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Poema dedicado a Carlos Marighela
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Poema dedicado a Carlos Marighela

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EM SEU ENTERRO…

Em seu enterro não havia velas:

Como acendê-las, sem a luz do dia?

Em seu enterro não havia flores:

Onde colhê-las, nessa manha fria?

Em seu enterro não havia povo:

Como encontrá-lo, nessa rua vazia?

Em seu enterro não havia gestos:

Parada inerte a minha mão jazia.

Em seu enterro não havia vozes:

Sob censura estavam as salmodias.

Mas luz, e flor, e povo, e canto

responderão “presente”, chegada

a primavera mesmo que tardia!

(Ana Montenegro*, Berlim, Outono de 1969)

*Ana Montenegro, amante das letras, jornalista e advogada, foi uma histórica militante do PCB, ingressando em suas fileiras em 1944 e permanecendo nele até seu falecimento em 2006. Ana cumpriu importante papel no Movimento de Mulheres nacional e internacionalmente, chegando a ser parte da Comissão da América Latina pela Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM). Também foi grande amiga de Carlos Marighela, sendo indicada por ele a se exiliar em 1964, logo após o golpe militar.