Home Internacional Não há orgulho no genocídio: nota do movimento LGBTQIA+ palestino Al-Qaws
Não há orgulho no genocídio: nota do movimento LGBTQIA+ palestino Al-Qaws

Não há orgulho no genocídio: nota do movimento LGBTQIA+ palestino Al-Qaws

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A Parada do Orgulho LGBTIA começou como uma manifestação liderada por ativistas queer e trans negros, indígenas e pessoas não-brancas nos Estados Unidos, na década de 1960. Esses ativistas se levantaram contra décadas de brutalidade e perseguição policial e reivindicaram as ruas como um local de libertação em forma de protesto. A primeira “Parada do Orgulho” foi uma manifestação e também uma expressão de cuidado e apoio comunitário que ativistas queer e trans criaram como resultado de sua exclusão da sociedade.

Hoje, o Orgulho foi despolitizado e suas raízes no trabalho de ativistas queer e trans foram apagadas. Em vez disso, a política do Orgulho é dominada por vozes brancas, cis, masculinas e burguesas. Esse apagamento é uma forma de violência contra o legado daqueles que foram às ruas reivindicando dignidade e autodeterminação. O Orgulho nunca teve a ver com corporações patrocinando nossas marchas ou celebrando a inclusão de gays e trans nas Forças Armadas. Sua origem está na resistência à opressão estatal e na oposição à violência racial, sexual e de gênero.

“Orgulho” e os termos relacionados, como “sair do armário” e “visibilidade queer” surgiram no contexto político e cultural específico da América do Norte e da Europa. Hoje, são usados ​​como ferramentas imperialistas para medir os chamados níveis de emancipação LGBTQIA+ em todo o mundo. Embora tais termos tenham se tornado formas dominantes de descrever experiências queer e trans, ativistas no Sul Global demonstraram que tais termos não são universalmente significativos ou relevantes para descrever nossas experiências. É problemático impor noções de orgulho, sair do armário e visibilidade como parâmetros primários ou aspirações políticas para comunidades LGBTQIA+ em todo o mundo.

Durante a recente explosão das lutas de libertação palestina contra a violência colonial israelense, os sionistas inundaram nossas redes sociais com declarações como “tentar organizar uma parada do orgulho em Gaza”. Tais declarações são características do pinkwashing e são usadas para deslegitimar a revolta anticolonial palestina. Essas declarações se encaixam em um contexto mais amplo de racismo estrutural, no qual Israel é retratado como esclarecido e defensor dos direitos gays, enquanto os palestinos, especialmente aqueles em Gaza, são uniformemente descritos como anti-gays e, portanto, merecedores de assassinato e expulsão de nossa terra.

Comentários como esses não são fruto de uma preocupação genuína com as vidas queer e trans e com a violência que enfrentamos. Independentemente da dinâmica interna da sociedade palestina, o maior obstáculo a qualquer parada na Palestina é o colonialismo israelense e o bloqueio bárbaro que guetizou e fragmentou Gaza do restante da Palestina. Sempre que palestinos se manifestam coletivamente por seus direitos, somos bombardeados pelo exército colonial israelense e silenciados pela grande mídia. A experiência queer palestina nos ensina como o “Orgulho” sem libertação total é uma ideia vazia, sem sentido e enganosa.

Os sionistas destacam o fato de que a Parada do Orgulho LGBTIA em Tel Aviv serve como prova do compromisso de Israel com a libertação queer. No entanto, o Orgulho LGBTIA em Israel é uma estratégia de propaganda patrocinada pelo Estado, projetada para maquiar os crimes coloniais de Israel contra palestinos, sejam eles queers ou não. O maquiamento rosa (pinkwashing) é uma forma de violência colonial que tenta convencer o mundo de que os queers palestinos não têm futuro em nossa terra natal ou entre nossas famílias, e que nosso colonizador agora é nosso “salvador”.

Dependente da violência colonial em curso contra palestinos, o Orgulho de Tel Aviv não é um indicador de progresso ou libertação queer. Ele acontece na cidade palestina de Yaffa, etnicamente limpa, e em seus vilarejos vizinhos, e seu sucesso depende do apagamento de terras, vidas e vozes palestinas.

Sempre que palestinos demonstram qualquer sentimento de orgulho por sua identidade ou por um sentimento de pertencimento indígena, somos brutalmente reprimidos pelo Estado israelense. Nesse contexto, os queers palestinos não têm o privilégio de separar suas sexualidades da violência colonial que determina nosso cotidiano.

Durante o Mês do Orgulho, insistimos na construção de espaços comprometidos com a abolição de todas as formas de opressão. Nesses espaços, forjaremos fortes laços de solidariedade e trabalharemos para viver com dignidade e liberdade.

Abolir os Estados Colonizadores, Libertar as Terras Indígenas, Retomar o Orgulho!

Movimento Al-Qaws
Tradução pela Frente LGBTIA+ do RJ