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Construir o 7 de setembro da classe trabalhadora, derrotar o golpismo nas ruas e construir a Greve Geral
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Construir o 7 de setembro da classe trabalhadora, derrotar o golpismo nas ruas e construir a Greve Geral

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Vivemos um período de grandes movimentos das classes sociais na conjuntura nacional e internacional. Nos últimos meses, vários países retomaram suas atividades normalmente, mas os trabalhadores já sofrem com os pacotes de austeridade, agora justificados pelos “gastos” com a pandemia.

No Brasil, já podemos fazer uma avaliação preliminar do ciclo de lutas que aconteceu entre os meses de maio e julho. A gravidade da pandemia do coronavírus em nosso país, amplificada pela política das classes dominantes de absoluto descaso e sabotagem com a vacina e condições sanitárias para os trabalhadores e a juventude, produziu um quadro de genocídio, com mais de 570 mil brasileiros mortos pela doença.

Desde o começo da pandemia, a degradação das condições de vida dos trabalhadores e da juventude, somada às ofensivas do governo de extrema-direita contra as liberdades democráticas fez crescer o sentimento de indignação das massas. A consciência da necessidade de lutar veio à tona como prática política nas manifestações impulsionadas pelo movimento negro e pelas torcidas antifascistas, ainda em 2020, seguidas pelo grande sucesso do 1º grande ato nacional Fora Bolsonaro, em 29 de maio deste ano.

Esse dia deu início a um calendário de lutas de mais três grandes manifestações e duas incorporações de calendários de lutas ligados ao setor estatal, contra a privatização dos Correios e contra a Reforma Administrativa. Além disso, testemunhamos nos últimos meses uma grande mobilização dos povos indígenas que já conseguiram organizar dois grandes dias de luta em Brasília, além de terem mantido um acampamento desde 22 de agosto que já conta com mais de seis mil integrantes, para pressionar contra o Marco Temporal de demarcação de terras, um ataque frontal à autodeterminação indígena, impulsionado por setores do agronegócio e do extrativismo que desejam expandir a produção para exportação, se aproveitando da alta do dólar.

Os dias 29 de maio, 19 de junho, 3 de julho e 24 de julho foram demonstrações da potência existente na classe trabalhadora brasileira, com grande destaque para os setores da juventude, que têm se destacado e reivindicado condições de vida melhores, como a geração de empregos e a vacinação, que ainda não chegou na maior parte dos brasileiros em geral e da juventude em particular.

Apesar dessa potência, os ataques seguem à juventude. O movimento estudantil, de forma geral, que tem sido um dos principais motores do movimento social nos últimos anos, encontra-se ainda mais fragmentado do que antes, em função do impacto do ensino remoto na capacidade de mobilização efetiva dos estudantes. Desde a escola básica até a pós-gradução, vemos o esvaziamento de entidades por parte das dificuldades objetivas dos estudantes, mas também dificuldade subjetivas, fruto de problemas de saúde mental causados pelo isolamento e pelo ensino remoto em si.

Nesse cenário, diversos governos, desde o federal a prefeituras, têm organizado “planos de retomada” das aulas presenciais que não garantem qualquer segurança sanitária e não tem qualquer ligação com os planos de vacinação vigentes. O impacto dessas medidas não pode ser outro: teremos mais e mais estudantes infectados pelo coronavírus com a retomada das aulas. Devemos defender claramente que não é possível retomar as aulas, nem nas escolas nem nas universidades, sem um plano de investimentos em saúde e educação que acelere as vacinações e garanta estruturas sanitárias adequadas.

Entre os jovens trabalhadores, a situação é ainda pior. O desemprego avança de maneira aceleradíssima no país, colocando os trabalhadores recém-ingressos no mundo do trabalho sempre na possibilidade de demissões e de não conseguir seu próprio sustento e de suas famílias. Os setores da burguesia que conseguiram adaptar seus negócios ao trabalho remoto, como algumas empresas de telemarketing, inclusive economizaram com gastos de equipamento e infraestrutura ao manterem seus trabalhadores em casa. Outros, como o varejo, pressionaram intensamente os governos e prefeituras pela abertura do acesso a lojas e shoppings, colocando seus lucros acima de qualquer segurança para trabalhadores que atendem centenas ou milhares de clientes por dia. Além disso, os setores do mercado informal e dos “trabalhadores por aplicativo” também mantiveram suas atividades durante toda a pandemia, sem sequer a possibilidade de adentrar planos de contenção de danos como a lei da redução de carga ou suspensão temporária.

Mas talvez nenhum ataque seja tão sério à classe trabalhadora, especialmente aos mais jovens, do que a Medida Provisória 1045, aprovada para se tornar lei na Câmara dos Deputados no dia 10 de agosto. Se tornada Lei, a MP 1045 de fato vai funcionar como uma nova reforma trabalhista, abrindo possibilidade de regimes de contratação com uma imensa redução dos direitos trabalhistas (como o não registro na CTPS, sem férias, sem 13º salário, redução ou anulação do FGTS). Junto à Contrarreforma Trabalhista do Governo Temer, será um golpe especialmente dado nos setores jovens – golpe que, inclusive, ajudará a mascarar o amplo desemprego, aumentando temporariamente a empregabilidade com baixíssimas condições de trabalho e precarização total. A pauta segue para o Senado, mas não será derrubada sem um amplo movimento de massas de repúdio a esse ataque.

Nessa conjuntura tão adversa, temos grandes tarefas junto ao movimento de massas. Em primeiro lugar, é preciso recolocar as entidades estudantis a serviço da luta contra a retomada de aulas presenciais antes que a pandemia esteja superada e politizar o debate acerca da necessidade de reestruturação das entidades e mobilização efetiva dos estudantes como eixo central de trabalho. Não podemos nos contentar com apresentar ao governo pedidos de reuniões ou audiências, ou ficar perseguindo performaticamente o Ministro da Educação em sua agenda pública. É preciso reconstruir o Movimento Estudantil combatendo a perspectiva burocrática e simbólica das atuais direções majoritárias. Não conseguiremos avançar plenamente para a construção de um projeto estratégico de educação, a Universidade Popular, se não houver uma base estudantil mobilizada e consciente, que será conquistada nas lutas defensivas que enfrentamos hoje.

Em segundo lugar, é preciso fortalecer as mobilizações e a discussão programática dos jovens trabalhadores, ainda apartados, em sua maioria, do conjunto do movimento sindical. Sabemos que, nas últimas décadas, a hegemonia reformista nesses aparelhos serviram para apassivar e desmobilizar nossa classe, assim como afastou os jovens trabalhadores de qualquer perspectiva de luta sindical. É preciso demonstrar que MP 1045, Carteira Verde e Amarela e outras invenções burguesas, operadas pelo governo Bolsonaro e Mourão, não são solução para nossa crise do desemprego – elas aprofundarão a crise na juventude trabalhadora. Da mesma maneira, afirmamos que a pauta central de revogação das contrarreformas (trabalhista, previdenciária, EC do Teto de Gastos) são centrais para barrar o estrangulamento do investimento público nos serviços mais essenciais aos trabalhadores brasileiros, como saúde e educação. A unificação do setor da juventude, estudantil ou trabalhador, com o movimento operário e sindical é a grande arma que teremos para rechaçar a falta de direcionamento político das principais direções sindicais, como demonstrado no último posicionamento do Fórum das Centrais, que nem sequer aponta a necessidade do impeachment de Bolsonaro.

A tarefa fundamental do momento é reverter o saldo do movimento de massas que tomou as ruas nos meses de maio, junho, julho e agosto em um grande trabalho junto às diversas categorias de trabalhadores e estudantes, na perspectiva da contrução da Greve Geral. Sem um dia de paralisação nacional que efetivamente coloque em contraposição toda a classe trabalhadora contra toda a classe burguesa em nosso país, nós não conquistaremos o salto de qualidade necessário para passar de nossa atual posição defensiva para uma posição ofensiva do movimento dos trabalhadores e da juventude.

O próximo passo nessa tarefa fundamental é a construção orgânica e massiva dos atos do dia 7 de setembro. As forças da extrema direita, apoiadas financeiramente por empresários e figuras políticas que os apoiam e seguem seu programa, têm se utilizado da data comemorativa da independência para criar um fato político que justifique, na opinião pública, os anseios golpistas da cúpula do Governo Bolsonaro-Mourão e atue como tática de diversionismo em relação ao programa econômico que unifica toda a burguesia nacional e internacional. Eles, inclusive, defendem hipocritamente a independência, mas apoiam-se no apoio imperialista estadunidense e europeu para desvalorizar nossa moeda e melhorar a pauta de agroexportações, principal afluxo de lucros para a classe dominante brasileira.

Nosso dever é NÃO SAIR DAS RUAS! A presença marcante e coesa do movimento de juventude nas manifestações do dia 7 de setembro serão a prova de fogo da capacidade de manter acesas as mobilizações populares, em uma conjuntura que os setores reformistas já têm deixado de lado nossa classe e apostado nas alianças com os representantes da burguesia. Sabemos que muitos setores da classe trabalhadora estão temerosos de resultados desastrosos desse dia 7, como a possibilidade de violência da extrema direita. Estendemos nossa mão em solidariedade a toda a juventude que está em dúvida se deve participar ou não dos atos, e dizemos claramente: estaremos tanto mais seguros quanto mais numerosos formos! Nossa única alternativa, frente ao bloco dominante, é a construção de fortes mobilizações, por um 7 de setembro da classe trabalhadora que derrote os anseios golpistas do bolsonarismo e da extrema direita e ajude a construir a confiança política e a mobilização da classe trabalhadora pela classe trabalhadora.

Coordenação Nacional da UJC