“Eu quero ver o que vai acontecer quando o Zumbi chegar!” – pela reestatização da energia elétrica sob controle dos trabalhadores!
O dia da consciência negra foi dia de revolta popular em Niterói, São Gonçalo e diversas outras cidades do estado do Rio de Janeiro. Trabalhadoras e trabalhadores, sem luz desde o temporal de 18 de novembro, foram às ruas contra o descaso da Enel e do poder público! Porto Novo, Porto da Pedra, Colubandê, Pita, Paraíso, Mangueira, Avenida Maricá, Neves, Rocha, Fonseca, Marambaia, Rio do Ouro, Centro de Niterói, Preventório, Badu, Lindo Parque, Santa Luzia e dezenas de ruas em toda região, viram surgir barricadas no dia da Consciência Negra.
Nos últimos meses, moradores de todo o estado do Rio de Janeiro vêm sentindo na pele os efeitos de ondas de calor e fortes tempestades. Não dá para aceitar o descaso e a desculpa de que nosso sofrimento é simples fruto das forças da natureza. O sistema capitalista criou o problema, destruindo a natureza em favor do 1% mais rico, enquanto nós sofremos as consequências. A austeridade fiscal e a ideologia neoliberal nos deixaram mais vulneráveis, com serviços públicos de pior qualidade, privatização de serviços básicos e trabalhos precarizados. É nessas condições que já enfrentamos a aceleração do aquecimento global.
O temporal de 18 de novembro revelou o despreparo e a ineficiência da lógica empresarial para gerir a energia elétrica da população. A lógica do lucro é incapaz de realizar os investimentos em infraestrutura e prevenção necessários diante do agravamento da crise climática. Isso fica claro quando percebemos que os crimes da Enel não vieram com as últimas chuvas. Desde 2014 a ENEL recorre na justiça contra a Lei da Fiação, que determina que os fios da rede elétrica em Niterói sejam enterrados. Tal solução é fundamental para justamente evitar que calamidades como esta recaiam sobre nossa população. O descaso é imenso. Enquanto isso, o porta-voz da ENEL teve a coragem de afirmar para a imprensa que estão “preparados para enfrentar esses eventos climáticos”! Essa é a lógica do serviço privatizado, que coloca o lucro acima de nossas vidas.
Se recusam a solucionar o problema, a realizar as manutenções necessárias na rede de energia, colocam a vida dos trabalhadores terceirizados que presta serviço a Enel em risco e ainda culpam as forças da natureza por situações que poderiam ser evitadas.
No mês passado, os moradores de Niterói e redondezas passaram horas sem luz, após dezenas de árvores terem caído com os fortes ventos. Isso foi apenas o prenúncio da catástrofe que nossa população viria a sofrer. Mesmo antes das recentes chuvas, moradores da cidade passaram dias sem luz.
No último dia 16, profissionais e estudantes da rede municipal de Niterói foram à prefeitura exigir soluções para a continuidade das atividades em condições adequadas. Em resposta, foram informados de que os aparelhos de climatização já haviam sido comprados e as obras de adequação das redes elétricas escolares já haviam sido realizadas. O que falta, então? Que a ENEL aumente a carga elétrica para as escolas! O que a ENEL está esperando? Que seja necessário chamar o corpo de bombeiros para jogar água sobre as crianças como ocorreu em Pindamonhangaba na última semana?!
Os efeitos vão além de não poder estudar, trabalhar ou descansar em casa. O desconforto é imenso por não podermos ter nem mesmo os ventiladores ligados em meio ao calor extremo. Colocando em risco de vida, especialmente, nossos idosos e crianças. Perdemos nossos alimentos comprados com tanto suor após nossas geladeiras terem permanecido desligadas por dias! Aumentando a insegurança alimentar, principalmente daqueles segmentos de nossa classe mais vulneráveis: os mais pobres e precarizados, formados majoritariamente por nossa população negra. Sem energia, nossas bombas de água não funcionam e não temos água nas torneiras para nos refrescarmos ou preparar comida!
Acompanhamos com atenção a resposta à decisão do Tribunal de Justiça do Rio de que a energia seja reestabelecida imediatamente e o procedimento instaurado pelo Ministério Público do RJ para apurar suas evidentes falhas. É urgente resolver os problemas que afetam hoje a população trabalhadora das nossas cidades! Mas é preciso mais! Exigimos o cancelamento da concessão e punição da ENEL pelos seus crimes. Mas, sabemos que substituir uma empresa por outra não é a solução! É preciso lutar contra a privatização da energia, nossa vida não pode ser reduzida ao lucro de poucos!
Por isso nós do PCB e seus coletivos, nos solidarizamos na luta e nas ruas, com os milhares de moradores que seguem com prejuízos, perdendo alimentos e medicação, impossibilitados de trabalhar, estudar e de ter uma vida digna.
Nos revoltamos junto com aqueles que se manifestaram e se fizeram ouvir, mas que, em vez de serem recebidos com carros da ENEL para solucionar o problema, foram recebidos com os carros da polícia militar e suas balas de borracha em pleno dia de Zumbi dos Palmares!
Somente a luta popular pode garantir a vida das trabalhadoras e trabalhadores da nossa cidade! Por novos Palmares, por uma cidade popular, do povo e para o povo! Energia elétrica é direito e não pode ser deixada nas mãos dos empresários! Não vamos pagar a conta da crise climática do 1% mais rico!
ORGANIZE SEU ÓDIO DE CLASSE NO PCB!
Célula PCB Niterói/SG, Núcleo UFF Niterói e Núcleo Niterói/SG (Rio de Janeiro)
22 de novembro de 2023