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Boletim da UJC – Novembro/2025

Boletim da UJC – Novembro/2025

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Mãe cria, Estado mata: por um 20 de novembro antirracista e combativo

No dia 20 de novembro, é celebrado no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. Data instituída em 2011 e transformada em feriado nacional em 2023, remete ao dia em que foi morto o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, no ano de 1695.

Essa data busca nos lembrar da continuidade da luta de quase 200 anos entre a criação dos primeiros quilombos e a assinatura da Lei Áurea, mas que não pôde ter fim mesmo após a abolição.

Lembremos que, no campo ideológico, a legitimidade da violência contra a população negra sobreviveu à abolição por meio do “racismo científico”, teoria pseudocientífica — ainda que vista como ciência à época — que defendia a inferioridade das raças não–brancas e que a miscigenação resultava na degradação da espécie humana, produzindo um povo inferior.

Essa ideologia pseudocientífica foi a base para uma série de medidas institucionais — executivas, legislativas e jurídicas — de violência e exclusão que garantiram a passagem do racismo da dimensão individual e institucional para a dimensão estrutural.

Esse é o contexto de formação do povo brasileiro, que hoje, segundo pesquisa do IBGE realizada em 2022, tem uma composição de 55% de pessoas pretas e pardas. Assim, é possível ver que no Brasil, raça e classe são inseparáveis na compreensão de quem somos como classe trabalhadora.

No presente, a prisão em massa — que hoje ultrapassa 850 mil pessoas, sendo 70% delas pessoas negras —, o morticínio, o desemprego e a exclusão marcam a realidade de todo o país. Exemplo recente é o Rio de Janeiro, que, no final do mês de outubro, passou pela maior chacina decorrente de operação policial, com um número de assassinados maior do que o Massacre do Carandiru.

Sob o falso argumento de uma política de “guerra às drogas”, milhares de vidas de jovens negros e periféricos de todo o Brasil são ceifadas todos os dias. Uma justificativa torpe, pois as drogas e armas chegam até as comunidades de norte a sul do Brasil por meio, ora da negligência do Estado, ora pela sua colaboração com o capital que toma forma no crime organizado.

Nesse sentido, este Dia da Consciência Negra deve fazer ecoar em todas as ruas desse país as reivindicações pela desmilitarização da polícia, fim da Guerra às Drogas e, sobretudo, a criação de um Estado Socialista e de mecanismos de Poder Popular, pois só a partir deles surgirá a possibilidade de superação das bases econômicas, políticas, jurídicas e sociais que estruturam o racismo e toda as outras formas de opressão.

Viva Zumbi!

Viva Dandara!

Pelo Poder Popular!


IX Congresso Nacional da UJC (IX CONUJC)

Entre os dias 20 e 23 de novembro de 2025, será realizado no Rio de Janeiro o IX Congresso Nacional da União da Juventude Comunista (UJC), a juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A Etapa Nacional do nosso Congresso foi precedida de Etapas de Base e Estaduais de Norte a Sul do país, em mais de 10 estados, reunindo a inteligência coletiva da militância que atua junto à juventude trabalhadora nos movimentos estudantis, de bairros, de cultura e de jovens trabalhadores.

Quanto ao temário, entendemos que para além da discussão sobre a conjuntura internacional e nacional, também seria necessário nos debruçarmos sobre o perfil da juventude brasileira e elaborarmos um programa de lutas para o próximo período. Se passamos por um profundo período de reorganização, agora caminhamos para realinhar nossas orientações em nível nacional e qualificar nossa intervenção junto à juventude brasileira.

Ao mesmo tempo, ressaltamos a continuidade de nossos trabalhos. Seguimos construindo entidades estudantis e compondo a diretoria da UNE, UBES e ANPG, além de, internacionalmente, termos sido reeleitos para o Conselho Auditor da FMJD. Nessa linha, contaremos em nosso Congresso com a presença e a saudação de organizações de luta do Brasil e do mundo.

Entramos na reta final desse processo democrático sabendo que a luta pela Escola Popular, Universidade Popular, organização dos jovens trabalhadores e pelos movimentos regionais, de bairro e de cultura só será possível por meio da luta revolucionária.

Nossa quadra histórica torna necessário construir a resistência de massas para barrar o fascismo e construir a contraofensiva.

Temos grandes tarefas pela frente para construir a Revolução Socialista no Brasil.

Viva o IX CONUJC!

Unidade para resistir, ousadia para avançar!


Plebiscito Popular: trabalho e imposto no horizonte de luta

A iniciativa do Plebiscito Popular acerta ao colocar para debate duas questões que tratam de interesses imediatos da classe trabalhadora: trabalho e imposto. Contudo, o principal acerto dessa iniciativa dependerá da capacidade da classe trabalhadora em fazer avançar o debate fazendo frente a um legislativo profundamente reacionário.

A pergunta “você é a favor de que quem ganha mais de R$ 50 mil pague mais imposto para que quem recebe até R$ 5 mil não pague imposto de renda?” lançou os holofotes sobre a disputa em torno da questão tributária dentro do Legislativo. Nesse palco, a hegemonia liberal, que busca cobrar da classe trabalhadora o “preço da corda” que sufoca as políticas públicas e direitos sociais restringidos pelo Arcabouço Fiscal, se vê confrontada com a “luta por fôlego” daqueles que não querem pagar pelos privilégios da classe dominante.

Já a pergunta “você é a favor do fim da escala 6×1 sem redução salarial” não só fortalece e legitima um objetivo tático cuja forte repercussão social é hoje inegável, como aponta para a relação entre trabalho e tempo livre como eixo central da luta de classes.

Ao cabo, a unidade tática da esquerda em torno do Plebiscito Popular, forjada no calor da luta de classes que a precedeu, permite vislumbrar a difusão de um horizonte ainda mais radical: a redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais. No entanto, essa realidade só será possível na medida em que a independência frente ao campo democrático–popular, tal como defendida pelo PCB e UJC, não se confunda com sectarismo, ao mesmo tempo em que garanta que essas demandas não sejam rifadas no balcão da conciliação de classes.

Permanece atual a máxima leninista:

Golpear juntos, marchar separados


Excerto de Os Condenados da Terra, Franz Fanon

O mundo colonizado é um mundo dividido em dois. (…) Nas colônias, o interlocutor válido e institucional do colonizado, o porta-voz do colono e do regime de opressão, é o policial ou o soldado. (…) Nos países capitalistas, entre o explorado e o poder se interpõe uma multidão de professores de moral, de conselheiros, de “desorientadores”. Nas regiões coloniais, ao contrário, o policial e o soldado, por sua presença imediata, suas intervenções diretas e frequentes, mantêm contato com o colonizado e o aconselham, valendo-se de coronhadas ou bombas de napalm, a ficar quieto. Vê-se que o intermediário do poder usa uma linguagem de pura violência. O intermediário não alivia a opressão, não encobre a dominação. Ele as exibe e manifesta com a consciência tranquila das forças de segurança. O intermediário leva a violência para dentro das casas e do cérebro do colonizado. (…) A cidade do colono é uma cidade de material resistente, toda de pedra e de ferro. (…) A cidade do colonizado é uma cidade faminta, faminta de pão, de carne, de calçados, de carvão, de luz. (…) Explodir o mundo colonial é doravante uma imagem de ação muito clara, muito compreensível, e passível de ser retomada por cada um dos indivíduos que formam o povo colonizado. (…) Destruir o mundo colonial é precisamente abolir uma zona, enterrá-la no mais profundo do solo ou expulsá-la do território.