Um breve balanço do 55ºCONUNE: A saída é pela esquerda! Construir uma ampla oposição combativa e popular na UNE.
Por: Luís Fernandes*
Entre os dias 14 e 18 de junho ocorreu, em Belo Horizonte, o 55º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Tratou-se do primeiro congresso após o golpe parlamentar e midiático que derrubou o governo de conciliação de classes do PT. Além disso, foi o primeiro grande espaço nacional do movimento social brasileiro em meio à grande crise econômica e política que assola o país.
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Mesmo com as dificuldades estruturais, das derrotas políticas nos grupos de discussão e da diminuição no número de seus quadros políticos, a UJS venceu o congresso. O controle burocrático da entidade, a mobilização nas universidades privadas, as possíveis fraudes na tiragem de delegados nas EAD´s e uma hábil articulação política para esvaziar o Campo Popular foram determinantes. Para além disto, a vitória da chapa “Brasil Popular” reforça uma alternativa conciliatória e tolerante com os grandes monopólios privados da educação, dentro e fora da UNE.
Apesar disso, o fato do congresso não ter se pautado centralmente pela discussão de candidaturas eleitorais abriu espaços para debates mais politizados e para a construção de alternativas. O antigo campo governista democrático popular ainda possui grandes bases sociais e forte controle burocrático. No entanto, a defensiva política que dá o tom deste campo é visível. Mesmo com toda a limitação e burocratização, a UNE é a grande entidade estudantil unitária. Toda a esquerda está dentro da entidade e irá compor a diretoria (exceto o PSTU). A greve geral do dia 30, por sua vez, foi intensamente propagada e mobilizada no congresso pelos setores mais avançados e combativos, em unidade. A direita organizada também cresce na disputa nacional do ME, o PSDB esteve presente com uma expressiva bancada em termos numéricos e políticos. A tendência é de que a direção majoritária concilie e componha com o crescimento da direita organizada.
O Levante Popular da Juventude se decidiu e mostrou que, nesta conjuntura de acirramento, é impossível manter uma política de “terceira via” que priorize apenas a forma, a agitação, pondo em segundo plano o conteúdo político. O Levante é dependente do petismo; tenta reaglutinar as forças do antigo campo governista e democrático popular sem crítica e autocrítica alguma sobre o papel desempenhado pela estratégia de conciliação de classes no desfecho golpista recentemente vivido. Obviamente, este é um movimento amplo e diverso de juventude. Existem bases sinceras e extremamente combativas no interior do Levante Popular da Juventude que merecem respeito e diálogo. Mas não se pode negar que o Levante, em troca de uma melhor posição dentro da diretoria da UNE, leiloou toda a sua construção na base do movimento, feita sob um discurso de oposição ao campo majoritário da UNE.
A Oposição de Esquerda, por sua vez, possui grande potencial para este novo período. Somos o campo que realmente se esforça para construir as principais lutas e manifestações da juventude pelo Brasil, como será a greve geral no dia 30. Mas, para desenvolver todo o potencial, a OE terá que superar seus limites políticos. A UJC defende a construção de uma oposição de esquerda popular, combativa e mais ampla. A construção dessa oposição deve ser pautada por um programa mínimo e um calendário de lutas e mobilizações, construído a partir de um seminário nacional da Oposição de Esquerda. Nosso campo não pode ser apenas a oposição da juventudes ligadas a um ou dois partidos políticos, mas deve ser um amplo movimento que, de fato, polarize politicamente e desde as bases contra a direção majoritária da UNE. Devemos pautar a construção de um CONEB na próxima gestão da UNE, afim de fortalecer as entidades de base do movimento estudantil.
A UJC não critica apenas o método da UJS e seus aliados de dirigir o movimento estudantil brasileiro – método pautado pela institucionalização da entidade, burocratização, falta de diálogo e participação da base do movimento, alianças com a direita, etc. Mas, também, defende uma política de educação e para a universidade brasileira muito distinta destes setores. Estrategicamente, a corrente majoritária defende uma projeto de educação alinhado a um novo ciclo de crescimento da economia capitalista brasileira; defende o crescimento de parcerias público-privadas na universidade pública; é tolerante com os grandes monopólios privados da educação ao defender, como princípio, políticas de financiamento público para as universidades privadas.
Ignoram que as condições econômicas mundiais durante os governos Lula eram bem particulares. A base econômica para a conciliação de classes, no bojo da crise capitalista, diminuiu sensivelmente no mundo inteiro. Não há saída para uma política progressista na educação se os ditames dos grandes monopólios e da ideologia neoliberal não forem minimamente enfrentados. Isto é: não há alternativa possível para uma educação popular que não passe pelo não pagamento da dívida pública, pela taxação das grandes propriedades, pela valorização do salário mínimo, pelo controle estatal do mercado financeiro, pela estatização de setores estratégicos da economia nacional, em suma, por uma mudança radical nos paradigmas macroeconômicos vigentes.
A UJC, sendo um setor consequente e revolucionário, sempre irá construir e apoiar lutas unitárias em torno da defesa da universidade pública, por um plano nacional e universal de assistência estudantil, pelas cotas sociais e raciais, pela ampliação do acesso à universidade pública, etc. No entanto, devemos demarcar essas profundas diferenças entre nossos campos, que são determinantes para o futuro da UNE e do movimento estudantil brasileiro. Insistiremos no debate estratégico sobre a Universidade Popular: em tempos de resistência, é fundamental que desde já propaguemos uma alternativas que produzam tensões frente à dinâmica da acumulação capitalista. Também insistiremos que a construção da entidade é apenas um momento importantíssimo de uma luta mais ampla, devendo estar concatenada à radicalização da lutas, organização e mobilizações nas escolas, universidades e locais de trabalho.
Foi por meio da força da militância comunista e de sua política que a UJC volta à entidade, na qual nos orgulhamos de sermos fundadores. Nossa presença nas lutas gerais, CA´s ,DCE´s, Executivas e Federações de Curso apenas cresceu nos últimos 10 anos. Participamos dos Encontros Nacionais de Educação com bancadas expressivas, organizamos o I Seminário Nacional de Universidade Popular e o I Encontro Nacional de Movimentos em Luta pela Universidade Popular (ENMUP), este último em Fortaleza contando com a participação de mais de 700 pessoas.Construímos o MUP em 18 Estados no Brasil. Não surgimos do nada, surgimos da luta, do nosso estudo e da nossa coerência política.
E o fundamental, para os críticos da cultura comunista e da forma leninista de organização está ai mais uma prova prática. Nossa organização está mais unida e fortalecida. Temos disciplina e centralização, mas não atropelamos nossa base, pelo contrário construímos coletivamente e aprendemos com quem está levando a linha da nossa organização diariamente.Nem fazemos zigue-zague estratégico e, principalmente, temos muito senso e compromisso com unidade política nas lutas. Prestes a completar 90 anos de sua fundação, a UJC cada vez mais se apresenta como uma alternativa consequente e revolucionária para a juventude brasileira.
Rio de Janeiro, 24 de Junho de 2017.
*Luís Fernandes é Secretário Político da União da Juventude Comunista-Brasil e membro da Comissão Política Nacional do PCB.