Home Estados Acre A resposta para o assédio na universidade não é a omissão!
A resposta para o assédio na universidade não é a omissão!
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A resposta para o assédio na universidade não é a omissão!

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O Movimento por uma Universidade Popular (MUP) manifesta sua solidariedade à estudante que foi vítima de assédio na última terça-feira, dia 27/05, durante o evento INOVACRE, na Universidade Federal do Acre (UFAC). A estudante, que participava como presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil a convite do Diretório Central dos Estudantes (DCE), foi assediada por um membro do próprio DCE. A coragem ao denunciar publicamente o ocorrido é um ato de resistência e contribui como alerta para todas as mulheres, e demonstra que infelizmente mesmo quando mulheres ocupam espaços de representatividade como o de presidência do Centro Acadêmico do curso, não são respeitadas. O fato de a violência ter partido justamente de um representante estudantil torna ainda mais grave o ocorrido, evidenciando a reprodução de práticas misóginas até mesmo de onde se espera acolher a categoria estudantil que representa.

É inadmissível que o DCE, órgão representativo dos estudantes, não apenas tenha entre seus membros agressores, mas também tenha tentado silenciar a vítima oferecendo em troca um “cargo” na estrutura do diretório. Essa tentativa escancarada de compra de silêncio coloca a público a lógica de favorecimentos e troca de cargos que o DCE vem adotando nesse e em outros casos. É inadmissível que, diante da sua responsabilidade no caso, a entidade estudantil se preocupe mais em proteger a imagem de seus membros do que em acolher a vítima e enfrentar a situação de forma responsável e coerente.

Infelizmente, casos como esse não são isolados. O histórico da UFAC é marcado por episódios de assédio que envolvem estudantes, professoras, técnicas, terceirizadas e até membros da comunidade externa que são agredidas nas dependências do campus universitário. Em todos esses casos, a impunidade se repete como regra, e a inoperância da ouvidoria da UFAC aprofundam as marcas desse tipo de violência. A comunidade acadêmica se pergunta: como estão sendo tratadas as denúncias? Há acompanhamento psicológico e jurídico às vítimas? Quais medidas estão sendo tomadas para romper com essa lógica perversa e garantir um ambiente acadêmico seguro? Os estudantes e trabalhadores da UFAC não podem contar com a estrutura administrativa da universidade, muito menos com um DCE que age acobertando agressores.

Ademais, o desaparecimento da administração superior perante aos casos de assédio na UFAC, nos apresenta um cenário onde se é preterido esperar toda e qualquer polêmica pública cessar, ao invés de se prestar apoio a uma vítima. O que acontece com as vítimas no fim das contas? Se tornam caso de notícia, o assediador sai impune e se instaura uma insegurança nos corredores da universidade. Os estudantes desta casa podem passar pelo assédio e outros tipos de crime, mas todos serão respondidos com o silêncio dessa gestão, que há anos só tomam providência quando não conseguem tomar por cansaço quem por ventura criticá-los. Vale rememorar que, há um ano, antes deste caso de assédio vir a tona, a universidade estava em greve, e as diversas representações do movimento estudantil estavam presentes nas negociações com a reitoria para que se fizessem ser ouvidas as adolescentes do Colégio de Aplicação, vítimas de assédio, que apenas com meses de luta, uma série de ameaças sofridas e muita persistência resultou na exoneração do servidor em questão. De volta ao caso em questão fica claro que é urgente que a UFAC atue com seriedade e celeridade, garantindo o devido acolhimento à estudante e a responsabilização dos envolvidos. Precisamos do fim da cultura de impunidade e silenciamento para construir um ambiente acadêmico saudável e seguro.

Casos de assédio não podem ser minimizados, relativizados ou tratados como meras “ocorrências”. Estamos falando de violência, que é crime, e precisa ser combatida principalmente pela estrutura administrativa. O MUP, por meio desta, convida a comunidade acadêmica à reflexão: a administração superior e as lideranças estudantis que queremos para a UFAC são realmente essas figuras que não se pronunciam perante assédio e pior, tentam silenciar vítimas com barganhas fajutas? Parabenizamos os Centros Acadêmicos que tem atuado numa corrente de apoio a estudante, alguns cortando parcerias e relações públicas com o Diretório Central de Estudantes e exigimos, diante dos fatos, um posicionamento público da reitoria e da diretoria do DCE. Acreditar em uma universidade popular é também entender que as condições de estudo também englobam a segurança de que se é possível transitar pela universidade sem se tornar mais uma vítima.

Rio Branco, Acre, 2 de junho de 2025
Movimento por uma Universidade Popular (MUP)