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Congresso da UNE em Goiânia – Da lama ao caos
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Congresso da UNE em Goiânia – Da lama ao caos

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Paulo Winicius*

“ Hoje o samba saiu procurando voce,

Quem te viu, quem te vê…”

Chico Buarque

Mais um Congresso da UNE – União Nacional dos Estudantes em Goiânia e pouco pôde ser aproveitado pelos estudantes das atividades na programação. Funcionando como moeda de troca na relação do PC do B com o governo federal, a direção da entidade fez de tudo para prestigiar o ex-presidente Lula, ministros de governo e funcionários de todos os escalões, afirmando-se como correia de transmissão das políticas governamentais junto aos estudantes.

O congresso bancado com muito dinheiro do governo do PT e também do Governo goiano do PSDB – que aliás ilustrava um boletim interno do congresso com seus “feitos” pela educação em Goiás – afirmou a UNE como entidade que se presta a jogar uma nuvem de fumaça acerca dos reais problemas enfrentados pelos estudantes brasileiros. Não se mencionou nas resoluções congressuais a penúria que vive a Universidade Estadual de Goiás, na abertura da atividade nada de falar da greve dos servidores técnicos administrativos das Universidades Federais por todo país e fez-se questão de esvaziar o debate sobre o Código Florestal dos latifundiários e desmatadores, recentemente aprovado na câmara, de relatoria do deputado Aldo Rebelo do PC do B.

De onde poderia se esperar algo, da oposição de esquerda, infelizmente o que se viu (com raras exceções) foi um jogo de vale-tudo para garantir uma função na diretoria executiva da entidade. Depois de eleitos os diretores e suas respectivas correntes mal se comunicam até o próximo congresso. Amarradas à lógica institucional que rege a entidade, várias correntes da oposição de esquerda pautavam sua unidade quase que exclusivamente pela contabilidade de delegados que os levaria a ocupar mais espaço, deixando em segundo plano a discussão programática desse campo. Nas bancadas da oposição de esquerda repetia-se a prática de “gincana” onde cada um grita pra si mesmo, despolitizando o debate, valorizando os gritos de guerra, inviabilizando os painéis e no final se desconsidera o que está sendo lido ou defendido no plenário, prática da situação governista ( PT,PC do B, PDT, PMDB, PTB e PSB) que é repetida e triste de se ver no campo dos lutadores.

Além do fato do Congresso, e suas resoluções, não problematizar a falta de recursos para a pesquisa em Goiás, a ausência de assistência estudantil para quem sai de sua cidade para estudar e a falta de qualidade das faculdades particulares que se multiplicam em nosso estado, tivemos um triste exemplo de eleição de delegados fantasmas na UFG-Universidade Federal de Goiás . Justamente de onde se espera que venham lideranças juvenis que dêem um alento para o mar de injustiças que assolam o país, se vê exemplos de corrupção. A Juventude do PC do B: UJS -União da Juventude Socialista- e a juventude da corrente Articulação de Esquerda do PT- Partido dos Trabalhadores, fizeram um acordo de bastidores e retiraram crachás de delegados ao Congresso da UNE mesmo sem terem sido eleitos, demonstrando o caráter burocratizado e fraudulento desse congresso e de tais organizações.

Fica a lição de que o movimento estudantil deve priorizar cada vez mais o movimento pela base e que de nada adianta a disputa por uma entidade nacional se não tivermos em mente em primeiro lugar qual o projeto de Universidade e Educação nós queremos. Destacaram-se neste Congresso da UNE os debates paralelos e mobilizações para o Seminário Nacional de Universidade Popular que colocaram em questão um ponto central: Se as bandeiras do movimento estudantil não estiverem ligadas a um projeto estratégico de sociedade, para além do capitalismo, ficaremos disputando a qualquer custo estruturas estudantis burocratizadas que defendem vagamente uma “ universidade pública, gratuita e de qualidade” mesmo que esta sirva à manutenção das desigualdades sociais reinantes.

Mais que a lição dos erros fica a motivação pelo acerto, a coragem para lutar por uma Universidade que atenda às necessidades da maioria trabalhadora da população, tal qual fez a UNE em outros tempos. Uma universidade preocupada com os problemas de transporte, que denuncie a especulação imobiliária e a devastação do Cerrado. Tal qual os estudantes do Chile que neste momento vão ás ruas para defender verba pública só para educação pública – bem diferente do que a UNE defende-, o movimento estudantil se faz vivo também em Goiás e no Brasil, na luta pelo Passe Livre e pela Universidade Popular.

*Paulo Winícius “Maskote”

Membro da Coordenação Nacional da UJC- União da Juventude Comunista

Membro da Direção Estadual do PCB em Goiás