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Transfobia é uma questão de classe

Transfobia é uma questão de classe

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Por: Giulianna Nonato*

29 de Janeiro é o dia nacional da visibilidade de travestis, mulheres transexuais, e homens trans. Durante toda esta semana ocorrem diversos eventos pelo Brasil para debater diferentes aspectos da transfobia na sociedade, promovendo também manifestações de cunho político e cultural. Fazendo coro às vozes que denunciam a transfobia como uma forma de opressão própria da sociedade capitalista, saúdo a luta de todas e todos cuja identidade de gênero é diferente daquela atribuída ao nascer. Porém, não celebro este dia, que deve ser de resgate da nossa memória histórica marcada por violências e resistência combativa.

Travestis e transexuais têm história

A organização da luta da nossa população no Brasil começou em 92, contra a violência policial e pelo combate à epidemia de AIDS. Ainda hoje, nossas bandeiras de luta são reivindicações garantias de direitos básicos, como integridade física, respeito ao próprio nome, acesso a serviços de saúde, à educação, e a condições regulares de trabalho.

Atualmente, alguns espaços se destacam como catalizadores da formação e atuação política de travestis e transexuais no Brasil, como por exemplo a ANTRA — Associação Nacional de Travestis e Transexuais e o IBRAT — Instituto Brasileiro de Transmasculinidades, quais promovem importantes encontros nacionais da militância, manifestações políticas, fiscalização de serviços públicos, e produção de dados quantitativos e qualitativos.

Travestis e transexuais têm classe

O mais recente Mapa dos Assassinatos feito pela ANTRA indica que a cada 48 horas uma pessoa trans é assassinada no Brasil. A mesma ainda estima que a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, e que 90% das travestis e transexuais são trabalhadoras sexuais.

Graças ao reduzido acesso a serviços de saúde integral e com qualidade, a qualidade e longevidade de nossas vidas são afetadas pelas terapias hormonais sem acompanhamento médico, a aplicação de silicone industrial, e os sérios problemas de saúde que os homens trans enfrentam pelo uso prolongado de faixas e coletes supressores dos seios. O adoecimento mental também é comum, levando frequentemente ao suicídio.

A insalubridade do trabalho sexual, que não conta com garantias trabalhistas devido à falta de regulamentação, gera grande vulnerabilidade social para travestis e mulheres transexuais. Setores de extrema precariedade aglutinam trabalhadoras e trabalhadores trans, como o telemarketing.

Esse breve panorama é sintomático, e indica como a transfobia é essencial ao desenvolvimento capitalista e útil na sua organização própria, gerando superexploração e precariedade nas relações com o trabalho.

É urgente resgatar a combatividade classista do movimento LGBT

Nossa luta não deve ser encarada apenas como uma questão identitária, mas como uma questão de classe que exige articulação das especificidades da população LGBT com a luta mais ampla da classe trabalhadora. Não existe superação real da transfobia sem a superação da ordem burguesa, portanto nossas táticas e estratégias devem responder às necessidades mais imediatas de sobrevivência sem perder de vista o horizonte revolucionário.

Como militante da União da Juventude Comunista, saúdo a luta da nossa organização que, na contramão dos erros históricos da esquerda revolucionária, vem articulando a luta contra todas as opressões com a superação da sociedade de classes. Neste sentido, também saúdo a militância do Coletivo LGBT Comunista.

Que o dia da visibilidade torne também visível a necessidade de transformação radical da sociedade.

*Militantes da UJC-Brasil, Núcleo Sudeste de São Paulo-SP.