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Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!

Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!

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No ano de 2003 milhares de estudantes de Salvador saíram às ruas para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus anunciada pela gestão de Antonio Imbassahy, na época PFL.

O aumento de 0,20 centavos elevou a tarifa para R$1,50 e gerou imensa revolta entre os estudantes que tomaram as ruas durante 3 semanas seguidas, com atos acontecendo simultaneamente em mais de um ponto de Salvador causando grande congestionamento e travando o funcionamento da cidade.

O episódio ficou conhecido como “Revolta do Buzu” e ganhou apoio da população soteropolitana que via na ação dos estudantes uma luta justa e que dialogava diretamente com necessidades básicas da população. Na época o salário mínimo girava em torno de R$ 240,00 e a tarifa já representava um grande assalto ao poder de compra dos trabalhadores, sobretudo mulheres negras e mães solo que tinham que garantir sua locomoção para o trabalho e de seus filhos para escola diariamente.

A Revolta do Buzu cresceu de forma bastante espontânea, porém, ocorreu de forma bastante ordeira durante todo o tempo. A tática usada para enganar a PM BA de divulgar o ato em determinada localidade e a manifestação acontecer num local completamente diferente dificultou e muito a contenção dos manifestantes pelas forças repressivas no Estado, o qual teve como principal aliado, a mídia. A TV Bahia, propriedade da família ACM, chefe do antigo PFL, não se cansou em difamar o movimento em seus jornais, tratando a reivindicação dos estudantes como baderna a fim de deslegitimar o movimento aos olhos da população.

Com o funcionamento da cidade travado, a prefeitura se viu obrigada a dialogar com as lideranças estudantis, porém, a pauta principal da revolta não foi atendida. No final, a tarifa permaneceu em R$ 1,50, seu aumento foi congelado por um ano e a política de meia passagem estudantil foi implementada na cidade. Uma das conquistas do Movimento Estudantil, no entanto, uma política Social Democrata de conciliação de classes, a qual o oligopólio de empresas privadas de ônibus continuaram a ditar o que seria da mobilidade urbana da maior capital da região nordeste.

Hoje, 20 anos depois, Salvador continua sobre o domínio da mesma oligarquia de 2003 com a gestão de Bruno Reis (União Brasil, antigo PFL/DEM) e tem tido aumentos anuais em sua tarifa de ônibus, atingindo a marca de cidade do nordeste com a tarifa mais cara em 2022, com o reajuste para R$ 4,90. Aliado à isso, desde a pandemia as frotas de ônibus circulam com capacidade reduzida, principalmente no final de semana, e tem sofrido extinção de várias linhas com o intuito de estimular o uso do BRT e do Metrô, forçando as pessoas a utilizarem mais de um ou dois transporte para chegar e voltar ao seu destino final, encarecendo ainda mais a passagem.

Como se não bastasse, no dia 13/11 deste ano a tarifa foi reajustada para o valor de 5,20. A medida foi anunciada três dias antes e veio acompanhada de subsídios fiscais que giram em torno de 205 milhões de reais para as empresas de transporte. O prefeito jogou a culpa do aumento em tudo que pode. Culpou a Covid-19, o aumento de “despesas”, o ICMS, alegou sentir falta de incentivos fiscais vindos do Governo Federal e disse que o subsídio iria compensar o aumento do diesel.

Sendo assim, na manhã daquela segunda-feira (13/11) os estudantes de Salvador, em um ato puxado pela União dos Estudantes da Bahia (UEB), demonstraram toda sua indignação diante da farra fiscal entre prefeitura e empresas de transporte, bloqueando a saída de ônibus da estação da Lapa por aproximadamente 3 horas. Desde então, com mais dois atos de rua depois do dia 13, tenta-se revisitar a Revolta do Buzu e criar um calendário de luta efetivo contra o aumento da tarifa.

Nos últimos 5 anos foram extintas mais de 20 linhas de ônibus da empresa de Transportes Integra, a qual, ironicamente, tem fragmentado ainda mais a locomoção da população soteropolitana. Em média um estudante e/ou trabalhador gasta cerca de 2 horas para a sua locomoção, sendo que a grande maioria da população trabalha nos centros urbanos mais inchados e moram nas periferias da cidade. Nisso, somando com a média de 8 horas diárias de trabalho e as 2 h de volta, o trabalhador soteropolitano gasta em média 12h de seu dia para trabalhar e voltar para casa.

A precarização da vida da classe trabalhadora passa inevitavelmente pela qualidade do transporte público pelo fato de comprometer não só o tempo, mas também o direito de acessar a cidade – seja em momento de lazer, estudos – como também saúde da população. Nesse sentido, quando se fala de doença de cunho psicossocial a ansiedade é uma das primeiras dos rankings dentro da classe trabalhadora justamente por essa precariedade material em vários âmbitos. Importante ser dito que Salvador disputa a colocação de cidade campeã em desemprego, com uma taxa de 16%, acima do nível nacional, e conta também com um grande contingente de trabalhadores informais. A essas pessoas o direito à cidade é negado pelo alto preço da tarifa, em benefício ao bolso dos empresários do setor, que recebem da prefeitura milhões de reais em subsídios fiscais e não promovem e nem tem a intenção de promover um serviço de qualidade e que atenda as demandas da população. O que nós vemos é o desmonte das linhas de ônibus, a redução da frota nos dias de folga dos trabalhadores e a ameaça predatória da retirada dos cobradores, cortando milhares de empregos e precarizando ainda mais o trabalho do motorista.

A luta organizada nas ruas se faz urgente e deve abranger não só os estudantes, mas toda a população soteropolitana. Para que a farra fiscal tenha fim. Para que o transporte público cumpra sua função de direito a cidade aos trabalhadores e deixe de ser apenas mais uma mercadoria nas mãos de gangsteres de colarinho-branco. Pela TARIFA ZERO e estatização do setor rodoviário, avante!

Coordenação Regional da UJC Bahia

02 de dezembro de 2023