Em defesa da UJC!
Diante do caráter público da crise que se instaurou no PCB e seus coletivos, a Coordenação Regional da UJC sentiu a necessidade histórica de se posicionar publicamente, apresentando os debates realizados nos espaços internos de direção da juventude no estado do Rio de Janeiro.
O que alguns podem interpretar como uma falta de celeridade e inércia, pelo posicionamento interno da direção estar sendo publicizado somente nesta data, para nós trata-se, na realidade, do esforço por colher as contribuições e sínteses dos debates dos núcleos, e por fortalecer os espaços de democracia interna da nossa organização. Com todo o atropelo do debate pela maneira que foi apresentado, com a convocação de assembleias às pressas em outros estados, pouquíssimos dias após o lançamento do manifesto do PCB-RR — algumas delas esvaziadas e feitas antes que todos os núcleos tivessem condições de discutir; assim como a própria dinâmica das redes sociais, que muito pautaram o ritmo das discussões e muito ofuscam informação, entendemos ser um importante momento para colocarmos o que temos acompanhado do debate interno dos núcleos, das sínteses das discussões que recebemos até o momento, das notas e cartas, assim como do último pleno da CR UJC RJ, realizado nos dias 29 e 30 de julho.
Sobre os debates internos diante da crise no PCB: os núcleos possuem o direito de debater, criticar e formular sobre a crise já instaurada no complexo partidário, inclusive fazendo um balanço sobre as notas desta instância. A síntese dos debates devem subir para a Coordenação Regional da UJC RJ.
“Autocriticar-se é reconstruir-se a si mesmo, para melhor servir.” (Amílcar Cabral)
Autocrítica não é autofagia! — CR da UJC/RJ
Fundado na cidade de Niterói (RJ), o PCB completou neste ano 101 anos de história na organização das lutas da classe trabalhadora brasileira. Esse mesmo estado, que foi capital do Brasil até 1960, foi palco de grandes episódios de lutas populares de nossa história, uma série deles dirigidos ou então compostos pela militância do PCB. Foi aqui um dos pontos de sublevação do Levante Comunista de (1935), onde ocorreu a Revolta das Barcas (1959) e a Passeata dos Cem Mil (1968). É o local onde atuaram Claudino José da Silva, Dinarco Reis Filho, Ivan Pinheiro, Irun Sant’Anna e tantos outros que chamamos de “imprescindíveis”, mas também milhares de camaradas que dedicaram suas vidas à construção de uma sociedade justa dos quais jamais saberemos seu rosto ou nome, ou então cujos nomes se perderam em páginas cheias de ácaro e poeira, em arquivos outrora em chamas ou esquecidos.
E antes mesmo da fundação de um partido revolucionário, o primeiro partido da classe trabalhadora no Brasil, essa região portuária teve sua história marcada pela resistência de homens e mulheres escravizadas, indígenas e que trabalhavam na terra, que ousaram lutar, pois não restava alternativa — e construíram à duras penas alternativas às apresentadas pelas classes dominantes. Seja através da fundação de quilombos, dos quais muitos até hoje resistem, ou as centenas de rebeliões indígenas que temos registros históricos, das históricas greves gerais e até mesmo da união tática entre trabalhadores assalariados e escravizados, da qual é fruto a primeira greve operária de escravizados da história do nosso país.
Essas histórias tornaram possível o aprendizado da luta da classe trabalhadora no Rio de Janeiro e, certamente, em todo o Brasil, e é trilhando a esteira desses lutadores sociais que hoje nos apresentamos como uma juventude trabalhadora organizada na construção de um projeto popular e revolucionário para solucionar os nossos problemas concretos neste estado castigado pelo grande capital multinacional, local e seu Estado, cuja população pobre vive em guerra civil contra as polícias que nos matam e contra os prefeitos e governadores que conspiram pelo nosso adoecimento; enfim, o estado conhecido como o “laboratório” da nação.
Foi necessário a apresentação deste preâmbulo para dimensionar os desafios e lutas concretas que temos nos dedicado a enfrentar como parte do complexo partidário do PCB, e que fundamentaram nossas formulações e esforços para implementar a linha política de nosso partido.
O debate público sobre o qual hoje nos posicionamos foi deflagrado a partir de uma polêmica relacionada à participação do PCB em espaços internacionais. Em um primeiro momento, apesar de apresentada publicamente, ainda foi possível a garantia de controle das discussões via instâncias internas pela Coordenação Nacional da UJC, que fomentou debate e objetividade com finalidade de esclarecer ruídos e encaminhar resoluções a burlas de resoluções congressuais. Porém, desde que foi “dada a largada”, o debate se desenvolveu para discussões centrais acerca da estrutura organizativa do PCB e sua relação com seus coletivos partidários — estrutura cuja cultura política nos convencionou chamar de “complexo partidário”.
Orientados por uma lógica de que “os fins justificam os meios”, muitos então camaradas partiram para a ação de denúncias públicas de dirigentes nacionais ou intermediários do PCB, expondo dados sensíveis pessoais e também de processos disciplinares internos, acompanhados e respondidos por profanidades e xingamentos dos mais desrespeitosos possíveis, sem qualquer parcimônia. Na nossa avaliação, a plataforma digital do Twitter é simplesmente incompatível com a realização de um debate consequente, à altura de nossos problemas internos, seja pela lógica da economia da atenção, ou a tendência ao espontaneísmo. Por isso, de forma quase unânime o conjunto da nossa militância do RJ repudia a estratégia adotada para encaminhamento das críticas desses militantes, que tinham como objetivo final o que hoje podemos observar cristalinamente como a formação de um partido que não é mais o PCB — conforme militantes que aderiram ao Manifesto do PCB-RR reconhecem.
Contudo, diante deste cenário, é preciso frisar que o Comitê Central adotou uma postura de sufocamento do debate para superação do quadro de crise que enfrentamos — uma orientação que nos afasta da resolução política dos problemas graves que enfrentamos. Ao proibir a discussão da crise pelos coletivos partidários, ao nosso ver, o CC jogou ainda mais lenha no incêndio que se instaurava em nosso partido. Nossos coletivos são compostos por militantes que dedicam suas vidas à construção prática de nossa linha política e, em última instância, à revolução brasileira.
A proibição do debate, além de uma postura profundamente equivocada no combate à crise, foi um grande desrespeito com essas pessoas. Em circular interna à militância, a CPN demonstrou isso ao tratar os integrantes dos coletivos partidários como não-militantes do Partido. Embora do ponto de vista formal não seja segredo para nenhum militante da UJC que não somos integrados a células do PCB em nosso recrutamento, abordar o debate nestes termos foi muito ruim e isto precisa ser colocado. Após forte pressão interna por parte da nossa militância, desde as bases, direções de núcleos e pela própria Coordenação Regional, nossa militância da UJC no Rio de Janeiro vem travando o debate internamente, seja realizando críticas em células do PCB ao CC (quando se trata de militantes da Juventude que também tenham sido recrutados pelo Partido), seja através de sua Coordenação Regional, em reunião com a direção intermediária do PCB em nosso estado, seja em reunião de núcleos de base, cujas sínteses estão sendo encaminhadas para os organismos superiores.
É preciso afundar, de uma vez por todas, a falsa afirmação de que o grupo fracionista tem o monopólio da crítica às posturas de nosso Partido e de que todes que repudiam tal movimento são “lambe botas do CC”, “formalistas” ou “burocratas”. Tal crítica por parte dos fracionistas trata-se de uma crítica ao método pelo qual conduzimos nossa militância — o que também é um debate político! -, e carece de fundamento na realidade. Nesse sentido, afirmamos ser um tremendo erro colocar todos aqueles que possuem críticas com relação ao Comitê Central, à relação do partido com seus coletivos, à condução político-organizativa etc., no mesmo saco dos que possuem intenções fracionistas. Inclusive, as críticas são parte da vida interna de um Partido Comunista e delas jamais nos furtaremos.
A isso, nos cabe relacionar o que a iniciativa fracionista aponta como centralismo seletivo. Está sendo apontada a prática do coleguismo no seio do nosso Partido, à medida que diversos camaradas com atuação no PCB na posição de direções nacionais ou intermediárias têm praticado graves infrações do centralismo democrático ou perpetuado práticas de assédio graves e notórias e, apesar disso, pouca ou nenhuma consequência parece ser imposta a esses camaradas. Na atual composição do CC, há militantes com histórico de assédio a mulheres e racismo em nossa organização e alguns desses casos tiveram maior projeção, como os referentes ao Antonio Carlos Mazzeo. Entendemos essa prática como de seletividade para abertura Processos Disciplinares. Alguns camaradas, apesar da gravidade das suas ações, parecem ter mais liberdade que outros para infringir nossas práticas organizativas, praticar opressões e atentar contra nossas resoluções. E quanto a isso, camaradas, uma organização comprometida com a luta política não pode ter medo de mudanças, de destituição de posição de direção quando cabido e de renovação de quadros. Ninguém é insubstituível.
Um dos pilares do marxismo-leninismo e da forma organizativa do centralismo democrático é a liberdade da crítica e o exercício da democracia revolucionária. Em nome destas, a Coordenação Regional da UJC construiu espaços internos de discussão nos núcleos de base para debates críticos deste momento, em um processo sério e consequente orientado pelas formulações que nos guiam na construção da democracia partidária.
Qualquer comunista que acredita ser possível desvencilhar a forma do conteúdo está, no fundo, assassinando a dialética materialista que nos foi legada por Marx, Engels e Lenin. Estas esferas da realidade não podem existir uma sem a outra, e foi essa concepção que possibilitou, em toda a história do movimento comunista internacional, que os trabalhadores tomassem rédeas da atuação concreta na realidade. Não é nossa intenção cair em um pedantismo estéril — muito praticado por aqueles que hoje se portam como o “farol” para a solução de nossos problemas — ao reproduzir citações de Lenin ou experiências histórico-concretas deste grande revolucionário fora de contexto, mas para nos determos em um único exemplo, vale questionar: um dos aspectos geniais da contribuição leninista para nossos métodos de trabalho não é justamente a formulação de nossos métodos organizativos, estratégia e táticas (forma) em relação à situação concreta do desenvolvimento capitalista e das relações de força entre as classes sociais em um dado país (conteúdo)?
A defesa da estrutura partidária que adotamos não é mero preciosismo, ou “pecebismo”, termo pejorativo que tem sido muito evocado. Foi esta forma organizativa que tornou possível avançar na luta política — inclusive aqui no estado do RJ — e que os trabalhadores conquistassem o poder em diversas experiências revolucionárias ao longo da história. É esta parte da razão que convenceu o conjunto da militância da UJC, do PCB e seus coletivos, de decidir se organizar em um partido marxista-leninista em primeiro lugar.
Porém, é preciso negritar: isso não significa que descartamos, em sua totalidade, as críticas apresentadas pelo grupo fracionista. É preciso ter em mente que muitas destas críticas tem base na realidade. Isso explica, em parte, a significativa adesão da base do complexo partidário ao movimento. Embora esteja cada vez mais explícito os objetivos pessoais de alguns — especialmente aqueles que estão na cabeça do processo — seria um absurdo afirmar que tudo o que vem acontecendo é fruto de mera manipulação para fins de pequena política, embora este seja um elemento do processo.
Inclusive, destacamos que muitas dessas críticas foram e são intensamente feitas em espaços de discussão internos do complexo partidário por parte de inúmeros camaradas que não se furtam a criticar quando acham que devem criticar, visando a melhoria do partido, suas frentes de massa e seus coletivos. E é essa cultura política que nós da CR/RJ incentivamos na atual crise, assim como na vida cotidiana do nosso organismo partidário.
Contra esse movimento da democracia revolucionária, o PCB-RR buscou conduzir o debate a partir de uma movimentação coordenada extremamente acelerada e atropelada, reduzindo a possibilidade de discussão dos núcleos de base da UJC, pois o novo partido busca pressionar por uma aceleração da adesão de nossas instância ao “Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB!”. Foi tão acelerado que, inclusive, após as expulsões de membros do CC e as circulares terríveis enviadas pelo CC e CPN do PCB, muitos camaradas estavam balançados e alinhados com as críticas colocadas pelos fracionistas. Porém, à luz dos recentes acontecimentos de assédio à militância e de comprovação de trabalho articulado previamente configurado, constituindo-se como tendência, assim como assembleias marcadas às pressas nos estados, tivemos a oportunidade de refletir novamente acerca dessa movimentação.
No evento de debate organizado pelo PCB-RR, intitulado “Causas e perspectivas da atual crise no PCB”, que ocorreu no dia 10/08 no Centro do Rio de Janeiro, Gabriel Landi — um dos líderes da movimentação fracionista — apontou para os desvios de linha acerca do tema da Segurança Pública no programa de governo da campanha eleitoral do PCB ao governo do estado do RJ, encabeçada por Eduardo Serra — secretário político do PCB no RJ e um daqueles que apresentou grave desvio do centralismo democrático ao comparecer ao Congresso da PMAI na Coreia do Sul. Da maneira como foi colocado o debate no evento, deu-se a entender que o programa político foi veiculado sem qualquer crítica ou debate por parte da militância do complexo partidário no estado. E aqui vale recuperar que este é recorrente objeto de crítica por parte da nossa militância que, assim como o CNMO, também está formulando diariamente sobre o tema e já passou da hora de encarar as formulações políticas dos coletivos com o devido destaque. Enquanto o debate acerca da Segurança Pública, encarceramento e seletividade penal avança nos coletivos, tivemos uma campanha pautada na construção de guardas populares e novas polícias desmilitarizadas organizadas por Conselhos Populares — em termos extremamente vagos. Enquanto isso, estivemos formulando acerca da abolição das polícias, o que denota a necessidade de parte da direção do PCB em avançar nessa discussão e dialogar melhor com os coletivos.
Outro episódio que marca nossa militância são os recorrentes comentários e comportamentos do membro do Comitê Central Carlos “Boné” Newlands, também membro do Comitê Regional do RJ, conforme explicitado anteriormente no documento. Destacamos o episódio em que o camarada endossa a percepção de que dentre “as tretas mais desimportantes” dos dias atuais, figuraria a discussão acerca da linguagem neutra. Camaradas, essa percepção é um tremendo desrespeito com as formulações políticas dos coletivos partidários. Hoje, a partir de debates de fôlego, o Coletivo LGBT Comunista debate a abolição do sistema sexo-gênero como parte da libertação da classe trabalhadora de seus algozes; o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro formula acerca dos debates das diferentes perspectivas feministas e a necessidade de superação do gênero — de forma análoga às formulações fanonianas para superação da raça como organizadora das relações sociais — para parte da superação das desigualdades sociais. Na última etapa Congressual estadual da UJC foi aprovado de forma unânime que a sistematização do documento subisse para a CN UJC com a utilização integral de linguagem neutra. E, para além disso, aliás, nossa militância não é mais uma militância cisgênero e isso é um profundo desrespeito sendo reproduzido por nossas direções. Se todas essas formulações são referendadas pelo PCB e integradas aos nossos acúmulos partidários, onde estão os resultados disso na prática? Ou são os coletivos somente mediação para capilarização do trabalho e angariar cada vez mais recrutados? É inaceitável que sigamos na reprodução desta lógica. É preciso fazer a crítica sobre a debilidade na incorporação do Partido de nossos acúmulos enquanto coletivos partidários.
Criou-se uma falsa narrativa — inclusive por parte daqueles que aderiram ao fracionismo em nosso estado — de que não há espaço de debate interno e que a autocrítica de nosso complexo partidário é nula. Precisamos firmar, em primeiro lugar, que a autocrítica é um processo pedagógico de fortalecimento da luta política, de engrandecimento e amadurecimento político. Autocrítica não é autofagia!
Em segundo lugar, se não houvesse espaço para autocrítica — a partir de discussões internas realizadas pelo conjunto de nossa militância do complexo partidário no RJ e, fundamentalmente, a partir da prática -, não teríamos o avanço que tivemos nos últimos anos em nosso estado, com destaque para um processo, ainda inconcluso mas já iniciado, de giro operário-popular de nossa militância da UJC. Nós, enquanto coletivo partidário, tivemos amplas condições para formular nossa linha local de atuação a partir de mediações com nossa linha nacional e nossa divisão interna de tarefas.
O resultado prático disso foi uma evidente, ainda que insuficiente, mudança no perfil de nossa militância. Aqueles que ingressaram na UJC há alguns anos atrás, certamente já ouviram uma famosa provocação de que o PCB seria um “grupo de estudos” formado por homens brancos, heterossexuais, cis e universitários. Parte dessa caricatura — que, como toda caricatura, embora parta da aparência da realidade, tinha certa base na realidade à época — é constantemente evocada pelo grupo fracionista ao falar de uma “fração academicista”.
Após anos de dedicação e trabalho de base duro, com atuação concreta, de um conjunto de quadros de nossa organização no estado e de nossa base, podemos afirmar, sem medo de errar, que se trata de um passado que já está sendo, na prática, superado, rumo ao giro operário-popular e à incorporação de nossa classe trabalhadora em nossas fileiras, classe essa que tem gênero, raça, sexualidade e inserção social determinadas: hoje, mais de 50% da nossa militância no Rio de Janeiro é composta por jovens trabalhadores; mais de 46% tem sua principal frente de atuação fora do Movimento Estudantil Universitário; 60% da nossa militância é LGBTQIA+; cerca de 12% da nossa militância não é cisgênero; e em torno de 34% é constituído por pessoas pretas ou pardas.
Alguns desses dados, especialmente o último — considerando que a classe trabalhadora brasileira é majoritariamente negra -, estão longe do ideal e expressam uma transformação ainda muito insuficiente. Todavia, quando comparamos o novo perfil com o que tínhamos há poucos anos, é absolutamente inegável o avanço. E é preciso negritar: esse avanço foi construído por quadros — sejam da nossa direção estadual, sejam dirigentes de núcleos — e por militantes de base da UJC formados no seio da cultura política e organizativa do PCB. Cabe questionar, diante da realidade material: se a democracia interna e o espaço para a autocrítica (prática) em nosso Partido estivesse completamente sufocada, como esbravejam alguns em redes sociais, como esse resultado (fruto, reforçamos, de anos de trabalho!) pôde ser alcançado? Há uma flagrante contradição na argumentação dos fracionistas. Com isso, não queremos produzir nenhum tipo de autoglorificação de nosso trabalho militante. Temos muitas debilidades. É constante, em nossas reuniões internas, os debates sobre o que chamamos de “problemas bons”, que vão desde novas questões surgidas a partir de nossa inserção concreta no trabalho de base como da proletarização de nossa militância, o que nos põe novos desafios organizativos, enfrentados com criatividade e sujeitos a acertos e falhas. Nosso trabalho de construção revolucionária é um esforço de criatividade — essa é uma das grandes contribuições do marxismo-leninismo e da luta proletária. Como tudo isso poderia florescer se a situação de nosso complexo partidário fosse aquilo que os fracionistas acusam ser?
Entretanto, enfatizemos: isso não significa que não temos graves problemas na condução do trabalho entre o PCB e seus coletivos partidários no RJ. Problemas que vão desde a falta de planejamento para e com os coletivos, comunicação, distribuição de tarefas, debilidade na incorporação de parte de nossos acúmulos por parte de iniciativas do Partido e a prática do coleguismo — a atuação nas instâncias organizativas a partir de relações pessoais de privilegiamento — existem e são muito concretos. Inclusive, reproduzidos por parte de figuras que até pouco tempo estavam no PCB e que agora estão liderando o fracionismo. A solução para esses problemas, acreditamos, passa por seguirmos realizando essa autocrítica permanente. Com todas as problemáticas, há espaço para realizar isso internamente. Se não houvesse, não teríamos chegado onde chegamos até agora.
Relacionado a isso, tem sido cada vez mais evidenciado o debate sobre a contribuição do trabalho propagandístico nas redes sociais de nomes como Jones Manoel e Gustavo Gaiofato como fator para crescimento da militância comunista no país. Certamente, tiveram papel importante na disseminação das ideias revolucionárias e, não negaremos, parte significativa de nossa militância na Juventude passou a integrar nossas fileiras a partir do contato com estas ideias por meio de canais digitais de comunicação. Mas lembremos, camaradas: a efetivação deste crescimento só foi possível de se materializar por conta das centenas de camaradas que diariamente atuam de forma orgânica em seus núcleos de base, na organização da luta diária da juventude e da classe trabalhadora. O partido somos nós porque somos nós que atuamos pela existência, oxigenação e memória do Partido Comunista Brasileiro. É um equívoco atribuir nosso crescimento ao trabalho de poucas figuras, única e exclusivamente.
Retomando o debate sobre a relação entre forma e conteúdo — ou, em outras palavras, a relação entre as críticas realizadas pelo grupo fracionista, agora organizado em um outro partido intitulado PCB-RR, com Coordenação Nacional, estrutura de comunicação e organização próprias, e o método de atuação desse grupo — não podemos deixar de questionar: como esse grupo se propõe a ser a superação de todos esses problemas, auto afirmando se defensor do centralismo democrático, quando age da forma que age? Inclusive, reproduzindo diversos problemas que ele mesmo aponta! E aqui, camaradas, não sejamos ingênuos nem cínicos. Estamos vivenciando, desde que essa crise eclodiu, exemplos esdrúxulos por parte daqueles que aderiram ao fracionismo e que assinaram recente manifesto, de assédio à nossa militância, com mensagens enviadas no privado de nossos camaradas, buscando cooptá-los para o movimento, e de ações visivelmente coordenadas de atuação em nossas instâncias e nas redes sociais, o que denota a existência de uma organização paralela à estrutura hoje existente em nosso complexo partidário. Estas pessoas denunciam publicamente perseguições e ausência de discussão, quando na prática esvaziam esses espaços e favorecem as conversas individuais e fora das instâncias. Agem por debaixo dos panos e dos espaços de discussão hoje existentes. Dizem que não se propõem a construir outra organização, mas agem como tendência e fração. E como nos ensinou um velho barbudo, os sujeitos sociais devem ser analisados pelo que fazem e não pelo que dizem de si mesmos.
Digam, camaradas: como um grupo que se propõe a superar nossos problemas, mas age com métodos absolutamente condenáveis, não pode produzir em nossa militância nada além de desconfiança? Forma e conteúdo se encontram, no PCB-RR, em profunda contradição.
Agora, engana-se — e seguindo no debate sobre o método de atuação política — quem acredita que essa movimentação fracionista tenha se iniciado no segundo semestre desse ano. Muitos daqueles que tiveram a oportunidade de ir como delegados eleitos, em nossa etapa estadual do RJ, para a etapa nacional do IX Congresso da UJC — realizado no ano passado — perceberam, ao vivenciarem diretamente, o que estava acontecendo. Embora em nosso Congresso os delegados sejam natos, devendo propor e defender formulações a partir de suas próprias opiniões, estava flagrante a existência de uma atuação coordenada por parte de militantes provenientes, principalmente — ainda que não exclusivamente -, do estado de São Paulo. Desde a defesa coordenada das mesmas propostas nos Grupos de Discussão — em especial a criação de um jornal próprio da UJC, com a constante deslegitimação de nosso jornal do PCB, o Poder Popular -, passando pela constante saída de militantes de SP de seus GDs para troca de informes no meio do processo de debate, e, por fim, a votação e defesas em bloco na plenária final. Expressão disso foi quando uma camarada da direção regional de SP, após a derrota da proposta central do seu grupo, se dirigiu ao plenário com as seguintes palavras: “sabíamos que não seria fácil aprovar essa proposta…”. Sabíamos? Nós, quem? A que grupo estava se referindo? Houve articulação entre delegados para atuação no Congresso? Na própria plenária, ocorreu acusação de fracionismo por parte deste grupo, que foi respondida — e não há coincidências na política — com um dos atuais líderes do fracionismo apresentando um “mapa dos votos da delegação” que ele havia “encontrado por acaso” por aí, em uma tentativa de, hoje entendemos, limpar a barra do seu próprio grupo.
A verdade, e nisso erramos, é que não acreditávamos naquilo que, à luz dos recentes acontecimentos, agora percebemos que ojá estava acontecendo diante de nós: uma tendência em operação dentro de nossas fileiras. Convidamos o conjunto da militância do estado a revisitar as Tribunas de Debate pré-congressuais da UJC e relerem a discussão acerca dos Jornais locais, em especial a defesa do jornal O Futuro de São Paulo e refletir à luz dos novos acontecimentos.
A atuação desta tendência explicitou-se mais uma vez — com suas práticas antidemocráticas de atropelo das discussões -, na última reunião do pleno da Coordenação Nacional da UJC, realizada ontem (12/08), onde um golpe foi desferido em nossa organização. Na ocasião, foi apresentada por parte dos fracionistas a adesão da UJC ao manifesto e reivindicações do PCB-RR, a nível nacional, ao movimento. Diante disso, alguns camaradas da CN protestaram, defendendo que qualquer menção de adesão ao XVII Congresso nos moldes propostos pelo PCB-RR só poderia ser feito depois que se efetivassem todos os acúmulos da base da UJC nos estados. Os fracionistas responderam a isso com acusações absurdas e desrespeitosas de que os núcleos que ainda não conseguiram realizar seus debates estavam com falta de vontade política dos militantes, ou então por simplesmente não quererem, um flagrante desprezo com os camaradas que acabaram de sair de um processo muito caro e cansativo que foi o CONUNE e outras tarefas que nossa militância toca diariamente.
As falas do grupo fracionista explicitam, cristalinamente, suas intenções políticas. Se nossas bases ainda não realizaram seus debates sobre o Manifesto, isto se dá porque temos um conjunto de tarefas que não podem ser interrompidas: nossa militância é trabalhadora e possui um conjunto de responsabilidades políticas. Vale destacar que, diante da crise, muitas tarefas fundamentais foram esvaziadas por membros da CN da UJC que hoje aderem ao fracionismo. Desde tarefas em que temos inserção nos movimentos estudantil e popular, até importantes posicionamentos sobre brutais acontecimentos recentes — a realização de 3 chacinas e o assassinato de um adolescente no estado do Rio de Janeiro pela Polícia Militar -, não houve resposta por parte dessas questões quando colocado uma proposta de nota política pela Secretaria Nacional de Agitação e Propaganda (que tem os controles da rede), embora sua importância tenha sido levantada durante essa semana. Por outro lado, a nota em adesão ao movimento fracionista foi publicizada 1 hora depois da reunião do pleno, denotando as prioridades políticas desse grupo. Vale ressaltar que o conteúdo desta nota não passou pelos espaços internos de discussão do pleno da Coordenação Nacional.
Pela forma atropelada em que estava acontecendo o debate, que agora compreendemos como um golpe do grupo fracionista na UJC, 20% da CN foi contrária à este posicionamento nas redes sociais da UJC-Brasil ontem a tarde, antes que se tivesse os acúmulos sistematizado das bases. No debate, esses camaradas indicaram que quem não está aderindo ao fracionismo, também não está realizando uma defesa acrítica ao CC. Todos temos nossas críticas. A questão central é a defesa da estrutura partidária e do centralismo democrático. Estrutura essa que alguns do grupo fracionista, inclusive, explicitaram intenções de alterar. Mais uma vez, suas intenções ficam cristalinas.
É importante frisar que os camaradas contrários a um posicionamento da CN UJC antes que subissem os acúmulos das bases realizaram na reunião a proposta de pedido de revisão dos desligamentos realizados pelo CC e CRs, exigindo mais provas concretas e maiores explicações das razões pelo desligamento de camaradas da CN e de outras instâncias da UJC, e que isso fosse enviado para as bases da Juventude. A partir desses elementos, afirmamos que não reconhecemos este grupo fracionista da Coordenação Nacional que está usando as redes e meios de comunicação da UJC como legítima.
Estamos diante de uma profunda crise no complexo partidário do PCB. Esta crise e a movimentação fracionista trás, consigo, a iminência da perda de décadas de trabalho suado aos quais muitos de nós dedicamos a maior parte dos melhores anos de nossas vidas, e consequentemente causará um atraso ao giro operário-popular em nossas fileiras. Sabemos a correria de cada um para a construção desta organização, em que por vezes, decidimos pelas necessidades coletivas acima de nossas vidas e vontades individuais. Camaradas, não deixemos nosso trabalho de organização da Juventude se perder. Enquanto militantes de um dos coletivos partidários do PCB, fazemos parte da construção prática cotidiana da linha política dessa organização centenária da classe trabalhadora brasileira. Que erros por parte de instâncias de direção de nosso Partido, muito longe de ser perfeito, não impeça a compreensão de nossa tarefa histórica enquanto militantes comunistas. Devemos defender o PCB contra as movimentações fracionistas. Ao mesmo tempo, devemos lutar internamente por uma profunda autocrítica, que não virá sem nós. Precisamos sempre lembrar quem é o partido! Exemplos concretos disso já podem ser observados no dia-a-dia da militância partidária em nosso estado. Há muito o que avançar. E estamos avançando.
Apesar de entendermos que nosso partido necessita de uma renovação da direção, não acreditamos que um XVII Congresso nos moldes propostos por aqueles que aderiram ao Manifesto de Reconstrução Revolucionária seja o melhor caminho. O fato é que não sabemos quem compõe o auto intitulado “PCB-RR”, de identidade visual própria. O movimento possui uma Coordenação Nacional Provisório (conforme indicado em seu manifesto), cuja composição sequer foi divulgada. Para além de militantes da nossa organização, sabe-se que ex-militantes, desligados pelo partido em meio à crise política, o compõe. Particularmente no RJ, já vimos diversas situações de militantes que foram expulsos por PDs por questões gravíssimas como assédio sexual, que estão retornando nesse momento reivindicando sua reintegração às fileiras do partido e coletivos, agitando pelo “PCB-RR”. Como isso é filtrado, e por quem? Por que deveríamos acreditar que um congresso proposto nesses moldes, com participação de quem não está nas fileiras do partido, seria o mais adequado?
Trata-se de uma articulação não somente para a tomada da direção mas, segundo os debates levantados pelos membros do PCB-RR, de “superação da nossa forma organizativa”, que é o pilar de sustentação da nossa atuação e incidência transformadora na vida concreta. Tudo isso, proposto nestes moldes, consiste em um golpe que o PCB-RR tenta dar em nosso Partido. Golpe que já está em curso dentro da estrutura da própria UJC.
A crise que vivemos precisa ser superada no seio de nossa própria organização, utilizando suas ferramentas estatutárias, resoluções congressuais e centralismo-democrático, através do fortalecimento dos instrumentos de democracia interna, como a Tribuna de Debates e da Conferência Política Nacional, já objetos de encaminhamento congressual. Assim, avaliamos como muito equivocada a postura do Comitê Central do PCB de não priorizar a imediata realização destes dois mecanismos. Ao não entender o que está em jogo neste momento, o CC demonstra uma leitura equivocada da crise e uma postura que reproduz a prática deletéria de condução da resolução de nossos atuais problemas, embora esta tenha demonstrado alguns avanço recentemente. É preciso mudar isso urgentemente, camaradas, ou não saíremos do buraco em que estamos nos enfiando.
Apelamos, assim, à realização de uma IMEDIATA CONFERÊNCIA POLÍTICA DO PCB para que possam ser discutidos os seguintes temas:
– A relação PCB e seus coletivos;
– A relação política do PCB com o MCI;
– A nossa concepção de partido;
– A relação entre a direção e a base de nosso complexo partidário;
– O combate ao coleguismo, não de maneira pessoalizada, mas como prática política tendencial em nossa organização.
Não podemos perder de vista nosso horizonte revolucionário e os caminhos para alcançá-lo. A Coordenação Regional da UJC do Rio de Janeiro se compromete com a disputa interna (que já está acontecendo) e consequente no seio do Partido Comunista Brasileiro dos sentidos da organização partidária para amplificar o potencial revolucionário desta estrutura organizativa centenária a qual dedicamos diariamente nossas vidas, por enxergarmos como o intermédio e ferramenta mais adequada para transformação da realidade do nosso povo e construção da Revolução Brasileira. E, por fim, rechaçamos a iniciativa fracionista de divisão do movimento comunista e de crítica pública fora das instâncias devidas! Autocrítica não é autofagia!
Vida longa ao PCB e à UJC!
Pelo Poder Popular no rumo do socialismo!
Coordenação Regional da UJC Rio de Janeiro
13 de agosto de 2023