por Ricardo Lima
Reza a boca pequena pelas falas dos liberais, dos anticomunistas, dos escritores acadêmicos que partilham de uma visão de mundo afirmativa sobre o status quo, ou seja, que afirmam que o que está aí rolando no mundo deve naturalmente continuar como sempre foi, frases que desejam, com a mais profunda convicção, desestimular os e as jovens comunistas.
São frases como: “O comunismo é uma doença que se dá dos dezoito aos vinte e oito”. Ou: “quem não foi comunista até os vinte anos não tem coração, quem é depois dos trinta não tem juízo”. Mas há várias outras. Reacionários, conservadores que foram talvez até rebeldes em sua juventude, sentem-se tão fracos na sua velhice intelectualóide necrosada – até mesmo ao ponto de colocar em um mesmo patamar comunismo e fascismo/nazismo, sem um entendimento claro do caráter social e de classe de um ou outro, ou por pura desonestidade — e desejam tanto o seu lugar-comum, o seu bem-estar, a sua mordomia de quem já tem a vida ganha, que querem (medrosos, covardes!) neutralizar a força de todos aqueles e aquelas que, em sua juventude, tem o anseio de mudar o mundo radicalmente.
A juventude tem, com certeza, muito a aprender com seus erros e com os erros históricos do movimento socialista, e a construir com seus acertos e espírito questionador e crítico — o espírito de um marxista-revolucionário — o futuro. Mas com todas as nossas incertezas nessa existência contemporânea, sob o jugo do sistema opressor capitalista, muitos(as) se cansam da militância e ficam, no decorrer da vida, pelo caminho. É sim um caminho difícil: jovens camaradas se dedicam à luta no Movimento Estudantil; outros(as) nos movimentos de bairro, outro(as) sequer têm tempo para alguma militância concreta (mesmo que tenham consciência de suas tarefas, por causa do trabalho, estudo e das dificuldades cotidianas). A vida no capitalismo pesa, a militância pode ser cansativa em vários momentos.
Para os inimigos da classe trabalhadora e dos comunistas, como Carlos Lacerda (ex-comunista), ou mesmo como o considerado Nelson Rodrigues e ultimamente como o jornalista Reinaldo Azevedo, para citar alguns exemplos [1], o comunismo é um erro, um ilusão idiota para a juventude. Não sabem eles — e nem sabem tantos outros mundo afora, que um/a comunista convicto(a), uma pessoa que, na flor da idade, adere conscientemente ao verdadeiro marxismo-revolucionário — não adoece para a revolução e só perde sua convicção sobre a necessidade de mudança da realidade debaixo de bala ou no leito de morte.
Mas não demos atenção ao que dizem os anticomunistas em relação a nós, jovens! Deixemos a palavra com aquele que morreu lutando, crivado de balas. Demos a palavra ao eterno comandante Che Guevara para que nos inspire, à partir da experiência cubana e do espírito Internacionalista:
Quero formular agora, companheiros, qual é a minha opinião, a visão de um dirigente nacional das ORI [2], do que é que deve ser um jovem comunista, a ver se estivermos de acordo todos.
Eu acho que o primeiro que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser um jovem comunista. Essa honra que o leva a mostrar perante todo o mundo a sua condição de jovem comunista, que nem o vira para a clandestinidade, que nem o reduz a fórmulas, mas que o exprime a cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrá-lo porque é o seu símbolo de orgulho.
Junto disso, um grande sentido do dever para a sociedade que estamos a construir, com os nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo. Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Ao lado disso, uma grande sensibilidade ante todos os problemas, grande sensibilidade face à injustiça. Espírito inconformado cada vez que surge algo que está mal, tenha-o dito quem o disser. Pôr em questão tudo o que não se entenda. Discutir e pedir esclarecimentos do que não estiver claro. Declarar a guerra ao formalismo, a todos os tipos de formalismo [3]. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para conformar a grande experiência da humanidade, que leva muitos anos a avançar pela senda do socialismo, às condições concretas do nosso país, às realidades que existem em Cuba. E pensar – todos e cada um – como irmos mudando a realidade, como irmos melhorando-a.
O jovem comunista deve tentar ser sempre o primeiro em tudo, lutar por ser o primeiro, e sentir-se incomodado quando em algo ocupa outro lugar. Lutar sempre por melhorar, por ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas sim estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde possam olhar-se os homens e mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que ante o estímulo do exemplo reagem sempre bem. Eis outra tarefa dos jovens comunistas.
Junto disso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não apenas para as jornadas heroicas, mas para todo o momento. Sacrificar-se para ajudar o companheiro nas pequenas tarefas e que poda cumprir o seu trabalho, para que possa cumprir com o seu dever no colégio, no estudo, para que possa melhorar de qualquer maneira. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.
Quer dizer: apresenta-se a todo jovem comunista a tarefa de ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime ao melhor do humano, purificar o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício de solidariedade continuada com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando um homem é assassinado em qualquer canto do mundo e para se sentir entusiasmado quando em algum canto do mundo se alça uma nova bandeira de liberdade.
O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território, o jovem comunista deve praticar o internacionalismo proletário e senti-lo como coisa de seu. Lembrar-se, como devemos lembrar-nos nós, aspirantes a comunistas cá em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América, para outros países do mundo que lutam também noutros continentes pela sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neocolonialismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos. Lembrar sempre que somos um facho acesso, que somos o mesmo espelho que cada um de nós individualmente é para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem nele os povos da América, os povos do mundo oprimido -que lutam pela sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. Em todo o momento e a toda a hora ser dignos desses exemplos.
Isso é o que nós julgamos que deve ser um jovem comunista. E se se nos dissessem que somos quase uns românticos, que somos uns idealistas inveterados, que estamos a pensar em coisas impossíveis, e que não se pode atingir da massa de um povo que seja quase um arquétipo humano, nós temos de contestar, uma e mil vezes, que sim, que sim se pode, que estamos no certo, que todo o povo pode ir avançando, ir liquidando intransigentemente todos aqueles que ficarem atrás, que não foram capazes de marchar ao ritmo a que marcha a revolução cubana. Tem de ser assim, deve ser assim, e assim é que será, companheiros, será assim, porque vocês são jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver num mundo novo de onde terá desaparecido de vez todo o caduco, todo o velho, tudo o que representar a sociedade cujas bases acabam de ser destruídas.
Para atingirmos isso cumpre trabalhar todos os dias. Trabalhar no senso interno de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos de aumento da compreensão do mundo que nos rodeia. Inquirir e pesquisar e conhecer bem o porquê das coisas e colocar sempre os grandes problemas da Humanidade como problemas próprios.
Num momento dado, num dia qualquer dos anos que venham após passarmos muitos sacrifícios, sim, depois de termo-nos porventura visto muitas vezes à beira da destruição- após termos porventura visto como as nossas fábricas foram destruídas e de tê-las reconstruído de novo, depois de assistirmos ao assassinato, à matança de muitos de nós e de reconstruirmos o que for destruído, ao fim de isso tudo, um dia qualquer, quase sem repararmos, teremos criado, junto dos outros povos do mundo, a sociedade comunista, o nosso ideal.
Fragmento do discurso de Ernesto Che Guevara no ato da comemoração do II Aniversário da integração das organizações juvenis, comemorado em 20 de outubro de 1962, no Teatro Chaplin. [4]
Seremos nós, estudando de forma crítica, aprendendo a partir dos estudos da vida, sendo solidários e humanos contra a lógica capitalista, que lutaremos para a construção da nova sociedade, do socialismo. Ou não. E aqui devemos refletir e ter cuidado com demasiadas esperanças românticas: pode ser sim que a juventude seja ganha para a luta anticapitalista, anti-imperialista, socialista, rumo ao comunismo. Mas sob a luta de classes – principalmente nos seus períodos mais agudos – sem uma organização claramente definida como uma organização de práxis revolucionária (marxista-leninista) no próprio país e no mundo todo, lutando em prol dos filhos e filhas da classe trabalhadora e com a classe trabalhadora, o fascismo, o liberalismo, o anticomunismo podem ser alternativas à juventude.
Não sejamos fatalistas. Depende de nós neste século XXI, com todas as suas mudanças tecnológicas e comunicativas, lutar organizados e coesos no sentido de ganhar a juventude para e pelo socialismo. Mas o fatalismo de acreditar piamente, sem críticas à determinadas concepções inebriantes de que “é inevitável a vitória do socialismo nesta época” [5] pode levar o(a) jovem militante, em determinado momento da vida madura, a um cansaço, a um certo tipo de desilusão revolucionária que confirmaria as frases dos indivíduos conservadores citados acima. É necessário estar sempre atento a esse fator também.
Para além disso, nas conversas de bares cantando, discutindo a história da humanidade e celebrando, antes e durante os eventos esportivos criticando o machismo, o racismo e a homofobia, na periferia alertando e denunciando o Estado burguês e a sua força armada que fuzila jovem preto usuário e que não reprime “playboy” também usuário nos condomínios de bairros burgueses, nas universidades criticando suas limitações de classe e interesses corporativistas e elitistas, no apoio às greves, nos piquetes é que formamos nosso espírito aguerrido… Che Guevara nos inspira. E é nosso dever não esmorecer, mas saber dos nossos limites, quando aparecerem, para descansar, pensar, estudar e, logo após, seguir lutando com mais força. Com disciplina, sim, mas sem perder o romantismo que nos é inerente e a ternura jamais.
O futuro, a vida plena e livre para as próximas gerações depende de nós. Aliás, o comunismo é a juventude do mundo! Que os intelectualóides da direita, reacionários, fascistas, imperialistas, enfim, que os capitalistas tremam sob a convicção revolucionária de uma juventude realmente marxista-leninista, uma juventude comunista.
Referências
[1] Ver o texto do jornalista liberal, lacerdista e direitista, Lucas Berlanza:
< https://www.institutoliberal.org.br/blog/quem-nao-foi-comunista-na-juventude-comecou-bem/
[2] ORI ( Organizações Revolucionárias Integradas) seria, posteriormente, o PCC (Partido Comunista Cubano)
[3] Esta preocupação de Che em relação aos formalismos, nos parece ser uma crítica às formas manualistas e imediatas para um jovem estudante e militante marxista-leninista. Há que se ter cuidado e criticidade em uma formação ou informação qualquer que seja, por quem seja dada, etc.
[4] Extraído de < https://ujc.org.br/o-que-deve-ser-um-jovem-comunista-por-che-guevara/ >
5] Ora, pensemos: se a vitória do socialismo fosse inevitável para que diabos serviria a organização? A Revolução Socialista no próprio país e no mundo todo é uma necessidade histórica para a humanidade, não uma determinação histórica. O fatalismo socialista deve ser extirpado das jovens fileiras comunistas.
Ricardo Lima, estudante de Filosofia na Universidade Estadual do Ceará, jovem trabalhador e militante da UJC no Estado do Ceará.