalhes e contradições presentes no programa e atuação das três chapas inscritas. Mas buscaremos fazer uma síntese do saldo político do processo para os rumos do ME.

Como são as eleições de DCE?

É fato que, historicamente, as eleições de entidades do movimento estudantil são processos conturbados, marcados por diálogos intensos, conflitos e táticas que, por vezes, entram em contradição com o programa político das organizações que se colocam como vanguarda na luta contra os avanços da direita e seus projetos na Universidade.

Assistimos, por exemplo, à reprodução de uma dessas táticas turvas por parte das três chapas homologadas: o uso dos estudantes como massa de manobra para coleta de dados e preenchimento das chapas. Muitas vezes sem que esses estudantes soubessem, de fato, no que estavam se inserindo — alguns sequer sabiam para que fins seus dados seriam utilizados. Tal prática se apoia na lógica de que quantidade representa força. Inclusive, uma das chapas utilizou como campanha o fato de ser “a maior chapa das eleições do DCE”.

A vitória da “Oposição”

De todo modo, vimos a vitória de uma chapa que se apresentou como a “Chapa de Oposição”. Contudo, embora se colocasse como alternativa, a chapa eleita é majoritariamente composta por setores ligados aos governos Federal e Estadual. Entretanto, seu programa político propõe, essencialmente, “mudanças reais”, em oposição a um suposto imobilismo das gestões anteriores.

Ignora-se, contudo, que — apesar das contradições e problemas que apontamos historicamente às gestões anteriores, como a falta de escuta aos CAs nos CEBs puxados às pressas — a gestão anterior protagonizou um esforço significativo de mobilização estudantil em momentos decisivos, como durante o governo Bolsonaro e diante dos frequentes ataques à educação promovidos já no governo Lula. Além dos avanços em relação a conquistas de políticas de assistência estudantil.

De modo geral, a nova gestão apresenta propostas de cunho imediatista e, muitas vezes, distantes da realidade. Como a promessa de ampliação do transporte universitário, sem considerar a necessidade de municipalização do serviço, ao mesmo tempo em que abandona a histórica luta pelo passe livre estudantil.

Além disso, é importante destacar que seu projeto político, assim como o de uma das chapas que trazia em seu discurso a ideia de “reconstrução” da UFPI, revela-se ineficaz. Porque esses mesmos setores já ocupam historicamente, de forma majoritária, entidades de representação estudantil, como a UNE e a UBES. Não se trata de uma nova alternativa, mas a continuidade de um modelo, que tem demonstrado seus limites na defesa dos interesses da base estudantil.

Precisamos de uma nova lógica no Movimento Estudantil

É urgente romper com esse ciclo. O que se pode esperar da nova direção do DCE/UFPI, infelizmente, tende a seguir o mesmo padrão das direções majoritárias nacionais: a naturalização do discurso reformista e liberal nas mobilizações estudantis, a instrumentalização dos CAs na participação de congressos nacionais como o CONUNE, a aproximação demasiada da reitoria e do governo federal, evitando o seu enfrentamento para garantir os direitos da juventude trabalhadora e a despolitização estudantil, sem dar aos discentes alternativas para construção de um pensamento orgânico, crítico e combativo.

A UJC denuncia a lógica que há décadas atravessa a UNE — e, agora, novamente o DCE da UFPI: em vez de construir um projeto de transformação radical da universidade, essas direções atuam como correias de transmissão dos governos e como gestoras da crise, às custas da base estudantil. Essa postura se torna ainda mais grave diante do corte de R$ 6,3 milhões no orçamento da UFPI aprovado na LOA de 2025, o que aprofunda o sucateamento da instituição e compromete diretamente as condições de permanência e formação dos estudantes.

Das eleições do DCE para o CONUNE

Com a chegada do 60º CONUNE, as forças que hoje compõem majoritariamente a direção do DCE/UFPI — as mesmas que ocupam as principais diretorias da UNE — buscarão se consolidar por meio de táticas que instrumentalizam os estudantes como massa de manobra, com o objetivo de acloparem-se ao governo em troca de cargos, editais e narrativas domesticadas. Para isso, renunciam a pautas estruturais e urgentes, como a revogação do Novo Ensino Médio, o fim do vestibular, a recomposição orçamentária das universidades e a ampliação das políticas de permanência estudantil.

Nosso horizonte é claro: a luta por uma Universidade Popular — gratuita, estatal, com acesso universal e com produção científica voltada às necessidades da classe trabalhadora. Defendemos a democratização radical da universidade, com conselhos populares. Defendemos a construção de um projeto de país que rompa com a dependência externa, a desigualdade estrutural e a lógica privatista da educação.

O 60º CONUNE deve marcar o fim do ciclo da paralisia institucional e o início de um novo ciclo de lutas. Que a UNE retome sua vocação histórica de combate, resistência e transformação.

Por uma Universidade Popular e pela reconstrução do movimento estudantil na luta de classes!

Por uma UNE independente, combativa e enraizada na juventude trabalhadora!

União da Juventude Comunista (UJC) — Núcleo UFPI
26 de abril de 2025