Resposta da União da Juventude Comunista a Zuenir Ventura
O artigo de Zuenir Ventura, profundamente ideológico ao realizar uma mera apologia à administração “caridosa” do capitalismo, está no bojo desta hegemonia que nesta conjuntura internacional de crise passa a ser fortemente contestada em diversos locais do globo.
O mundo necessário para humanidade é o socialismo!
Zuenir Ventura, em artigo do dia 28 de janeiro no jornal “O Globo”, se referiu a um trecho de um documento da União da Juventude Comunista, juventude do PCB Partido Comunista Brasileiro, no que se refere a nossa opinião sobre o Fórum Social Temático, realizado há poucas semanas em Porto Alegre, RS. O autor se refere a nossa opinião como utópica e entoa elogios ao encontro de opiniões de Davos (Fórum Econômico) e Porto Alegre (Fórum Social).
A opinião do referido autor se encaixa em uma conjuntura onde, aqui no Brasil, nos deparamos com um processo de amoldamento de entidades, personalidades e partidos de “esquerda” que, até algum tempo atrás, se encontravam no campo popular e crítico com relação à realidade brasileira. Obviamente, este processo não é fruto apenas da “traição”, vontades individuais e gostos subjetivos, mas sim, resultado da hegemonia de projetos e perspectivas sobre a problemática social no país pelas próprias forças do “mercado” e do empresariado brasileiro, tendo como principal instrumento de mediação as ONG´s.Nesta perspectiva, a questão social não é mais uma questão de organização da sociedade e sistêmica, mas uma questão específica e gerencial.
O artigo de Zuenir Ventura, profundamente ideológico ao realizar uma mera apologia à administração “caridosa” do capitalismo, está no bojo desta hegemonia que nesta conjuntura internacional de crise passa a ser fortemente contestada em diversos locais do globo. A opinião de Ventura também coincide com a própria organização do Fórum Social Temático, fórum este que se caracteriza pelo aparente caráter descentralizado, com centenas de atividades das mais variadas temáticas – que reproduzem, em grande medida, a fragmentação e a focalização em lutas específicas em nossos tempos de discursos pós-modernos – esconde, na verdade, a hegemonização de sua direção por ONG´s e setores atrelados ao governo. A bandeira por um “outro mundo possível”, naquele espaço, não passa de uma máxima esvaziada de um conteúdo que conteste, de fato, a atual ordem vigente. Ainda que se mencione o socialismo – com discursos redesenhados à esquerda, mas desmascarados pelas práticas concretas – a denúncia da mazelas produzidas pelo capitalismo não desvela a essência de seu caráter predatório e tão pouco projeta a sua superação.
O problema central para a União da Juventude Comunista, organização citada na apologia de Ventura, é que a resolução dos problemas ocasionados pelo regime do capital não é uma questão meramente administrativa, ideal ou específica. Os inúmeros problemas sociais e desumanos que vivenciamos são gerados pela própria natureza estrutural e histórica do capitalismo. Como isto se materializa hoje? Podemos citar alguns exemplos: a expansão descontrolada da especulação imobiliária no Rio de Janeiro entrando em choque com a demanda de moradia de milhares de sem teto na cidade, a expansão dos lucros do agronegócio que não coincidem com a demanda por terra e trabalho para muitos sem terra e pequenos agricultores, o crescimento das instituições privadas de ensino superior (em detrimento da expansão com qualidade das instituições públicas) apesar do apoio acrítico e incoerente com o histórico da UNE – e que não vem representando as demandas reais para a expansão pública e universal das universidades – dentre outras inúmeras questões.
Utopia !?
Não.
Sabemos que são apenas algumas demonstrações de como o capital entra em conflito com as demandas básicas da vida da grande maioria das pessoas, e é por isso que em nosso documento para o fórum apontamos que não há saída para os problemas da humanidade se o regime do capital não for superado positivamente, e o socialismo é a única forma possível. A solução apontada pelo Fórum e por Zuenir Ventura, de conciliar o que é inconciliável, é reforçar um olhar anacrônico e acrítico com relação à origem e à solução para os problemas sociais de nossa época. Em suma, é reforçar a sustentação do status quo. É óbvio que existem outras opções e possibilidades, já que a história é feita por pessoas, grupos e classes com distintos interesses, mas a outra possibilidade, a da conciliação, esta sim nos leva a barbárie social e ao próprio empobrecimento crítico e cultural da capacidade humana. E é este tempo e espaço que os jovens ou velhos comunistas ousam mudar e criticar, não como portadores das verdades universais, mas como um dos sujeitos que compõem os anseios objetivos dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do mundo.
Coordenação Nacional da UJC