Por que os comunistas se lançam às eleições (e por que a juventude trabalhadora deve apoiá-los)
[…] a participação num parlamento democrático-burguês, longe de prejudicar o proletariado revolucionário, permite-lhe demonstrar mais facilmente às massas atrasadas porque semelhantes parlamentos devem ser dissolvidos, facilita o êxito da sua dissolução, facilita a “supressão política” do parlamentarismo burguês.
– Vladimir Lênin
O movimento revolucionário segue enfraquecido em nível global. No Brasil, apesar de mandos e desmandos da burguesia e do Estado capitalista, gerido em nível nacional pelo governo de extrema-direita encabeçado por Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, teremos eleições no final deste ano. O que está em jogo nessas eleições? Como agirão os jovens comunistas nessa luta? A União da Juventude Comunista dá sua análise sobre o assunto.
Eleições 2020: quais são as cartas sobre a mesa?
Vivemos um momento das lutas de classes internacionais em que a extrema-direita conquistou posições de destaque tanto nas estruturas estatais quanto na consciência média da população em geral. Isso não se deu de forma imediata: é fruto da necessária ofensiva das classes dominantes do mundo todo para recuperarem suas taxas de lucro, abaladas com a crise sistêmica do capitalismo, assim como do baixo grau de organização dos trabalhadores. O momento que vivemos é, portanto, de uma ofensiva dos capitalistas contra nossa classe, a classe trabalhadora. A pandemia do coronavírus veio para agravar ainda mais essa situação. Na imensa maioria dos países capitalistas, os governos (de direita ou de “esquerda”) não conseguiram prestar o suporte necessário ao combate à doença, nem nos seus aspectos imediatamente médicos, nem nos aspectos socioeconômicos (como proteção do emprego, garantia de alimentação, isenção de aluguéis e tarifas cotidianas etc.).
Mesmo assim, em uma conjuntura de golpes de estado, ameaças às liberdades democráticas, desmonte de direitos e conquistas dos trabalhadores de décadas passadas, teremos eleições municipais no nosso país. De um lado e de outro, diversas pressões são feitas aos trabalhadores: setores da socialdemocracia, a esquerda hoje hegemônica em nosso país, apelam para uma necessária “unidade” em torno de seus candidatos; ao mesmo tempo, setores irresponsáveis diminuem (ou simplesmente negam) a importância da disputa eleitoral na situação atual.
Para entendermos a fundo a questão, é preciso entender o que está em jogo nas eleições de 2020.
A primeira questão, óbvia a qualquer um, é que os ataques mencionados estão ocorrendo em escala global. A defensiva dos trabalhadores é uma realidade: estamos lutando para manter as conquistas que duramente arrancamos às mãos dos capitalistas durante décadas de luta em nosso país. Não será possível mobilizar amplos setores da classe trabalhadora para uma ofensiva (qualquer que seja ela – já falaremos adiante disso) sem que consigamos ter vitórias significativas nessa nossa luta defensiva. Ao mesmo tempo, temos que dar um rumo claro ao resultado dessas vitórias: a classe trabalhadora deve sair mais articulada, mais organizada e mais consciente. Só assim poderemos iniciar um novo ciclo de lutas que inicie uma verdadeira ofensiva contra a classe dos capitalistas – uma ofensiva não apenas econômica, de retomada de nossos direitos, mas política, de tomada do Poder. A esse processo chamamos: a construção do Poder Popular para a revolução socialista.
Esse difícil movimento é o que queremos: passar da defensiva à ofensiva. Mas não apenas a classe trabalhadora está desmobilizada (décadas de hegemonia do reformismo cobram seu preço na consciência e na organização da classe), como ainda tem esperanças no regime burguês, ainda mantém seus preconceitos democrático-republicanos. A isso dizemos: é normal que assim o seja! Estranho seria se os trabalhadores já não mais aceitassem essa farsa capitalista nas suas ideias e aceitassem na prática. Ao contrário, inclusive, é por desconfiarem, mesmo que seja um pouco, dessa farsa que muitos votaram em Bolsonaro em 2018 – afinal, era dos poucos que se dizia “inimigo do sistema”. Mal sabiam os milhões de trabalhadores que nele votaram que era um inimigo, sim, mas da nossa classe.
Por que os jovens comunistas se lançam às eleições em 2020?
É nessa difícil conjuntura, cheia de atravancos e puxadas de tapete que os capitalistas tentam dar contra os trabalhadores, que teremos as eleições municipais em 2020. Essas eleições já começam como um jogo de cartas marcadas: as últimas “reformas” eleitorais nada fizeram senão diminuir o espaço dos partidos de esquerda que têm uma política independente e privilegiar a fusão em torno dos grandes “buracos negros” que são os partidos de direita. PSOL e PCdoB escaparam por um triz da “cláusula de barreira” e mantiveram os espaços democráticos concedidos pela burguesia. Nós, os comunistas do PCB, como em outros momentos da história, fomos tolhidos do direito de receber fundo partidário e de ter propaganda partidária veiculada. Os comunistas brasileiros, aos olhos da burguesia, seguem sendo uma pedra no sapato. Além disso, as coligações para disputas de eleições proporcionais, como é o caso das Câmaras de Vereadores, também foram proibidas – aumentando a pressão para fusões eleitoreiras em detrimento das coligações apresentadas abertamente, como foram as que o PCB desenvolveu nos últimos anos, principalmente ao lado dos companheiros do PSOL.
O cerco está fechado e o circo (da democracia burguesa) está armado. Como então farão os comunistas?
A primeira coisa que apontamos é que não podemos desprezar nenhum espaço, nenhuma trincheira, nem um mínimo ponto de apoio para fazermos denúncias e levarmos os interesses dos trabalhadores para a opinião pública. Negar participar desses espaços – não para lhes dar legitimidade, mas, ao contrário, para apontar seus limites – é se negar a falar com uma ampla massa do povo trabalhador, que muitas vezes só toma ciência das manobras burguesas através da publicização de uma ou outra polêmica dentro do parlamento. Essas pequenas oportunidades, os comunistas agarrarão para denunciar por dentro como já o fazemos por fora. Assim, combinando a luta parlamentar com a extraparlamentar, a luta de massas nos sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais na cidade e no campo, poderemos auxiliar na reorganização da classe trabalhadora – como já fazemos por meio do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes pelos Direitos Sociais e Liberdades Democráticas, como já fazemos na defesa de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora.
A segunda coisa é, portanto, porque o PCB, nessas eleições, aposta em dezenas de jovens comunistas como seus futuros candidatos?
Um passo atrás na análise da conjuntura é importante. A geração que estreou nos palcos das lutas de classes nos últimos anos pôde observar a olhos nus uma série de processos políticos definidores: vimos a falência da estratégia democrático-popular estourar em junho de 2013, começando a perdendo a direção política efetiva dos trabalhadores do país ao se negar a tomar o lado do povo incondicionalmente, e dando de bandeja para a direita com quem tentaram fazer alianças por governabilidade; vimos um processo de desestabilização dessa mesma governabilidade a partir de 2015, que culmina com o golpe que derruba a presidente Dilma e instaura Temer na Presidência da República; vimos uma eleição cheia de fraudes e irregularidades levar ao governo o miliciano e ex-militar Jair Bolsonaro e o General do Exército Hamilton Mourão; vimos uma pandemia desmascarar completamente a eficiência do mercado e das reformas neoliberais, literalmente matando mais de 100 mil pessoas apenas no nosso país (e ainda é preciso, depois de tudo isso, reafirmar que a imensa maioria era da classe trabalhadora?).
Os jovens comunistas, no intenso processo de formulação e síntese, sob a liderança do Partido Comunista Brasileiro e com a clara visada da necessidade de uma Revolução Socialista no Brasil, colheram os frutos dessa conturbada sucessão de eventos na política nacional e internacional – são eles que poderão oferecer ao povo trabalhador brasileiro – sobretudo aos jovens trabalhadores que, por conta das já mencionadas décadas de hegemonia reformista, estão afastados dos sindicatos, dos movimentos, da luta de classes direta – uma saída, uma direção revolucionária, que não mais se contente com pequenas representações no poder burguês, mas que só vão parar quando estiver todo o poder da sociedade nas mãos dos próprios trabalhadores.
É com essa visada de longo prazo que apresentamos, junto do PCB, um Programa Anticapitalista para as Cidades, expressando os interesses da maioria trabalhadora – não buscando as migalhas que nos dão os capitalistas, mas combatendo duramente os interesses deles no dia a dia, na gestão das nossas cidades, nas câmaras de vereadores, e em todos os espaços de luta e vida dos trabalhadores.
É com esse programa que pautaremos, desde o princípio, a estatização completa dos transportes públicos; brigaremos lado a lado com condutores, cobradores, técnicos pelo controle popular e pelo direito à cidade para estudantes, trabalhadores, jovens das periferias.
É com esse programa que pautaremos, desde o princípio, o investimento exclusivo na educação pública, laica e de qualidade! Chega de convênios alimentando os empresários da educação e que, ainda por cima, servem de desculpa para o desinvestimento na escola pública. Queremos a universalização da educação infantil e do ensino fundamental, com gestão comunitária e popular de todo o sistema!
É com esse programa que pautaremos, desde o princípio, o uso social da propriedade privada – superando assim tanto o déficit habitacional quanto expandindo a produção cooperativada. Chega da especulação imobiliária mantendo dezenas de milhares de prédios desocupados! Os trabalhadores precisam de moradia!
É, enfim, com esse programa – que não se limita a esses pontos, e que será em breve publicizado a partir da Plataforma Comunista – 21 Pontos para Construir o Poder Popular nas Cidades – que os jovens comunistas vão armados até os dentes lutar onde quer que seja pelos interesses dos trabalhadores, pela construção do Poder Popular, no rumo do Socialismo.
Por que a juventude trabalhadora deve apoiar os comunistas nessa luta? E como?
Quando falamos de apoio a candidatos e candidatas, vários motivos aparecem na cabeça das pessoas. Indo desde as compras de votos praticamente diretas por meio de distribuições de cestas básicas e outras benesses – o famoso “curral eleitoral” – até os mais novos apelos identitaristas (“mulher vota em mulher”, “LGBT vota em LGBT” e suas variações), passando por candidatos monotemáticos sem firmeza ideológica (alguém ainda se lembra da Tabata Amaral e seu “Mapa Educação”?). Em vários casos, a defesa das pessoas é na linha do “Precisamos colocar _________ nos espaços de poder”, preenchendo a lacuna conforme os interesses da educação, das mulheres, dos negros e negras etc.
Nossas futuras campanhas também terão esses mesmos indivíduos: jovens trabalhadores, profissionais da educação, estudantes, mulheres, LGBTs, negros e negras, sindicalistas, trabalhadores da saúde e muitos outros. Mas ela não se restringe a isso, não se restringe a dividir a classe trabalhadora por nichos ou por temas específicos. Todos os jovens comunistas que disputarão as eleições em 2020 terão os interesses do conjunto da classe trabalhadora como guia de suas futuras campanhas, de suas lutas e de suas intervenções nas câmaras e prefeituras em que formos eleitos.
Além disso, um outro tema tem aparecido cada vez mais: o tema das candidaturas coletivas, das bancadas, dos blocos para vereança, principalmente. Para os comunistas, nada disso é novidade: todas as nossas candidaturas são coletivas, porque são apenas um momento de uma discussão e uma prática política que envolve milhares de militantes em todo o país. E os comunistas também alertam: não somente as nossas candidaturas são coletivas, todas são! Os políticos que estão no poder defendendo os interesses do empresariado também tem a sua coletividade – são as empresas que financiam suas campanhas, são os lobbystas internacionais que lhes dão as pautas, são os “institutos de formação de lideranças” que lhes moldam para defender o liberalismo, mesmo que pintado com as cores da esquerda. Eles desejam esconder essa coletividade, porque não pega bem, afinal, ser como Paulo Guedes, Ministro da Economia e capacho imperialista nas horas vagas, que é dono de um banco de investimentos e quer uma Reforma da Previdência que vai possibilitar seu enriquecimento. Nós, os comunistas, não escondemos nossa coletividade – vamos de peito aberto, demonstrando a todo momento que nossa campanha é de trabalhadores, por trabalhadores, para trabalhadores.
É por esses motivos (e outros ainda) que o PCB trabalha sempre na lógica da Campanha-Movimento – nossa política não é a dos candidatos “humanos geniais, salvadores da pátria”, mas do trabalho coletivo intenso e extenso, do vínculo direto com as lutas dos trabalhadores. Para os comunistas, uma campanha eleitoral é apenas mais um momento para fazermos o que fazemos todos os dias: ir aonde o povo está. E nesses lugares, ajudarmos a organizar a luta e fazermos a disputa política honesta, aberta e revolucionária, levando de peito aberto nosso programa e dispostos a construí-lo no dia a dia com cada trabalhador e cada trabalhadora. Nossa campanha não é quando saímos de gabinetes encastelados e vamos comer pastel no meio do povão; a Campanha-Movimento é onde estamos mais à vontade, no meio da nossa classe, apresentando nossas propostas e aqueles que poderão encampá-las em todos os lugares – seja no sindicato, na associação de moradores, na entidade estudantil e também nas prefeituras e câmaras de vereadores.
Quem quiser ver trabalhadores e trabalhadoras lutando nas trincheiras das lutas que são as instituições do Estado – trincheiras que soterraremos assim que os trabalhadores fizerem a revolução –, terá nos jovens comunistas lutadores incansáveis pelos interesses da classe trabalhadora.
“Beleza, mas e aí? Concordei com tudo o que você disse. Como eu ajudo então?”
Como Campanha-Movimento, as campanhas dos jovens comunistas são campanhas dos trabalhadores, construídas a partir do esforço coletivo de centenas e milhares de militantes que doam seu tempo e seu trabalho para reforçar a luta cotidiana. Assim, todos aqueles que quiserem reforçar essa trincheira de luta, estão mais do que convidados a construir as campanhas! Estamos já criando diversos Comitês Populares de campanha para nossas futuras candidaturas, para construir em todas as cidades e territórios um trabalho militante, político, revolucionário que aumente a organização dos trabalhadores para a luta pelos interesses objetivos da nossa classe.
Da mesma forma, como vivemos na sociedade capitalista, uma campanha eleitoral custa dinheiro. Mas a Campanha-Movimento do PCB não segue a lógica (já muito bem estabelecida nos partidos da ordem) de receber dinheiro de empresários e lobbystas para favorecer seus interesses. Nossa campanha, até mesmo na questão da arrecadação financeira, é uma campanha de trabalhadores, por trabalhadores, para trabalhadores. Quer ajudar a eleger um comunista mas está sem tempo? Seus dez reais de contribuição serão um passo em frente no rumo da revolução socialista. Parece exagerado, mas é nas pequenas tarefas do dia a dia que construímos uma alternativa à sociedade capitalista.
É claro que, para essa Campanha-Movimento, importam tanto a Campanha como o Movimento. Assim, também chamamos os companheiros e companheiras que queiram engrossar as fileiras da luta pelo socialismo, nos dar os braços e apertar firmes para fazermos desse momento eleitoral o primeiro passo em suas trajetórias individuais de luta organizada. Temos a certeza de que os milhares de jovens que hoje constroem o Movimento por uma Universidade Popular e o Movimento por uma Escola Popular verão os programas que eles constroem no dia a dia, em cada escola e cada universidade, refletidos na nossa campanha; que os jovens que constroem conosco os movimentos anti-imperialistas, de solidariedade aos povos do mundo todo, verão a luta pela paz mundial refletida no nosso programa; que os jovens que constroem conosco o movimento nos bairros, contra a violência policial direcionada aos jovens negros e periféricos, verão a luta pela igualdade e contra a opressão refletida nas nossas propostas; e que os jovens que desejam o fim da exploração verão em nossos candidatos não apenas representantes do povo trabalhador – verão neles companheiros de luta por um mundo melhor.
Essas são as cartas na mesa, esses são os motivos dos jovens comunistas disputarem essas eleições, esses são os motivos por que os trabalhadores podem confiar em nós, votar em nós e lutar conosco, nas eleições e depois delas.
De peito aberto, venceremos a barbárie. O socialismo é mais do que possível: é urgente.
Gabriel Lazzari
Secretário Político Nacional
União da Juventude Comunista