O CAPITAL, OS ROYALTIES E AS CLASSES
O CAPITAL, OS ROYATIES E AS CLASSES
William Alexandre(*)
Por todo canto só se fala em petróleo, em pré-sal, em royalties. É o que está na pauta da mídia, na boca do povo, na ordem do dia. O petróleo é a bola da vez. Para além disso, é o mais novo engodo de um governo reacionário e capitalista. É a tática recém-criada pelos neoliberais para dividir o povo brasileiro, jogar trabalhador contra trabalhador e escamotear as… verdadeiras questões, que nunca são debatidas.
“O petróleo é nosso” dizem os cariocas, “o petróleo é do Brasil”, dizem os não-cariocas. O petróleo é da humanidade, diria qualquer um com o mínimo de bom-senso. Digam-me em que livro da natureza (ou mesmo divino) está escrito que os recursos naturais pertencem a alguém em caráter privado. A apropriação do petróleo é apenas mais um dos tantos roubos promovidos pelas classes dominantes ao longo da história. Em última instância, o petróleo pertence a toda humanidade.
Sendo assim, se fosse para fazer o jogo capitalista e dizer a quem devem pertencer os royalties, diria que pertence a todos que dele dependem, ao Rio, ao sudeste, ao nordeste, à África. Se fosse para entrar no debate desviacionista, diria que os royalties do petróleo devem servir à reposição ou, ao menos, à amenização dos impactos provocados por sua própria exploração e ao desenvolvimento dos povos que, por sorte ou azar, não o possuem em seu território. Se fosse para me eximir das críticas diria somente isso.
Mas tudo que tem se falado não passa de um grande embuste. A grande questão, e que em nenhum momento foi colocada é a seguinte: “A quem pertence o petróleo, aos capitalistas ou aos trabalhadores?”. Pouco importa se o roubo vai ser em escala estadual ou nacional, ou mesmo internacional, se realizado por empresários patriotas ou transnacionais. Aos trabalhadores, e só a eles, cabe a riqueza que só por eles é produzida. Isso nunca foi dito, nem pela mídia, nem pelos partidos envolvidos nos protestos, muito menos pelos empresários.
Como se não fosse o bastante, nem a riqueza produzida pelo petróleo está sendo discutida, só os royaties estão em disputa. Para esclarecer, royalties são a “importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, etc., ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização”. Em suma, o que está sendo disputado nem é a riqueza propriamente dita, mas as migalhas, as esmolas do pré-sal.
É por isso que me recuso a entrar nesse debate que visa unicamente apaziguar a luta de classes que vem ganhando uma nova dinâmica em nível mundial, e que pode ser vista claramente nas greves, nas ocupações de faculdades, nas passeatas e nos levantes que se multiplicam pelos quatro cantos do planeta. Me recuso a ser mais um a reproduzir a ideologia dominante e brigar com meu próprio irmão trabalhador por um direito que é de ambos. Me recuso enfim a acreditar que no fim das contas o Capital venceu e que, com o barco afundando e em meio aos gritos de “salve-se quem puder”, serei um dos que covardemente deixará as mulheres e as crianças para trás.
(*) William Alexandre é estudante de História e membro da UJC-Rio.