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Nota Política da UJC UNEB – Sobre o Restaurante Universitário
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Nota Política da UJC UNEB – Sobre o Restaurante Universitário

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Conjuntura e expectativas

No dia 9 de agosto, tivemos uma grande notícia: teremos o Restaurante Universitário (R.U) neste semestre 2022.2. Com isso, veio um compreensível clima de euforia, visto que as mobilizações pautando a criação desse espaço na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) têm décadas. Apesar disso, existem alguns pontos em que precisamos refletir com um olhar crítico.

Em 2019, o Governo de Rui Costa (PT) cortou das universidades públicas estaduais um montante na casa dos R$ 110 milhões, o que levou à greve de estudantes e professores da rede estadual. Este e outros cortes, que levam a lógica empresarial ao Estado, prejudicam estudantes em vários sentidos, devido a ter se instaurado, na Bahia, uma briga entre quem cumprirá uma agenda totalmente voltada aos interesses da classe dominante, o ACM Neto, e do outro aqueles que, vez ou outra, cumprirão essa agenda, mas acenando às pautas estudantis, os governos petistas. Precisamos construir alternativas!

Antes de mais nada, ainda será necessária muita mobilização, pois o que temos até o momento é um “CONFIA que vai dar certo”. O R.U é uma política de permanência que está sendo feita em segundo plano pela Universidade, haja visto a inauguração, ainda em dezembro de 2021, de um espaço que não funciona. Somente nesta quarta-feira, dia 27 de outubro de 2022, ou seja, 9 meses após o início da nova gestão da reitoria, é que o ofício referente a licitação para uma empresa privada efetivar o funcionamento foi encaminhado para a Chefia de Gabinete da UNEB, dado que pode ser consultado sem muita dificuldade pelo Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Processo esse que, inclusive, vem com um relativo atraso, haja vista a promessa da licitação ser liberada em meados deste mês, e não no final de outubro. Quem tem fome, tem pressa!

Quantos dos nossos colegas e amigos, no decorrer desses anos de formação, não precisaram abandonar os estudos pela falta de uma política de permanência tão fundamental quanto a alimentação dos estudantes? Quantos deles nem pensaram entrar, sabendo da impossibilidade de garantir sua alimentação para estudar?

A evasão nas universidades públicas está em cerca de 20% durante a pandemia, o que significa que a cada turma com 30 estudantes, 6 deixaram de frequentar aulas. Isto é o que acontece quando se tem uma universidade que inclui, só que deixa as políticas de permanência estudantil em segundo plano. Na UNEB, há cursos com evasão de 50%!

Comemorar faz parte, mas sempre com um olhar crítico. Não podemos celebrar algo que não está concreto, a exemplo das bolsas do Mais Futuro que saíram recentemente depois

de mais de 2 meses de espera, com muitos universitários sendo barrados para o recebimento. O que se desenha na conjuntura agora, no caso do R.U, é um PROVÁVEL funcionamento SE uma empresa privada vencer o edital e TALVEZ realmente cumprir com o que estará no papel.

Temos lutas fundamentais também para garantir o que estará no papel. Sabemos da tentativa de colocar o preço do almoço para R$ 16,00 para aqueles estudantes que não são beneficiários de alguma ajuda institucional. Esse preço é inviável para TODOS os estudantes da UNEB, considerada pela mesma uma “universidade popular”. Ora, que Universidade é essa onde, apenas com uma alimentação por dia, o estudante seja obrigado a pagar, em média, R$ 350,00 por mês? Isso sem contar as despesas com aluguel, energia, água, transporte e toda a sorte de coisas a que um estudante estará submetido a gastar nos anos de graduação. Reforçamos que nenhuma outra instituição de ensino superior do Brasil possui esse preço no almoço, e não será na UNEB que permitiremos que isso aconteça.

Outra questão surge desse mesmo problema. Como conversado na última assembleia de CAs, DAs e o DCE, os estudantes beneficiários de algum programa de assistência estudantil, que terão direito a um almoço com o preço mais barato, deverão apresentar comprovação de que recebem algum auxílio. Essa prática, além da burocracia e do dispêndio de tempo a que os estudantes serão submetidos, é também uma prática vexatória, de avivamento da condição de pobreza dessas pessoas, e não deve ser permitida. Devemos lembrar que um estudante de  perfil  básico  do  programa  Mais  Futuro  recebe  apenas  R$ 300,00, ou seja, menos do que um estudante não beneficiário gastará por mês apenas com almoço. Sabemos que, concretamente, ainda que morem a cerca de 100 km do campus, o estudante de perfil básico, via de regra, opta por viver de aluguel no período da graduação, tendo que se desdobrar para conseguir viver com uma ajuda tão deficitária. Devemos lutar por refeições 100% subsidiadas pelo Estado da Bahia!

Por último, e, definitivamente, não menos importante, é necessário salientar a problemática para a própria Universidade, permitir um preço tão exorbitante nas refeições do

R.U. Primeiro, como dissemos antes, a UNEB logra o título de “universidade popular”. O perfil dos estudantes do Campus I não é compatível com a faixa de renda da população soteropolitana que pode arcar com esse valor diariamente. Em segundo, outros espaços, a exemplo das cantinas do Departamento de Ciências Humanas (DCH) e do Departamento de Educação (DEDC), servem almoços a preços menores que R$ 16,00. Qual estudante, em sã consciência, gastaria mais, sem poder, simplesmente para ajudar a universidade a cobrir seus gastos? Com esse preço, em pouco tempo veremos o abandono desse espaço e os gastos relativos ao funcionamento do edifício e da compra dos utensílios para preparar a comida (devemos lembrar que, pela lógica neoliberal atual, a universidade e o governo do estado

gastaram com toda a infraestrutura para a empresa privada apenas gerir o processo). Vale mesmo a pena deixar que isso aconteça?

Como nos mobilizar?

A mobilização estudantil é imprescindível para conseguirmos conquistar nossas pautas. Devemos pressionar os órgãos administrativos da UNEB e do governo da Bahia, temos que mostrar a todos o quão caras são nossas reivindicações por permanência estudantil. Não devemos temer nos organizar e ocupar os espaços dos mais diversos, sejam esses vias institucionais ou ocupação das ruas!

Entendemos a precariedade e o espontaneísmo a que os estudantes foram submetidos com a convocação para esse dia 31 de outubro. No entanto, diante dos atrasos para a entrega e para o funcionamento do R.U, presenciamos uma revolta intensa dos estudantes, revolta essa que, sendo comunistas, é nossa tarefa estarmos juntos, analisando, criando condições adequadas, materiais e de consciência, para orientar as lutas a um fim coerente com os anseios da classe. Por isso, estivemos presentes no dia 31 de outubro, nesta segunda-feira, por ser uma data que marca o início de uma luta para além dos trâmites institucionais. Mesmo com toda a dificuldade da mobilização, inclusive pelo ato ter sido puxado logo após esse conturbado processo eleitoral, foi muito positiva a postura dos estudantes que se fizeram presentes, tendo sido ouvidos pela Vice-Reitora Dayse Lago.

Entendemos também que a representação estudantil máxima da Universidade é o Diretório Central dos Estudantes (DCE). É verdade que a atual gestão foi fundamental na mobilização dos estudantes para a entrega do prédio do R.U, além de vir tocando tarefas, por vias institucionais, de pressão para a abertura real do Restaurante. Um feito, nessa última reunião dos CAs e DAs, foi a criação da comissão do R.U, formada por estudantes e pró- reitores. Por isso, assinalamos também a necessidade de participação da Assembleia Estudantil convocada pelo DCE, no dia 04 de novembro, nesta sexta-feira. Aguardamos para o esclarecimento do que foi feito até então e como prosseguiremos daqui para frente.

O que não podemos fazer, e definitivamente não o faremos, é esperar que nós não atuemos em face às demandas mais urgentes pela permanência estudantil na UNEB. A participação nessas duas frentes de luta é fundamental, além das outras que seguirão, até podermos celebrar o fato de um R.U. QUE FUNCIONE, DE QUALIDADE E SUBSIDIADO PARA TODOS! A luta por uma Universidade Popular é uma tarefa histórica para a construção da revolução brasileira e do socialismo!

Até a vitória, camaradas!