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Mudar é possível? Seis anos sem Marielle e Anderson, seis anos sem respostas

Mudar é possível? Seis anos sem Marielle e Anderson, seis anos sem respostas

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Seis anos depois, é plausível afirmar que aqueles que não demonstram empatia ou não se comoveram ao conhecer a história de Marielle Franco, Anderson Gomes e o trágico desfecho de ambos, no mínimo, podem ser rotulados como fascistas. Diversos setores da esquerda, políticos que se autodenominam de “centro”, bem como os da suposta direita “moderada”1, e até mesmo a grande mídia burguesa nacional2 e internacional3, lamentaram o brutal e inegável silenciamento político de mais duas vidas negras.

O que diferencia a esquerda, em especial a militância do movimento negro, LGBTQIA+ e outros movimentos sociais da classe trabalhadora, das demais forças políticas, é que tradicionalmente transformamos nossa tristeza em uma luta por justiça e verdade. Hoje, podemos observar que muitas conquistas foram alcançadas devido às incessantes demandas feitas nas ruas, na mídia e nos tribunais, pela via da mobilização popular, buscando a devida punição para aqueles que mataram e ordenaram a morte de Marielle e Anderson.

Atualmente, dispomos de evidências que nos levam a sérias suspeitas sobre os responsáveis pela execução: os ex-PMs Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa (presos desde 2019)4. No entanto, pouco se sabe sobre os mandantes, exceto pelo fato de que provavelmente contrataram os executores devido aos obstáculos que Marielle representava para o avanço das milícias no Rio de Janeiro.

Desde o início das investigações, várias operações policiais foram conduzidas, com Lula e Bolsonaro tentando, sem sucesso e contra a vontade dos familiares, fazer da Polícia Federal a principal instância investigativa5. Cinco delegados passaram pelo caso6, depoimentos sugeriram uma possível ligação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro ao caso (o que nunca foi confirmado)7, e evidências foram supostamente perdidas acidentalmente pela Polícia Civil do Rio de Janeiro8. Além disso, cinco suspeitos de participarem do crime foram mortos9. O caso é profundamente marcado por disputas políticas e tentativas de obstrução dentro da máquina do Estado. O desfecho dos mistérios em torno desse assassinato permanece apenas como uma miragem próxima, que parece se aproximar, mas que nunca se materializa.

O que diferencia os comunistas do restante da esquerda é nossa perspectiva diante desse cenário e para onde acreditamos que essa luta deve conduzir. Somos profundamente céticos em relação às “instituições” e ao tão aclamado “Estado Democrático de Direito”. Se algum dia tivermos uma resposta concreta sobre quem foi o mandante desse crime hediondo, isso não será resultado do “pleno funcionamento das instituições”, mas sim das intensas mobilizações populares em todas as unidades federativas do país e além das nossas fronteiras. São mobilizações das quais a UJC tem orgulho em participar ativamente, dada a significância política do caso e nossa compreensão de que a luta de Marielle não será em vão e deve ser continuada.

Todo dia morre mais um favelado que resolveu confrontar o sistema policial miliciano fascista, que serve unicamente aos interesses da classe burguesa. Engana-se quem acredita que são exceções, que são casos isolados ou que se tratam de um mero “despreparo” da polícia. Esse é o modus operandi das instituições do “Estado Democrático de Direito”, como Marielle costumava lembrar ainda em vida: “O corpo negro é elemento central na reprodução de desigualdades. Está nos cárceres repletos, nas favelas e periferias designadas como moradias”10.

Vale ressaltar que o próprio conceito de democracia na filosofia e na história ocidental está associado à opressão. Em “O Estado e a Revolução”, Lênin discute o verdadeiro papel da democracia como sistema político e aponta para uma nova perspectiva:

“A democracia não é idêntica à subordinação da minoria à maioria. A democracia é um Estado que reconhece a subordinação da minoria à maioria, ou seja, uma organização para exercer a violência sistemática de uma classe sobre outra, de uma parte da população sobre outra. Propomo-nos como objetivo final a supressão do Estado, ou seja, de toda violência organizada e sistemática, de toda violência sobre as pessoas em geral. Não esperamos o advento de uma ordem social em que o princípio da subordinação da minoria à maioria não seja observado. Mas, buscando o socialismo, estamos convencidos de que ele vai se transformar em comunismo e, nesse sentido, desaparecerá toda a necessidade da violência sobre as pessoas em geral, da subordinação de um ser humano a outro, de uma parte da população a outra parte dela, porque as pessoas se habituarão a observar as condições elementares da convivência social sem violência e sem subordinação. (grifos nossos)

Portanto, entendemos que a luta por memória, verdade e justiça sobre todas as Marias, Mahins e Marielles11 assassinadas pelo nosso Estado deve perpassar necessariamente a defesa e a construção de espaços de Poder Popular, na perspectiva da transição socialista, rumo ao comunismo. A mera luta pelo “Estado Democrático de Direito” é insuficiente e coincide inevitavelmente com a defesa de um projeto de opressão e extermínio do povo negro, periférico e LGBTQIA+. A luta de Marielle não será em vão!

Marielle e Anderson, presentes!

Basta de massacres contra o povo trabalhador!

Pelo Poder Popular, rumo ao Socialismo!

União da Juventude Comunista

14 de março de 2024


  1. G1. Políticos, governos, partidos e entidades lamentam morte de Marielle Franco. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/parlamentares-lamentam-morte-de-marielle-franco.ghtml>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  2. ZANON, J. 2018: Assassinato de Marielle Franco. Disponível em: <https://manchetempo.uff.br/?p=3453>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  3. BRASIL DE FATO (SP). Mídia internacional repercute assassinato de Marielle destacando sua luta política. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2018/03/15/midia-internacional-repercute-assassinato-de-marielle-destacando-sua-luta-politica>. ↩︎
  4. O GLOBO – RIO DE JANEIRO. Caso Marielle Franco: relembre como foi o crime que chocou o país e o mundo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/guia/caso-marielle-franco-relembre-como-foi-o-crime-que-chocou-o-pais-e-o-mundo.ghtml>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  5. AGÊNCIA O GLOBO. Caso Marielle: federalização das investigações do crime pode criar situação jurídica inédita no país. Disponível em: <https://exame.com/brasil/caso-marielle-federalizacao-das-investigacoes-do-crime-pode-criar-situacao-juridica-inedita-no-pais/>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  6. COELHO, H. et al. Caso Marielle chega ao quinto delegado após mudanças na Polícia Civil. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/02/02/caso-marielle-chega-ao-quinto-delegado-apos-mudancas-na-policia-civil.ghtml>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  7. G1 RIO. Caso Marielle: porteiro volta atrás e afirma que errou ao dizer que havia falado com “seu Jair”. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/11/20/caso-marielle-porteiro-volta-atras-e-afirma-que-errou-ao-dizer-que-havia-falado-com-seu-jair.ghtml>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  8. MARTINS, R. Polícia perde imagens dos assassinos de Marielle. Quem mandou matá-la? – Sociedade. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/policia-perde-imagens-dos-assassinos-de-marielle-quem-mandou-mata-la/>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  9. NASCIMENTO, R. Caso Marielle: 5 suspeitos foram mortos durante as investigações; saiba quem são. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/03/14/caso-marielle-5-suspeitos-foram-mortos-durante-as-investigacoes-saiba-quem-sao.ghtml>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  10. FRANCO, M. Burrice é o racismo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/opiniao/burrice-o-racismo-22134121>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎
  11. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Brasil: Chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Males. Disponível em: <https://mst.org.br/2019/03/07/brasil-chegou-a-vez-de-ouvir-as-marias-mahins-marielles-e-males/>. Acesso em: 14 mar. 2024. ↩︎