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Sobre a ocupação de maio (UFES)

Sobre a ocupação de maio (UFES)

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No dia 29 de maio, segunda-feira, durante o horário de almoço, realizou-se um ato no Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) campus Goiabeiras em protesto às medidas draconianas e punitivas – tais como implantação de catracas maiores e abertura de processo administrativo contra quem roleta – que a Reitoria pretendia implementar contra estudantes que precisam se alimentar, mas que por uma série de motivos, dentre os quais estão o alto preço da refeição e a dificuldade de acesso a políticas de assistência estudantil, roletam para garantir seu direito à alimentação.

Em resposta a esse ato, a Reitoria suspendeu o funcionamento do RU naquele dia e no dia seguinte, buscando punir com a fome não só quem exerceu seu direito de protestar, como também toda a comunidade acadêmica que necessita do RU. A partir disso, o movimento estudantil da UFES deu uma resposta à altura, adotando o mote: “sem RU, sem aula”. Naquela mesma segunda-feira, por volta das 17h, estudantes se concentraram em frente ao prédio da Administração Central da UFES e ocuparam-no.

No dia seguinte, 30 de maio, terça-feira, ocuparam-se os campi Goiabeiras e Maruípe, trancando portões, montando barricadas e fazendo piquetes nas entradas. Com isso, impediu-se o funcionamento normal das atividades nesses lugares e ainda pela tarde houve uma tentativa de reunião da Reitoria com alguns representantes do Diretório Central dos Estudantes da UFES e estudantes que estavam na ocupação. Como não havia sequer a presença do vice-reitor na comitiva enviada pela Reitoria, algo que se havia prometido de antemão, a contraparte se retirou da mesa.

Diante desse impasse, a Administração Central da UFES fez um novo convite de reunião, que ocorreu na noite de terça-feira, dessa vez garantindo a presença do vice-reitor. Como resultado desta primeira negociação, a Reitoria recuou em suas propostas e suspendeu as aulas do dia seguinte, 31 de maio, quarta-feira, garantindo o cumprimento da palavra de ordem levantada pelo movimento estudantil da UFES: “sem RU, sem aula”. Com isso, os estudantes ocupantes puderam se reorganizar, elencando suas demandas e destacando sua comitiva para uma nova mesa de negociação com a Reitoria, que ocorreu por volta das 17h de quarta-feira.

Como resultado dessa última negociação, o movimento estudantil da UFES logrou alguns avanços, tais como o comprometimento da Reitoria em não abrir processo administrativo para estudantes que participaram da ocupação, nem para quem roleta; o recuo quanto à implementação de roletas maiores; a ampliação da faixa de renda da gratuidade do RU para até 2 salários mínimos per capita; o fim do tempo de carência que estudantes enfrentam enquanto aguardam a liberação do auxílio. Além disso, todo esse processo alimentou o ímpeto do movimento estudantil da UFES para continuar lutando rumo a um RU gratuito e de qualidade, abrindo também debates a respeito desse tema em outras instituições como o IFES.

Concomitantemente aos eventos narrados, tanto as notas publicadas pela Administração Central da UFES, quanto a cobertura de grandes veículos de imprensa locais buscaram desqualificar e deslegitimar as manifestações. É notório o cinismo da Reitoria ao se pronunciar em nome dos trabalhadores e das trabalhadoras terceirizadas do RU, dizendo se preocupar com sua segurança, como se a parte patronal tivesse alguma autoridade para falar em nome de seus empregados. Vale lembrar que mesmo diante de uma tentativa de atentado terrorista há não muito tempo, a UFES manteve o funcionamento normal das atividades, mostrando o quão hipócrita é sua preocupação com a segurança.

A militância da União da Juventude Comunista (UJC), juntamente com a base estudantil independente e demais forças políticas, participou intensamente de todo esse processo de luta, seja na mobilização para o ato de segunda-feira, passando em salas e convocando estudantes na universidade, seja na construção da própria ocupação, montando barricadas, atuando nos piquetes, tomando parte nas negociações e propondo uma linha de atuação política nas plenárias de estudantes ocupantes.

A UJC defendeu a necessidade de manter a ocupação do prédio da Administração Central da UFES como forma de demonstrar a força do movimento estudantil organizado e de pressionar a Reitoria até que esta se comprometesse em atender as demandas mínimas exigidas pelos ocupantes. Uma vez que a Reitoria recuou e cedeu tais pontos mínimos na mesa de negociação, a UJC defendeu a desocupação do prédio de modo a garantir o que foi acordado, mantendo, no entanto, uma mobilização permanente do movimento estudantil e a construção de um calendário de luta por um RU integralmente gratuito e por uma Universidade Popular. Mudou-se a tática de luta, mas a estratégia é a mesma. Devemos estar preparados para contra-atacar caso a Reitoria não cumpra com o prometido e para avançar ainda mais em nossos objetivos. Não tratamos o ocorrido como uma vitória total, mas como um modesto avanço que deverá ser seguido de muitos outros. A luta não pode cessar!

É nosso papel enquanto comunistas lutarmos por um RU gratuito e de qualidade. Também devemos lutar pela construção de moradias estudantis, pela construção de espaços com fraldários e pela ampliação de vagas na escola infantil da UFES para estudantes que têm filhes. Devemos lutar pela desmilitarização dos campi e pelo fim do vestibular, garantindo acesso universal ao ensino superior. É preciso ampliar o debate a respeito do orçamento público e lutarmos contra o Novo Arcabouço Fiscal (PLP 93/2023) – o Novo Teto de Gastos –, que tira recursos da educação pública. Em suma, devemos lutar por uma Universidade Popular!

Núcleo UFES (Espírito Santo)

4 de junho de 2023