
Universidade Popular: luta corporativa x luta ideológica
Como devemos lutar para mudar o caráter da universidade? Já abordamos anteriormente os quatro principais aspectos que tornam a universidade estratégica para o capital:
- Formação de mão de obra qualificada e operadores para o Estado e o capital;
- Fornecer tecnologia, informações e processos ao capital;
- Produção e alimentação de ideologias;
- Ser ela própria uma fonte de exploração econômica e de lucros.
E não seria demais assumir que esses são quase senso comum na esquerda estudantil e sindical. Porém, por que tais pontos não aparecem ao longo das lutas internas da universidade?
Quando se luta por algo na universidade sem abordar essas questões, caímos em uma luta corporativa. Uma luta que não visa a nenhuma mudança do caráter da universidade. Uma luta que é um fim em si mesmo.
Um exemplo concreto seria a luta muito recorrente pela “qualidade” da universidade. Reivindicam-se melhores laboratórios, contratação de professores etc. Supondo que essas reivindicações sejam alcançadas, ignora-se o ponto central: a serviço de quem estão esses laboratórios e professores? Sem ter como foco o papel da luta pontual na luta de classes, caímos em uma abstração. Não existe “qualidade” em abstrato. Existe o conflito de interesses da realidade social.
Assim, uma pauta justíssima acaba por ter um caráter conservador. É óbvio que as universidades devem ter professores suficientes, laboratórios funcionais e infraestrutura que atenda às necessidades da comunidade universitária. Porém, esses recursos devem estar a serviço da população. E, sem que se tome a luta por “qualidade” a partir da luta de classes, estamos apenas reproduzindo o modelo de universidade que serve ao capital.
Outro exemplo seria a luta por paridade de voto entre as categorias da universidade. Alunos, funcionários e docentes com a mesma voz.. Mas para quê isso? Para a manutenção do caráter da universidade? Não! Tornar a universidade mais “democrática”? Caímos em outra abstração. Democrática para QUEM? A luta precisa deixar explícito: uma universidade mais democrática para mudar o caráter da universidade. Para aproximá-la das demandas populares e para que o povo faça parte da universidade.
Outro exemplo seria a luta por paridade de voto entre as categorias da universidade: alunos, funcionários e docentes com a mesma voz. Mas para que isso? Para a manutenção do caráter da universidade? Não! Tornar a universidade mais “democrática”? Caímos em outra abstração. Democrática para quem? A luta precisa deixar explícito: uma universidade mais democrática para mudar o caráter da universidade, aproximá-la das demandas populares e permitir que o povo faça parte dela.
Portanto, devemos organizar a luta escapando do corporativismo e do conservadorismo. Tomemos as lutas dentro da universidade como parte da luta de classes e reflexo dos conflitos de interesses da sociedade. Só isso, porém, não é suficiente para transformar a universidade e a sociedade.
É necessário travar a luta ideológica. Ganhos concretos fazem parte dessa luta, mas não são seu centro. O cerne é a disputa dos valores e ideais das pessoas. É conquistá-las para nosso projeto de sociedade.
A luta ideológica consiste na denúncia das contradições mais evidentes da ordem social vigente. Denunciar aquelas contradições que os defensores da manutenção da ordem prefeririam ocultar. Assim, os instigamos a mostrar sua verdadeira face conservadora e reacionária.
Podemos concluir, então, que a mudança do caráter da universidade não virá apenas de dentro dela. Virá da transformação da sociedade como um todo. Hoje, é bastante evidente que não há força suficiente na sociedade para mudar a universidade. Porém, isso não impede a luta. Pelo contrário, devemos aproveitar todas as contradições da universidade, empenhar-nos na luta ideológica e, assim, conquistar cada vez mais pessoas para nossa causa. Só então conseguiremos mudar o caráter da universidade brasileira.
Texto publicado originalmente na página de Facebook da UJC-SP
Coordenação Estadual da UJC em São Paulo
14 de fevereiro de 2017