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Democracia dos ricos é o estado permanente de guerra aos pobres

Democracia dos ricos é o estado permanente de guerra aos pobres

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Hoje (28/10), dia do Servidor Público, o governo de Cláudio Castro (PL) realizou a maior chacina policial da história do Rio de Janeiro, em mais um episódio de carnificina generalizada. A operação de hoje é, mais uma vez, a expressão legítima do que a burguesia tem a oferecer para a juventude e para classe trabalhadora nas favelas e periferias: morte e violência em estado puro. 

A ausência de garantia de direitos e intensificação da precarização da vida não vêm acompanhadas da violência de Estado por coincidência, fazem parte do projeto da burguesia para a juventude brasileira  A agressão, o encarceramento e o assassinato da nossa juventude visam controlar a franja marginal do nosso país. São mais de 60 mortos1, quatro deles servidores descartáveis para o teatro eleitoral de Cláudio Castro.

Desde a colonização, a militarização da polícia no Brasil se sustenta em torno do combate a um inimigo interno. Antes, visava controlar a população escravizada do país. Hoje, o inimigo é o “tráfico de drogas”. O discurso varia, mas a prática sempre se materializa na repressão à população negra e pobre do país.
Num contexto de acirramento da luta de classes a nível global, com novas investidas do imperialismo estadunidense pela América Latina, a “guerra às drogas”, verdadeira guerra aos pobres, ganha novo papel: a extrema-direita lança mão da ideia de “narcoterrorismo” para legitimar intervenções estrangeiras em nosso solo. Na semana passada, Flávio Bolsonaro elogiou os ataques de Trump a navios no Caribe, dizendo que sentia “inveja” e colocando um alvo na Baía de Guanabara ao afirmar que “ouviu dizer” que havia barcos como aqueles, supostamente carregando drogas, circulando em nossa cidade.

Claudio Castro dá continuidade a um projeto centenário que estruturou a formação racista do capitalismo brasileiro. Ele não o faz de forma velada: “Estamos excedendo, se tiver que exceder mais excederemos”. É assim que ele trata um genocídio deliberado. Percebe-se tal fato pelo histórico de chacinas no governo.

Desde 2021, quando iniciou seu governo, foram promovidas as maiores chacinas da história do estado, como a Chacina no Jacarezinho, em 2021, com cerca de 21 pessoas assassinadas. Em 2022, em outra operação no Complexo da Penha,  outra, com cerca de 23 pessoas assassinadas. Em 2023 e 2024 elas não pararam, operações no Complexo do Salgueiro, Alemão, Penha e Cidade de Deus com mais de 20 mortes também aconteceram, para citar apenas as maiores.

A chacina em curso hoje não é “excesso” nem “desvio operacional”, ela é resultado direto da articulação política que mantém Castro e Eduardo Paes alinhados num mesmo projeto de poder. A militarização do cotidiano e o terror policial não são efeito colateral, são as estratégias. Essa aliança opera como moeda eleitoral, convertendo corpos negros em capital político e punitivismo midiático em campanha antecipada, no meio de um teatro de sangue.

Enquanto Paes se aproxima do Partido Liberal (PL) para assegurar governabilidade e compor um bloco mais amplo para 2026, Castro entrega o braço armado do Estado como vitrine de força. Essa engrenagem se retroalimenta, Paes “lava” a imagem institucional, Castro executa a guerra às favelas enquanto  sustenta a costura territorial e empresarial por trás dessa lógica. O que estamos vendo hoje é o uso da máquina pública para produzir morte e controle político, e não combate ao crime.

Enquanto isso, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes abandona cada vez mais sua máscara progressista em favor do uso eleitoreiro do aparato repressivo do Estado contra o povo trabalhador, como estamos vendo com a criação da guarda armada. Sua aproximação com o bolsonarismo e acenos pro PL destacam sua postura oportunista e de apoio às políticas de extermínio e de genocídio, visando a sua disputa para o governo do estado do Rio de Janeiro. 

Eduardo Paes surfa na onda da política genocida de Claudio Castro, mas o governador dá uma demonstração de força após a sinalização de apoio por parte do prefeito: se quer o apoio, deve aceitar o pacote completo. A fala de Cláudio Castro, tensionando com o governo federal ao acusá-lo de inação, foi calculada em um contexto em que, inclusive de forma pouco usual, a Polícia Federal realiza uma operação de inteligência contra o PCC que impactou fortemente os rendimentos da facção criminosa.
Ao se deparar com uma política de segurança que não contribui para a manutenção do expediente genocida, Cláudio Castro dobra a aposta e, numa cidade chave para a política nacional, reafirma seu compromisso com operações midiáticas que enxugam gelo, prejudicam o povo trabalhador, ceifam vidas, mas rendem votos. Marca-se com isso uma posição clara de um bloco da extrema-direita no país: não por coincidência o governador Romeu Zema parabeniza Castro e reforça a narrativa contra o chamado “narcoterrorismo”.

As invasões policiais também desencadearam o fechamento de dezenas de vias, ônibus incendiados, tiroteios, caos e terror em diversos bairros do Rio de Janeiro, atingindo diretamente grande parte da população trabalhadora carioca. O trânsito foi paralisado, chegando a um nível de caos completo, ônibus e metrôs ficaram lotados em ambos os sentidos e em horários que estariam vazios.
Esse cenário piorou com a decisão certamente pensada por parte do governo de jogar o feriado do Dia dos Servidores para sexta-feira, o que fez desta terça um dia mais movimentado do que seria em condições normais. A ideia, fica claro, era gerar o maior transtorno possível. Além disso, decretaram fim do expediente administrativo para a polícia hoje, deslocando batalhões dos mais diversos para as ruas. O caos urbano não foi falta de planejamento, foi consequência direta dele.

Um avanço real na segurança pública do Rio de Janeiro depende da DESMILITARIZAÇÃO da polícia militar, que só será alcançada com a organização e mobilização do povo, e com uma política de segurança digna de seu nome, que se preocupa verdadeiramente com a vida e com o povo, não com eleitoralismo barato. Não existe democracia e dignidade para os trabalhadores em meio a um território que convive diariamente com uma guerra!

PELO FIM DO PROJETO GENOCIDA NEOLIBERAL

VIDA DIGNA E SEGURANÇA PARA TODOS

Coordenação Estadual da União da Juventude Comunista (UJC) no Rio de Janeiro
28 de outubro de 2025

Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil


Rodapé

  1. Entre a escrita desta nota e a publicação no site, foram encontrados pelo menos mais 54 corpos pelos moradores na mata da comunidade onde ocorreu a chacina, que não estão na contagem oficial. Já são no mínimo 118 pessoas enquanto seguem as buscas, sendo esta uma das maiores chacinas do país, superando o massacre do Carandiru em 1992.  ↩︎