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Da Construção Coletiva ao Oportunismo
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Da Construção Coletiva ao Oportunismo

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Da Construção Coletiva ao Oportunismo: Desligamento da UJC e do MUP do Comitê Univille Pública e do Processo Eleitoral para o Diretório Central das e dos Estudantes

Nota política da UJC Joinville – Núcleo Lúcia Schenato

Em 2023, a União da Juventude Comunista (UJC), o Movimento Por Uma Universidade Popular (MUP), o Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN) e a Juventude Comunista Internacionalista (JCI), após o primeiro ato na Univille contra o mentiroso projeto “Universidade Gratuita” do Governo Jorginho Mello, fundaram o Comitê Univille Pública. O comitê tinha por objetivo unir forças contra o referido projeto, que não tem nada de gratuito, mas sim xenofóbico e excludente, e apresentar uma saída para as e os estudantes, qual seja: a criação de uma Univille radicalmente pública. As organizações iniciaram uma série de reuniões e atos na Univille, até culminar no último ato, em conjunto com o magistério catarinense, contra a presença do Governador na universidade. Esse ato foi a gota d’água para a UJC reavaliar sua participação no Comitê Univille Pública, diante do oportunismo rasteiro da Juventude Comunista Internacionalista.

I – O Oportunismo da JCI

Conforme apontado acima, as organizações, entendendo a necessidade de construir uma unidade de ação, se organizaram para pautar e lutar por uma universidade pública. Inicialmente, o comitê conseguia realizar um movimento importante na universidade, com reuniões abertas e atos unificados. No entanto, os últimos meses foram caracterizados pela tática do entrismo, algo inerente à política da Organização Comunista Internacionalista (OCI). Em outras palavras, essa tática oportunista da JCI, ao invés de unificar o movimento em prol da luta estudantil, acabou dividindo e enfraquecendo a luta. Exemplo disso é o recente desligamento do Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN) do Comitê Univille Pública e o afastamento crescente de estudantes independentes.

Cabe salientar que, apesar das divergências políticas entre os anarquistas e nós, e entre eles e a nossa política, tanto a UJC/MUP quanto o CABN em nenhum momento fomentaram a divisão e o aparelhamento do Comitê. Além de não ser a prática das organizações, isso reflete o respeito cultivado na cidade de Joinville entre o PCB, consequentemente a UJC/MUP, e o CABN em tantas lutas que enfrentamos em conjunto. Por exemplo, no Movimento Passe Livre, nas ocupações, nas greves e em todos os espaços onde dividimos as trincheiras com as companheiras e companheiros do CABN.

No entanto, não existe uma postura digna por parte da JCI. Aqui, citaremos alguns episódios que nos levaram a sair do Comitê Univille Pública. O primeiro momento, ainda que menos grave, já demonstrava a tentativa de aparelhamento: a utilização massiva, por parte da JCI, do perfil no Instagram do Comitê (@univillepublica). Sem nenhum diálogo com as outras organizações, fizeram uma série de postagens em colaboração com os perfis estadual e nacional da JCI. Em determinada publicação, sem aprovação prévia de conteúdo e arte, a UJC questionou a colaboração exclusiva com o perfil da JCI e nos foi respondido de forma cínica que “esqueceram” de inserir o perfil da UJC como colaborador. Apesar do evidente desconforto, visando não criar polêmicas e manter a unidade de ação, não seguimos com o tensionamento.

Ato contínuo, a UJC/MUP organizaram no dia 7 de março uma panfletagem para divulgar a atividade de apresentação das organizações, que ocorreria nos dias 13 e 14 de março na Univille. Inclusive, uma militante da JCI recebeu o panfleto da atividade, entregue por um militante da UJC que não a conhecia. No entanto, um dia depois da panfletagem (8 de março), a JCI agiu de forma rasteira e com claro intuito de prejudicar a atividade. Eles convocaram unilateralmente uma reunião aberta do Comitê para os mesmos dias 13 e 14 de março, sem consultar as outras organizações. Além de agirem como se fossem os donos do Comitê, marcaram essa reunião “coincidentemente” para os mesmos dias da atividade da UJC/MUP, da qual eles já tinham conhecimento prévio. Apesar disso, a UJC/MUP realizou as apresentações com êxito.

Não bastasse a dificuldade de organizar qualquer movimento com a JCI no espaço estudantil, vemos reiterados ataques ao PCB e seus coletivos por parte dessa organização juvenil e da corrente da qual fazem parte, a Organização Comunista Internacionalista (OCI). Recentemente, a referida organização publicou um texto acerca da suspensão da greve do magistério catarinense após uma manobra da direção sindical. Nesse texto, de maneira espúria e pequena, alegam que o PCB já fez parte da direção proporcional do SINTE/SC em conjunto com a atual direção, algo que nunca ocorreu em nível estadual ou regional. Além de faltar com a verdade, o texto distorce os fatos para justificar o posicionamento da JCI na assembleia de 8 de maio: o fim da greve e o alinhamento ao governo fascista de Jorginho Mello.

Igualmente, há poucos dias eles publicaram no congresso de um partido que tenta usurpar o nome do PCB. Em trechos dessa publicação, fica explícita sua face racista, ao colocarem as cotas e ações afirmativas como políticas burguesas que dividem a classe trabalhadora e combatem o marxismo e a luta de classes. Essa crítica se limita a não buscar propostas de solução para a inserção da parcela da população que necessita das cotas para entrar no modelo de universidade capitalista. A crítica apenas aponta para o fim da política de cotas sem uma formulação crítica do que isso significaria. Reconhecemos as limitações relacionadas à política de afirmação. Portanto, a União da Juventude Comunista apoia criticamente a lei de cotas, entendendo que é extremamente necessária a inclusão da população negra no ensino superior, assim como em todos os espaços dos quais historicamente foram excluídas. Apontamos suas limitações ao entender que não mudam a condição material desses estudantes; a inclusão de indivíduos não nos emancipará como sociedade, mas sim a inclusão de todos, o que não ocorrerá no sistema capitalista. A solução para os problemas que cercam a universidade é a criação de um projeto de educação que vá contra os interesses da classe dominante, por meio de uma universidade que priorize o acesso, a permanência e a produção de conhecimento para e com o povo.

Além disso, nos anos anteriores, essa organização publicou uma série de textos distorcendo a história do Partido Comunista Brasileiro e realizou diversas tentativas de cooptação da juventude do PCB por meio de “cartas abertas” e ataques.

Voltando ao Comitê Univille Pública, no dia 29 de abril foi realizado um ato contra a presença do governador Jorginho Mello na Univille. Naquela ocasião, o ato foi positivo, mas os problemas com a JCI surgiram ao final, sendo o estopim para a decisão de sair do Comitê e apresentar publicamente essa nota. Ao término do ato, durante as falas das organizações e de alguns membros dos Centros Acadêmicos, a JCI, de maneira a pressionar as organizações que estavam até então construindo o Comitê, “lançou” a chapa do Comitê no processo eleitoral do DCE sem consultar nenhuma organização. Além disso, afirmaram que a política desenvolvida no Comitê poderia ser utilizada como programa político da chapa para o DCE. Questionamos: qual seria a política do Comitê? Seria a política da JCI?

Ironicamente, quando foi levantada a proposta de formar uma chapa do Comitê Univille Pública anteriormente, a JCI se posicionou contra, alegando que pensar em uma campanha para o DCE naquele momento configura oportunismo, possivelmente já com a intenção de formar sua própria chapa para o DCE. Tal fato demonstrou mais uma vez que a JCI não deseja uma chapa coletiva, mas sim uma chapa própria aproveitando a visibilidade que o Comitê Univille Pública ganhou na Univille. Não lideram o Comitê por terem mais militantes ou por convencerem os demais de sua linha política, mas sim pelo aparelhamento, entrismo e isolamento de outras organizações. Tudo isso reflete uma ação desesperada de ser uma organização grande e relevante, mas não é possível alcançar grandeza e relevância com uma política tão pequena e rasteira.

Apesar disso, os militantes da UJC/MUP, em nosso entendimento de forma equivocada e que será objeto de autocrítica no próximo tópico, participaram da primeira reunião de construção da chapa realizada após o ato mencionado acima. Inclusive, colocamos dois nomes da UJC/MUP para compor a chapa do DCE, entendendo a importância da construção coletiva e da necessidade de remover a direita que há anos dirige o Diretório Central dos Estudantes.

Na segunda reunião, quando se discutiria sobre os cargos, a JCI se autoinseriu nos principais cargos da chapa. Novamente, mais preocupados em construir sua própria organização do que compreender que o Comitê foi uma construção coletiva com outras organizações, a discussão sobre cargos e programa político deveria ocorrer de forma coletiva. Apesar dos protestos da UJC/MUP e de independentes, a situação não mudou, e entendemos que aquele espaço já não era mais coletivo em prol da luta estudantil por uma Univille pública, mas sim um espaço individual e oportunista para a construção da JCI.

Diante disso, a União da Juventude Comunista e o Movimento por uma Universidade Popular não fazem mais parte do Comitê Univille Pública.

II – Autocrítica

Enquanto comunistas, não devemos apenas criticar, mas realizar constantemente autocríticas para avançar nossa política e formação. Diante da atitude oportunista no ato de lançar uma “chapa de esquerda” sem discussão prévia, deixamos de fazer as críticas necessárias, assim como diante do processo que vinha ocorrendo há muitos meses dentro do Comitê. Reconhecemos que adotamos uma postura passiva quando deveríamos ter apostado no tensionamento e na crítica em defesa de uma universidade não apenas pública, mas radicalmente pública, conforme a linha política do Comitê.

Apesar de perceber todas as movimentações rasteiras fomentadas pela JCI, a UJC/MUP mobilizou esforços na construção de uma chapa, entendendo a necessidade histórica de retirar a estrutura do DCE das mãos da direita. No entanto, deveríamos ter reconhecido a improdutividade do espaço e nos retirado no momento devido. Em vez disso, permitimos que o processo de construção da chapa avançasse até uma eleição de cargos dominada pela JCI, que escanteou outras organizações e independentes presentes, deixando claro que não haveria qualquer possibilidade de construção de uma chapa coletiva.

Diante dessa reflexão autocrítica, reconhecemos a falha em nossa abordagem ao optar por uma chapa unificada ao invés da defesa vigorosa de nossos princípios políticos. Percebemos agora que cedemos à pressão e à conveniência momentânea, em vez de manter firmes nossos ideais de uma universidade verdadeiramente pública e radicalmente democrática. Ao ignorar as movimentações manipuladoras da JCI e persistir na construção de uma chapa, falhamos em proteger a integridade do espaço coletivo e em garantir uma representação verdadeiramente plural. Reconhecemos que, ao abrir mão da bandeira do MUP em prol de uma chapa unificada, comprometemos nossa própria identidade e capacidade de impacto político. Portanto, esta autocrítica nos instiga a retomar nosso compromisso com os princípios fundamentais do movimento, promovendo o diálogo interno, o tensionamento construtivo e a defesa incansável de uma educação radicalmente pública e emancipatória.

III – A UJC e o MUP: o Projeto de Universidade que Acreditamos

Dada a conjuntura nacional e estadual de privatização do ensino, expressa pelos programas “Universidade Gratuita”, “Educação Empreendedora” e “Novo Ensino Médio”, a luta pela federalização da Univille se torna importante, porém insuficiente. O projeto de universidade que buscamos está alinhado com a sociedade que, enquanto comunistas, vislumbramos. A universidade é mais do que apenas um centro de aprendizado; ela é um microcosmo da sociedade em que está inserida e frequentemente reproduz e perpetua as hierarquias de classe e a ideologia capitalista presentes na sociedade.

Por todas essas razões, a universidade que queremos construir não deve ser apenas pública, mas radicalmente pública. No entanto, isso não é suficiente; ela precisa ser popular, contrapondo-se aos interesses da burguesia e afirmando de maneira sólida a independência e autonomia dos trabalhadores. É um projeto de universidade voltado para a emancipação e construção da classe trabalhadora e da juventude, em oposição ao modelo burguês de universidade e sociedade. Uma universidade que não apenas transmite conhecimento, mas também se engaja na transformação social, promovendo debates críticos, fomentando pesquisas voltadas para as necessidades da sociedade e fortalecendo a articulação entre universidade e movimentos sociais. Isso implica não apenas questionar as estruturas existentes nas universidades, mas também se engajar em esforços mais amplos para transformar a sociedade como um todo, criando um ambiente onde a educação seja verdadeiramente acessível, emancipadora, igualitária e radicalmente popular!

UJC Joinville – Núcleo Lúcia Schenato

27 de junho de 2024