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Entrevista com Túlio Lopes: “América Latina e o enfrentamento à pandemia”
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Entrevista com Túlio Lopes: “América Latina e o enfrentamento à pandemia”

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No último dia 22/04/2020 Maria Carol*, diretora de Relações Internacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE) entrevistou o camarada Túlio Lopes, para o programa Aula no Sofá, transmitido ao vivo pelo canal da entidade no instagram, que teve como tema a América Latina e o enfrentamento à pandemia.
*Maria Carol é estudante de Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Diretora de Relações Internacionais da UNE e integrante da Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC-Brasil).
Maria Carol: Olá, pessoal! Boa tarde a todas e todos! Estamos aqui ao vivo para mais uma Aula no Sofá, dessa vez para conversar sobre a América Latina e o enfrentamento à pandemia. E temos aqui a presença ilustre de um amigo e parceiro de longa data da UNE. Túlio Lopes é Historiador, professor, Especialista em História e Cultura Política (UFMG), Mestre e doutorando em Educação (UFMG) e membro da Casa da América Latina (MG).
Ei, Túlio, nas últimas semanas a situação, da América Latina, com destaque para as notícias do colapso no Equador, tem chamado atenção da mídia sobre as condições de desigualdade no continente. Você pode comentar pra gente o porquê dessa desigualdade?
Túlio Lopes: A América Latina ou Nuestra América/Nossa América nas palavras de José Martí é uma parte do continente americano marcada pela colonização, pela dominação imperialista e pelo capitalismo historicamente dependente. As desigualdades sociais são uma das marcas características de quase todos os países. A crise capitalista agravada pela pandemia global do Coronavírus acentua os elementos de barbárie social em nossa região. Os governos ultraliberais e autoritários de Equador, de El Salvador, da Bolívia e do Chile aproveitaram a pandemia para decretar Toque de Recolher. As cenas lamentáveis que foram vistas nos cemitérios Equatorianos são parte do resultado das políticas neoliberais.
MC: No final do ano passado nós vimos um ciclo de lutas que em grande parte denunciavam a constante retirada de direitos nos seus países, você acha que isso é uma sinalização do esgotamento do neocolonialismo?
TL: As mobilizações populares que ocorreram no Equador, no Peru, na Colômbia e no Chile (herança militar) tem dois inimigos em comum: o Neoliberalismo e o Imperialismo. Os governos neoliberais desses respectivos países promovem uma política de austeridade que busca claramente enfraquecer as políticas sociais e retirar direitos da classe trabalhadora, das camadas populares e da juventude em benefício da burguesia e das oligarquias locais. Em sintonia o imperialismo atua na região buscando garantir seus interesses econômicos e militares. Consequentemente crescem os indicadores sócio-econômicos pobreza, miséria, fome e superexploração nos países da região, principalmente naqueles que adotam às políticas neoliberais e pró-imperialistas. Mas, respiramos luta em Nossa América e vamos através da luta popular e da juventude avançar na luta anti-imperialista e anticapitalista para construir uma América Latina Socialista.
MC: O que podemos analisar para américa latina após a vitória eleitoral da extrema direita no Brasil e no Uruguai, o golpe na Bolívia e as constantes ameaças de ruptura da democracia?
TL: Penso que três fatores contribuem para esta nova correlação de forças. O primeiro, que não podemos subestimar, é a ofensiva conservadora e imperialista promovida por forças políticas reacionárias com o apoio direto do imperialismo, em especial da OEA, dos Estados Unidos através da CIA, do DEA e de suas embaixadas. O segundo, de fundo é a crise do capitalismo, que também não pode ser secundarizada pois condicionam e em certa medida determina historicamente o papel do Estado na região. As respostas para a crise do capitalismo a partir do próprio capitalismo foram e são insuficientes. É impossível reformar o irreformável, corrigir o incorrigível. Daí uma terceira questão: os governos sociais-liberais e/ou democrático-populares do Brasil (Dilma), do Uruguai (Vázquez) e da Bolívia (Morales) mesmo com mais de uma década de governança não buscaram superar o capitalismo e sim torná-lo mais humano. Apostaram na política de conciliação de classes, alianças com setores da burguesia, o que não funciona. Não vamos derrotar a direita fazendo aliança com a própria direita. José Carlos Mariátegui já apontava que a luta por anti-imperialista e por uma América Latina não poderia contar com o apoio da burguesia, A contraofensiva das forças reacionárias utilizou-se de mecanismos jurídicos, manipulações midiáticas, golpes políticos e principalmente do poder econômico para derrotar os governos populares e progressistas. Desta forma, altera-se a correlação de forças em nossa região.
MC: Qual a importância do papel desempenhado por Cuba na contenção da crise global?
TL: Cuba Socialista desempenha um papel singular, extraordinário, revolucionário na História da Humanidade. O líder da independência cubana e fundador do Partido Revolucionário José Martí defendia o seguinte princípio: Pátria é humanidade! Fidel completava “Sem o internacionalismo a Revolução Cubana nem sequer existiria. Ser internacionalista é saldar nossa própria dívida com a humanidade” (REVISTA SIEMPRE COM CUBA, 2016).
Após a Revolução Cubana de 1959, Cuba apoiou a luta de libertação dos povos na América Latina, na África, na Ásia, a luta dos Negros nos Estados Unidos contra a discriminação racial, pelo desarmamento nuclear, pela paz mundial e pelo socialismo. Atualmente, enquanto Cuba Socialista envia brigadas médicas de luta contra o COVID-19 para mais de 20 países, o Governo dos Estados Unidos e de países aliados buscam promover novas agressões imperialistas militares contra o Irã, a Coreia do Norte e a Venezuela Bolivariana. Devemos apoiar a campanha do movimento brasileiro de solidariedade a Cuba, principalmente das Associações Culturais José Martí (ACJM) pelo fim do Bloqueio Econômico contra Cuba, Nicarágua e Venezuela. Cuba Socialista é um exemplo para a luta dos povos pelo socialismo e pela paz mundial.
MC: Sabemos que medidas eficientes para socorrer a população foram tomadas na Venezuela, você pode comentar um pouco sobre a situação venezuelana?
TL: A Venezuela Bolivariana passa por uma situação especial. O imperialismo norte-americano com o apoio dos Governos do Brasil (Fora Bolsonaro) e da Colômbia buscam promover uma desestabilização política e econômica da Venezuela para justificar uma agressão militar imperialistas. Tropas Norte Americanas estão posicionadas no Mar do Caribe prontas para atacar a Venezuela. E os Estados Unidos através dos seus oligopólios, pasmem, intensificam o bloqueio econômico, mesmo após o início da pandemia global. O Governo Bolivariano com o apoio do movimento popular organizado e da união cívico-militar, vem conseguindo resistir e garantir minimamente a segurança alimentar do povo venezuelano, através dos Comitês Locais de Armazenamento e Produção (CLAP). Conta também com o apoio de Cuba Socialista e da China Popular. Devemos expressar nossa solidariedade com o povo venezuelano e lutar para impedir uma nova agressão militar imperialista em Nossa América!
MC: Também temos algumas perguntas enviadas por quem está nos assistindo agora. A primeira delas é “qual a importância da Pesquisa, da Ciência e da Tecnologia e da Universidade Pública na América Latina?”
TL: Importantes pesquisas vêm sendo realizadas nas Universidades Brasileiras contribuindo para o combate ao COVID-19. Desde a Reforma Universitária de Córdoba na Argentina em 1918 surge um novo conceito de Universidade na América Latina. A liberdade de cátedra, a autonomia universitária, a democracia na escolha das direções da universidade, e, principalmente o papel social da Universidade, voltada a buscar soluções para os grandes problemas da sociedade, são princípios norteadores fundamentais das universidades públicas na América Latina. O que inspirou a luta por Universidades Populares. Ter a pesquisa, a ciência e a tecnologia desenvolvida nas universidades para atender os interesses populares e não somente os do capital é um grande desafio apresentado para os movimentos populares ligados à educação, em especial o movimento estudantil.
MC: Diante disso, qual o papel do Movimento Estudantil na Solidariedade Internacional?
TL: A União Nacional dos Estudantes (UNE) fundada em 1937. Tive a oportunidade de conhecer o Irun Sant’anna em um congresso do PCB. Ele dizia que a UNE sempre esteve presente nas lutas do povo trabalhador brasileiro e nas lutas pela paz e em respeito do direito à autodeterminação dos Povos. Desde sua fundação a UNE também esteve presente nos congressos da União Internacional dos Estudantes (UIE) e dos Festivais Mundiais da Juventude e dos Estudantes (FMJE), representando o Brasil. A UNE também participa da Organização Latino Americana e Caribenha dos Estudantes (OCLAE) que desde sua fundação em 1966 atua na América Latina. Estudantes! Participem das atividades das Associações Culturais José Martí, das Casas da América Latina e dos Comitês de Solidariedade e pela paz na Venezuela.
MC: Estamos chegando ao final de mais um entrevista e eu agradeço a cada um de você que acompanhou o nosso bate papo. E mais uma vez, muito obrigada Túlio Lopes por atender mais este convite da UNE e sempre se colocar à disposição para colaborar conosco em nossas lutas. Antes de finalizar peço que você deixe uma mensagem aos estudantes que estão nos assistindo.
TL: Agradeço o convite. Parabéns para a diretoria da UNE pela iniciativa e parabéns Maria Carol pela atuação na diretoria de relações internacionais da UNE, sua atuação vem contribuindo com a luta internacionalista. É preciso fortalecer as entidades estudantis para as lutas atuais e as lutas que virão. Hoje, completa 150 anos do nascimento de Lenin.
“É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com o nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos acreditem neles”. Lenin.
Viva a luta dos estudantes!