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Contra o Racismo Religioso na Escola Maria Ortiz
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Contra o Racismo Religioso na Escola Maria Ortiz

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A União da Juventude Comunista (UJC) e o Movimento por uma Escola Popular (MEP) no Espírito Santo vêm, por meio desta nota, denunciar um ato de racismo e intolerância religiosa ocorrido na Escola Estadual de Ensino Médio “Maria Ortiz”, bem como a exposição de uma camarada do MEP por políticos bolsonaristas capixabas.

Na última sexta-feira (22/11), foi apresentada na escola Maria Ortiz a peça intitulada “Mulher na pele que sou”, realizada pela Funcultura com o apoio da Secretaria de Cultura de Vitória. Essa peça aborda inúmeras temáticas, sendo uma delas a importância da religião para os povos afrodescendentes no Brasil. A obra homenageia diversas personalidades que se destacaram na luta pela resistência do povo preto, incluindo um poema dedicado a Marielle Franco e a música “Exu nas Escolas”, de autoria de Elza Soares.

Após a apresentação da peça e outras intervenções artísticas, como a banda de congo e cantos de resistência representados pelos próprios estudantes, houve uma explanação teórica sobre o teatro “Mulher na pele que sou”. A explicação foi conduzida por uma camarada militante do MEP e da UJC, que também é aluna da escola. Durante sua fala, foi destacado que a religião é um elemento que compõe a cultura de um povo, especialmente para os africanos trazidos ao Brasil, e que o culto aos ancestrais foi uma forma de resistência ao cativeiro e à opressão.

A explanação teve como objetivo desmistificar preconceitos profundamente enraizados em nossa sociedade, como a associação do Orixá Exu, presente no panteão Iorubá, à figura do “demônio” cristão, pautando o sincretismo religioso. Foi explicado que, durante a catequização forçada no Reino do Congo, os quimbundos (anciãos praticantes de religiões de culto aos ancestrais africanos) resistiram à igreja e, por isso, foram chamados de “demônios” por se oporem ao catolicismo. Por conta do arquétipo de Exu e sua veneração pelos quimbundos, a divindade foi associada ao “demônio”. Essa associação chegou ao Brasil com o objetivo de alienar a população africana do restante da nação, majoritariamente católica. Até hoje, essa distorção é usada em discursos racistas contra religiões de matriz africana.

Durante toda a apresentação, alguns estudantes deixaram o auditório, rejeitando as explicações que contextualizavam a manifestação cultural. Além disso, muitos propagaram falas racistas e preconceituosas, testemunhadas por outros educandos. Uma responsável por um estudante, incomodada com o evento em alusão ao Novembro Negro, foi à escola e ameaçou apresentar denúncias infundadas. Todas as atividades pedagógicas, no entanto, estavam em conformidade com a Lei 10.639/2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Essa lei, sancionada em 2003, tem como objetivo a valorização da luta africana e de seus descendentes, o combate ao racismo, e o reconhecimento da contribuição do povo negro na construção da sociedade. Ela também institui o Dia da Consciência Negra no calendário escolar, celebrado em 20 de novembro.

Na madrugada de segunda-feira (25/11), o vereador Darcio Bracarense (PL) expôs, sem autorização, um trecho descontextualizado do evento em suas redes sociais, incitando o ódio entre seus seguidores. Os comentários reproduziam justamente o que se pretendia desmistificar, associando as religiões de matriz africana ao “mal cristão” e acusando seus praticantes de “diabólicos” e “doutrinadores”. No mesmo dia, o deputado estadual Lucas Polese (PL) publicou outro vídeo, incluindo imagens da explicação feita pela camarada, também sem autorização, ameaçando tomar medidas judiciais contra a escola Maria Ortiz sob o falso argumento de que “o ensino religioso não é obrigatório nas escolas”.

É importante ressaltar que, durante a apresentação, não houve em momento algum culto às religiões de matriz africana. O evento consistiu em explanações artísticas e teóricas justamente para desconstruir os medos e preconceitos enraizados, fruto do racismo estrutural.

Mais uma vez, testemunhamos um ataque a aspectos culturais do povo preto no Brasil, perpetuando o racismo estrutural. Não há desenvolvimento capitalista que não esteja embasado em práticas racistas. Até quando praticantes de religiões de matriz africana sofrerão ataques e represálias? Por que políticos direitistas, conservadores e brancos se sentem no direito de expor, de forma distorcida, alunos secundaristas que estavam apenas participando de uma apresentação cultural?

ABAIXO O RACISMO RELIGIOSO NO BRASIL E NO MUNDO!

EM DEFESA DO ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NAS ESCOLAS!

CONTRA O RACISMO, CONSTRUIR O SOCIALISMO!

União da Juventude Comunista – Núcleo Secundarista (ES)

25 de novembro de 2024