Juventude Unida contra o Imperialismo e o Capitalismo
Documento da UJC-Brasil ao 19 Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes (19º FMJE) em Sóchi, Russia.
A UJC-Brasil orgulha-se de ter participado de todos os festivais mundiais da juventude e dos estudantes, um importante espaço de integração, festejo e intercâmbio entre as juventudes em luta. Mais do que isso, o FMJE se mostra cada vez mais atual enquanto um espaço político, lúdico e cultural de articulação popular de uma ampla frente antiimperialista mundial.
Atual crise sistêmica do capitalismo e sua necessidade de intensificar a exploração do trabalho, expropriar violentamente os povos e retirar direitos sociais, trabalhistas e democráticos dos trabalhadores nos leva a enfrentar uma fase mais aberta da luta de classes em todo o mundo.
Acirram-se as contradições interimperialistas. Especialmente o imperialismo norte-americano e seus satélites, cada vez tende mais a optar por saídas unilaterais, belicistas e de agressões aos povos. O Império norte-americano necessita de guerras para gerar lucros para o seu complexo industrial militar e fortalecer seu setor de energia petrolífera. O gabinete de Donald Trump é basicamente formado por esses setores políticos e econômicos. O crescimentos de novos pólos capitalistas (China e Rússia) ameaçam a hegemonia norte americana e intensificam as disputas por mercados e recursos naturais dos povos.
Para além da fomentação de guerras diretas, os EUA e seus aliados também fomentam guerras midiáticas e civis contra os povos e governos que contrariam seus interesses. Fomentam o caos, a barbárie e patrocinam grupos fundamentalistas e de extrema direita. Essa foi a principal tática política e militar adotada durante os governos Obama. Felizmente, a heroica resistência da Síria, contando com a solidariedade de outros povos, demonstra a capacidade de resistência dos povos, apesar de toda catástrofe e sofrimento.
A América Latina vive, nesse momento, um quadro de grandes complicações políticas e econômicas. Presenciamos, nos últimos anos, o fortalecimento de movimentos e governos claramente alinhados aos interesses dos grandes monopólios e do imperialismo, em especial o norte-americano. Após anos de lideranças dos assim chamados “governos progressistas” que, em distintos modos e grau de profundidade, conseguiram avançar em algumas pautas de reivindicações populares, no qual o caso venezuelano é o mais expressivo, o continente vive agora um profundo momento de retrocesso, com governos cada vez mais alinhados ao imperialismo e aos monopólios, assim como o crescimento do conservadorismo.
Não por coincidência, a ofensiva da burguesia na América Latina está claramente vinculada ao momento de profunda crise econômica que o mundo atravessa nesse momento. A partir de 2012, os efeitos da crise chegaram com grande força no continente, colocando em xeque o modelo de desenvolvimento econômico, que garantia, como no caso brasileiro, um suposto pacto entre capital e trabalho, promovendo algumas políticas sociais compensatórias de estímulo ao crédito e ao consumo dos trabalhadores e garantindo altos lucros para as empresas capitalistas.
Contudo, a crise revelou uma grande debilidade econômica dos países da América Latina, inclusive aqueles que contaram com governos que chegaram ao poder via apoio popular, que foi a crescente reprimarização da economia e a sustentação econômica quase que exclusivamente com base na venda de produtos agrícolas, petróleo e mineração. Assim, a desvalorização desses produtos no mercado internacional significou a perda de um dos principais pontos de sustentação de políticas sociais compensatórias, o que gradativamente desgastou o apoio popular aos governos.
Não bastasse isso, em momento de crise registra-se um maior assédio do imperialismo aos povos de todo o mundo. No caso latino-americano, isso pode ser visto na reativação da IV Frota, no progressivo aumento das bases militares no continente, no estímulo e financiamento de golpes de estado, como no caso de Honduras e Paraguai, na prolongava ofensiva midiática, política e econômica contra o povo venezuelano, no apoio a candidaturas claramente alinhadas ao plano imperialista, como o caso de Maurício Macri na Argentina e, no caso brasileiro, apoiando o golpe jurídico-parlamentar de derrubada da então Presidente.
A resistência dos trabalhadores a esses processos é proporcional ao grau de mobilização popular e fortalecimento dos movimentos sociais e operários em cada país nos últimos anos. Assim, utilizando os casos talvez mais extremados, podemos perceber como a resistência do povo venezuelano nesses últimos anos reflete a participação popular no processo e como a relativa facilidade com que a presidente Dilma Rousseff foi derrubada da presidência da república reflete o profundo processo de despolitização e desarme dos trabalhadores ao longo dos 13 anos de governo do PT.
No caso específico do Brasil, vivemos um momento de profundas mudanças no cenário político, com o impeachment da presidenta, formalizado e instrumentalizado a partir de manobras judiciais espúrias, ilegais e sem fundamentos jurídicos, que para ser concretizado, contou com um pacto formado pelo imperialismo, pelos monopólios da mídia, pelo parlamento mais conservador desde 1964, pelo judiciário e pela burguesia brasileira.
Antes vivíamos um pacto de classes promovido pelo governo PT. A insustentabilidade deste pacto e a necessidade dos grandes monopólios em acelerar o ajuste fiscal no momento em que o cenário econômico se encontrava em estagnação, com os índices de crescimento econômico decaindo nas previsões dos economistas, fizeram com que a burguesia e o imperialismo optassem pela aventura golpista.
Temos plena certeza de que a subida de Michel Temer ao posto de Presidente da República representa um retrocesso real para a classe trabalhadora e para todas as classes populares, pois tal governo é a expressão institucional de uma reorganização no bloco burguês, em especial da fração rentista, a partir de uma radicalização do neoliberalismo e de uma associação consideravelmente mais submissa aos interesses do imperialismo norte-americano.
Se no período anterior o modelo de dominação burguesa estava pautado por uma perspectiva de consenso ampliado, que visava integrar de modo apassivador os setores populares por meio do consumo, o atual se pauta pela perspectiva de um consenso restrito entre os diferentes setores da burguesia e os setores abastados e reacionários da chamada “classe média”. Ao proletariado, campesinato e demais setores populares destina-se agora não mais uma política de conciliação apassivadora, mas uma política de coerção aberta voltada a garantir a ordem sob um regime que, para se manter, terá que aumentar a exploração de todos
A economia e a política brasileira hoje passam por um momento de reenquadramento subalterno à ordem imperialista. O país se desindustrializa, setores do agronegócio e mineração e rentismo se fortalecem ainda mais. Em termos geopolíticos, o governo ilegítimo brasileiro tem se comportado como um criminoso serviçal norte-americano na América latina.Recentemente, Temer e Trump juntamente com outros presidentes do continente, se reuniram para debater a crise venezuelana e conspirar contra o governo popular de Nicolas Maduro.
No espectro político, a extrema direita profundamente antidemocrática, racista e antipopular cresce como uma alternativa para administração da crise capitalista, em especial em países extremamente desiguais como o Brasil. Se, durante as últimas décadas, acompanhamos a tentativa de se forjar alternativas capitalistas “humanas” e reformistas, agora, no atual estágio da crise e das disputas interimperialistas, crescem as alternativas de extrema direta ou fascistas como perspectiva para o campo capitalista-imperialista.
Nós da UJC conclamamos a juventude brasileira a cerrar fileiras em unidade firme contra essas medidas e outros retrocessos que ameaçam condenar gerações de trabalhadores brasileiros. É o momento de se fortalecer as frentes de articulações dos movimentos populares, sindicais, do campo e da juventude, no intuito de forjar um bloco de lutas de caráter anticapitalista e anti-imperialista desde as lutas brasileiras.
Contudo, não acreditamos que a unidade contra as novas medidas antipopulares do novo governo deve cair na proposta de uma volta do PT ao poder, como querem alguns setores reformistas da política brasileira. Pelo contrário, acreditamos que a luta contra os ataques dos monopólios também devem denunciar as políticas que conduziram o povo brasileiro até esse atual estágio de degradação social, em que os 13 anos de governo do PT representam um importante momento, servindo de instrumento da burguesia para desmobilizar a classes trabalhadora, tentando criar uma falsa ilusão de que existe alternativa aos trabalhadores e à juventude dentro dos marcos do capitalismo.
Nesse sentido, pensamos que o caso brasileiro é didático no sentido de demonstrar a impossibilidade dos trabalhadores marcharem sob bandeiras alheias a seus interesses históricos. O avanço da luta do povo brasileiro contra as medidas impopulares só poderá alcançar resultados positivos se forem combinadas a propostas de cunho radical, apontando concretamente a alternativa na superação do capitalismo.
Por um FESTIVAL ANTIIMPERIALISTA E POPULAR!
O 19ª festival mundial da juventude e dos estudantes se realiza num momento decisivo para a história da humanidade. Os pólos imperialistas em disputa se encontram numa radical ofensiva contra os povos. Aumentam as taxas de exploração, saqueiam recursos naturais, incentivam guerras civis contra os trabalhadores, promovem uma criminosa corrida armamentista no mundo para gerar lucros, fortalecem grupos fundamentalistas religiosos e de extrema direita, assim como promovem guerras diretas e invasões de países soberanos.
Na atual conjuntura, o pólo imperialista hegemônico (EUA e seus aliados) continuam atacando e ameaçando gratuitamente países como a Síria,Palestina, Irã, Coréia Popular, Cuba e Venezuela. Saudamos a resistência desses povos e nos solidarizamos militantemente. A ameaça a paz e a soberania dos povos apenas aumenta a necessidade de fortalecermos e construirmos uma ampla unidade antiimperialista e anticapitalista. Para a UJC-Brasil, o 19º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes deve apontar para este conteúdo amplo, combativo e antiimperialista, sem concessões a qualquer pólo imperialista. A luta pela paz, soberania e desenvolvimento dos povos passa longe de qualquer alternativa dentro dos marcos do capitalismo, mas sim através da superação socialista-comunista!
Imagem: Omar miniti