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O Depois das Eleições da UFBA
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O Depois das Eleições da UFBA

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O primeiro semestre de 2024 foi intenso para os estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), marcado por mobilizações, greves e pelas eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE)1, em que dois projetos disputaram espaço.

A então gestão do DCE, chamada Gestão Esperançar, foi eleita em 2022, durante o governo Bolsonaro, em um contexto de retorno às aulas após a pandemia. Naquele momento, o movimento estudantil da UFBA já apresentava uma nova configuração, com uma oposição de esquerda fortalecida. A eleição foi marcada pela transição do Afronte para uma aliança com a UJS2 e a JPT3, que obteve uma votação expressiva. A oposição, composta por UJC, UJR4 e Juntos!5, não venceu, mas desde então só cresceu na universidade.

Com o início de 2024, a Gestão Esperançar se tornava a mais longa da história do DCE UFBA, acumulando mais de dois anos de vigência. O calendário eleitoral, requisitado pela oposição no final de 2023, foi constantemente adiado. Nesse cenário, a UJC começou a construir a unidade da oposição de esquerda, entendendo que a tarefa central era remover a burocracia da UJS e JPT da gestão para o movimento estudantil voltar a respirar.

Durante as greves de técnicos e docentes, a oposição se mobilizou para deflagrar uma greve estudantil. No entanto, a gestão Esperançar aplicou manobras – verdadeiros golpes – para impedir essa mobilização. Mesmo após uma assembleia, a gestão organizou uma votação online – algo inédito no movimento estudantil da UFBA – após longas horas de adiamentos. Durante esse processo, diretores da UNE e outras entidades foram chamados para caluniar o movimento grevista e ameaçar os estudantes com a perda de assistência estudantil, caso a greve fosse aprovada. Como resultado, a greve estudantil não foi deflagrada, e a participação dos estudantes na greve foi reduzida. Apenas setores mais organizados, como o campus de São Lázaro e a pós-graduação, aderiram à greve, desafiando o DCE e participando da greve nacional da educação.

Com o início da greve docente, a Gestão Esperançar prolongou seu mandato, alegando que convocaria o Conselho de Entidades de Base (CEB)6 Eleitoral após o fim da greve. Contudo, utilizaram subterfúgios para indicar uma Comissão Eleitoral sem a participação justa da oposição, algo inédito na história do DCE. Assim, foram convocadas as eleições para o DCE UFBA.

A UJC intensificou seus esforços para articular a oposição de esquerda, integrando e construindo a chapa 2, “Nada Será Como Antes: Oposição“, juntamente com a UJR e a Fogo no Pavio. Apesar dos esforços para atrair outras forças de oposição, isso não foi possível. O Afronte, por exemplo, utilizou essa situação como moeda de troca para negociar seu tamanho na chapa 1, Viração, com a UJS. Outras forças minoritárias também não participaram, seja por uma postura esquerdista ou por sua pouca atuação recente no movimento estudantil, ou ambos os motivos.

Apesar de ocupar uma posição minoritária na composição da chapa, a UJC não poupou esforços para disputar as bases, fazer campanha e conquistar corações e mentes em prol de um projeto de democracia e luta no DCE UFBA. Felizmente, havia um terreno fértil para as propostas da oposição, já que a incompetência e o peleguismo da Gestão Esperançar eram evidentes. O necessário era apenas a presença de quem estivesse disposto a fazer diferente, a lutar por um futuro melhor, e assim trazer os estudantes para a luta conosco.

O resultado dessa campanha, conduzida com garra, dedicação e uma política avançada, que não se rebaixou às provocações nem hesitou em defender uma concepção de Universidade Popular, foi evidente nas urnas. Apesar de contar com menos recursos, a chapa da oposição foi derrotada por uma margem mínima: apenas 300 votos, em um universo de mais de 5 mil. Obtivemos 46% dos votos, com avanços significativos em áreas antes dominadas pelo Afronte e pela JPT. Isso, mesmo com as manobras da UJS e JPT, que dificultaram a saída das urnas e tentaram recolhê-las mais cedo, impedindo a pós-graduação de votar.

Embora seja uma derrota, não adianta cantar vitórias vazias. Entendemos que essa derrota se deve, em parte, às dificuldades materiais enfrentadas pela nossa chapa. Além disso, a falta de unidade da oposição de esquerda, ainda marcada por um esquerdismo paralisante, também pesou. O Afronte, cada vez mais alinhado à política da UJS, contribuiu para esse resultado preocupante. Ainda assim, reconhecemos os avanços feitos. A oposição está maior do que nunca, conquistamos a maioria das urnas, há a possibilidade de obtermos maioria no CEB e observamos uma maior disposição para o trabalho conjunto. Nossa confiança política, tanto entre nós como em relação a nós mesmos, está renovada.

A UJC sai dessa eleição fortalecida, maior e mais experiente, deixando sua marca na política universitária. Não vencemos as eleições, mas mostramos que o movimento estudantil não se faz com golpes. Ser gestão não basta; é necessário estar presente para dirigir a política. Saímos mais fortes e com o olhar voltado para o futuro. Agradecemos a todos que acreditam em nós e na oposição de esquerda para renovar a política da UFBA. Seguimos em frente, certos do nosso caminho.

União da Juventude Comunista – Núcleo UFBA

27 de setembro de 2024


Glossário

  1. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) é a entidade máxima de representação estudantil em universidades e faculdades. Seu objetivo é defender os interesses e direitos dos estudantes, atuando em pautas acadêmicas, políticas e sociais. Entre suas atribuições estão a organização de mobilizações, promoção de debates e eventos, além de representar os estudantes perante a administração universitária e em fóruns externos, como entidades nacionais e movimentos sociais. Em suma, o DCE tem a função de fortalecer a participação do corpo estudantil nas decisões que afetam a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. ↩︎
  2. União da Juventude Socialista (UJS), a juventude do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). ↩︎
  3. Juventudes do Partido dos Trabalhadores (PT) ↩︎
  4. União da Juventude Rebelião (UJR), a juventude do Partido Comunista Revolucionário (PCR). ↩︎
  5. Coletivo de juventude do Movimento Esquerda Socialista (MES), corrente interna do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). ↩︎
  6. O Conselho de Entidades de Base (CEB) é um fórum de deliberação composto por representantes de Centros Acadêmicos (CAs) e Diretórios Acadêmicos (CAs), que são entidades estudantis a nível de cursos. Seu principal objetivo é discutir e decidir sobre temas de interesse dos estudantes, como políticas acadêmicas, questões administrativas e mobilizações. Em suma, o CEB deve funcionar como um espaço para coordenar ações entre as diversas entidades estudantis e o DCE, buscando unir as demandas das diferentes áreas da universidade e fortalecer a participação coletiva dos estudantes. ↩︎