Home Opinião Combater o Burocratismo e o Aparelhismo: A Real Vitória dos Estudantes no 37° Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia!
Combater o Burocratismo e o Aparelhismo: A Real Vitória dos Estudantes no 37° Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia!
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Combater o Burocratismo e o Aparelhismo: A Real Vitória dos Estudantes no 37° Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia!

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Nota dos estudantes de Pedagogia da UJC-Brasil 

Há 37 anos o Movimento Estudantil de Pedagogia (MEPe) organiza-se por meio das Executivas Estaduais, Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos com encontros anuais no intuito de mobilizar e estabelecer os planos de luta por uma educação popular, estes planos devem ser executados em cada universidade. Em 2004 o Movimento de Pedagogia, assim como outros movimentos de curso, rompe com a União Nacional dos Estudantes (UNE) por entender que essa entidade, por meio da sua direção majoritária se burocratizava cada vez mais e à medida que defendia os planos educacionais dos governos de conciliação, não representava os reais interesses dos/as estudantes.

É de extrema importância ressaltar o caráter combativo do Movimento Estudantil de Pedagogia que dois anos após o rompimento com a UNE, em 2006, ocupou o Ministério da Educação contra a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais que distorciam a formação do estudante de Pedagogia, impondo uma lógica mercadológica e tecnicista à docência. Enfatizamos também que durante as recentes ocupações de escolas e universidades, o MEPe também se fez presente na luta contra a Reforma do Ensino Médio e a PEC 55 que congelará os investimentos na educação, assistência e saúde pública por 20 anos.

O Movimento Estudantil de Pedagogia é composto por estudantes de diversas regiões do país, independentes e organizados politicamente. Defendemos a luta combativa e radical de transformação da sociedade, por isso todos os anos o movimento reafirma o seu rompimento com o movimento estudantil que defendeu um projeto conciliatório de classes (União da Juventude Socialista-UJS e Juventudes ligadas ao Partido dos Trabalhadores). Apesar de reafirmarmos o caráter combativo do movimento, nos últimos anos a realidade é um MEPe tentando fugir do aparelhamento do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), que tenta a todo custo tomar a entidade com suas práticas oportunistas, hegemonistas e burocráticas. Os encontros deixaram de focar nas reais e preocupantes questões específicas do curso de Pedagogia e da Educação Popular para apenas representar as bandeiras políticas desse movimento.

O 37° Encontro Nacional dos estudantes de Pedagogia, realizado no mês passado (julho de 2017) em Petrolina, na Universidade de Pernambuco (UPE), o primeiro na região do Sertão, marca, nesse sentido, uma importante virada no Movimento Estudantil de Pedagogia, após anos de aparelhamento e burocratização. As críticas principais aos vícios que permeavam a direção da entidade, se expressavam na ausência de clareza e debate político com a base dos estudantes de pedagogia, rechaçar qualquer opinião contrária; a utilização do poder de direção dos eventos para implodir falas e manobrar a coordenação da mesa, assim como votações a fim de aprovar suas propostas, foram constantes as ameaças, agressões verbais e físicas com os indivíduos que não concordam com sua política; golpes na plenária final entregando crachás de votantes para seus militantes de outros cursos e até estudantes secundaristas; Além disso, a imposição da cobrança de taxas absurdas que não cabem no bolso do estudante que provém de classes populares.

Defendemos um MEPe independente e combativo. Os estudantes que em 2004 romperam com a UNE com o tempo perceberam que romper com essa entidade não significa superar os problemas de aparelhamento e burocratismo dentro do movimento estudantil. O aparelhamento da UJS foi substituído pelo aparelhamento do MEPR. Estas organizações mostraram na prática que são duas faces da mesma moeda. De maneira oportunista, o MEPR tratou as organizações que compõem Oposição de Esquerda da UNE como um todo indiferenciado, como se fossem como a majoritária (UJS) que aparelha a entidade. Assim, criaram uma falsa dicotomia: o MEPR puro, combativo e ‘’independente’’, que há anos vem se utilizando dos encontros de curso da pedagogia e da Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia, e o resto conciliador, revisionista, divisionista. Porém, os estudantes logo perceberam a falácia desse discurso e passaram a lutar por um movimento nacional que, sem negar a importância das organizações na luta política, fosse realmente composto por projeto político e pautas próprias, sem aparelhamento de nenhum tipo.

Salientamos que o Movimento Estudantil de Pedagogia é autônomo e não deve ser aparelhado por nenhum movimento político. Mas ressaltamos que ter autonomia é diferente de ser antipartidos ou organizações. Tomar partido é ter um posicionamento político na defesa de um projeto de classe, para isso, reivindicamos a importância histórica desse instrumento político, capaz de universalizar as diferentes pautas da classe trabalhadora na defesa de outro projeto societário. O que se difere das práticas oportunistas e deploráveis de aparelhamento de espaços e movimentos de curso.

Nós, militantes da União da Juventude Comunista (UJC) que constroem o Movimento Estudantil de Pedagogia (MEPe), viemos a público declarar repúdio às ações de oportunismo e desonestidade política que se expressaram durante esse encontro.

A comissão organizadora (dirigida pelo MEPR) centralizou todo o poder do Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia, não levando em consideração os questionamentos e encaminhamentos de debates realizados por diferentes estudantes ao longo do processo de construção do encontro e não repassando informações sobre a viabilização do evento, com os pontos de infraestrutura, alimentação, valores das inscrições e orçamento durante meses. Além disso, alguns estudantes das Delegações de Recife e Caruaru (PE) e Maceió (AL), totalizando 11 pessoas, não tinham o valor total para o pagamento da inscrição com alojamento e alimentação. Ressaltamos que essa situação já havia sido comunicada anteriormente. É importante enfatizar que o perfil de estudantes de pedagogia é em sua maioria composto por mulheres, negras e pobres, LGBTs, todos provindos de classes populares. Ademais, por meio de arrecadações através de livro ouro, brechó, sebo, pedágio, a delegação de Pernambuco e Alagoas conseguiu o valor de 330 reais para as inscrições das 11 pessoas desses estados, garantindo apenas o direito à participação no evento e ao voto nas plenárias, já que a alimentação seria organizada pela própria delegação sem gerar custo algum para a organização do Encontro. Mesmo diante de todas as problemáticas expostas para a Comissão Organizadora houve a recusa do valor arrecadado e durante a negociação do pagamento houveram várias agressões verbais e físicas vindo dos militantes do MEPR. Denunciamos as agressões verbais cometidas a várias estudantes de Recife e agressões físicas em estudantes independentes e uma militante da União da Juventude Comunista (UJC). Além desse desastroso episódio, agrediram fisicamente as estudantes do Rio Grande do Sul no final do encontro, quando a maioria das delegações já haviam ido embora, apenas porque elas foram oposição às práticas oportunistas que ocorreram durante todo o encontro.

Contudo, cabe também pontuar a permanência de concepções oportunistas de outras organizações dentro do movimento de curso. Durante o ENEPe Sertão, a Rede Estudantil Classista Combativa (RECC) hostilizou militantes da União da Juventude Comunista (UJC), até rachando com o campo de luta do MEPe (composto por militantes da pedagogia que são independentes e militantes organizados na esquerda revolucionária). A justificativa seria porque, na visão da RECC, só pelo fato de serem da UJC, duas militantes presentes iriam necessariamente “aparelhar” o campo, utilizando o argumento falho e oportunista de “independência”. Esse tipo de pequena política, uma forma de não debater programa político, baseia-se numa concepção curiosa: o status de partido ou organização é dado pelo registro ou não no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não precisa refletir muito para saber que a RECC é também uma organização política, não estando no campo da ‘’independência’’. Essa organização atacou as comunistas durante quase todo ENEPe manteve uma postura vacilante e na maioria do encontro foi aliado do MEPR. Os gritos vazios de “independência” e combatividade conseguiram se harmonizar com tranquilidade com o apoio a práticas nocivas ao fortalecimento do movimento estudantil enquanto um sujeito político de construção do poder popular. Exemplo significativo disso foi a omissão dessa organização quando, ao final do encontro, as delegações de Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro foram acusadas injustamente de não ter pago a inscrição no encontro, numa manobra da comissão organizadora.

Apesar da vitória das/os estudantes nesse ENEPe, cabe pontuar que as disputas da micropolítica prejudicarama qualidade dos debates políticos. A reflexão sobre uma concepção estratégica de universidade com projeto político revolucionário, a Universidade Popular; as saídas da classe trabalhadora para a atual ofensiva burguesa e o papel do movimento estudantil como aliado da classe trabalhadora. Defendemos potencializar uma profunda reflexão sobre o antipartidarismo primário e como ele ajudou o oportunismo de várias organizações e os caminhos estratégicos para o MEPe.

Nós da União da Juventude Comunista (UJC) nos orgulhamos de termos contribuído nesse importante momento histórico do MEPe e dentro das possibilidades fomentado o debate sobre Educação Popular e Poder Popular. Continuaremos na luta pelo amadurecimento político do movimento de pedagogia, combatendo toda forma de exploração-opressão e pela defesa da educação popular que seja um mecanismo de luta para a preparação de uma nova ordem social, contra a reprodução dos valores da classe dominante na sociedade dividida em classes, pela destruição desse sistema desigual e no rumo ao socialismo!

Ousar Lutar, Ousar Vencer!