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As tragédias do início do ano no Rio de Janeiro não são naturais
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As tragédias do início do ano no Rio de Janeiro não são naturais

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Mais um ano se inicia e, com a chegada das chuvas no Rio de Janeiro, uma infeliz história se repete. Em várias áreas da região metropolitana do estado e em muitas cidades da Baixada Fluminense, alagamentos e deslizamentos de terra provocaram mortes, desaparecimentos, perdas e danos à nossa classe, que já a muito custo consegue garantir o que precisa para sobreviver. Cenas onde pessoas são tiradas de suas casas, muitas vezes perdendo tudo o que tinha dentro dela, contraindo doenças e morrendo afogadas por causa do elevado nível de água nas áreas ocupadas, fazem com que possamos perceber como o governo lida de forma negligente com nossas vidas.

Ao longo da história carioca e fluminense, não faltam exemplos de situações críticas que nós da classe trabalhadora tivemos que vivenciar. Relembrando apenas os últimos anos, citamos a tragédia na cidade de Petrópolis [1] em 2022, com 256 mortos. Neste mesmo ano, a Baixada Fluminense sofreu novamente com cheias e alagamentos [2] que se deram em diversos municípios. Já em 2011, há praticamente 13 anos atrás, foram cerca de 918 mortes em deslizamentos que aconteceram em várias cidades da Região Serrana. No ano anterior a este, foi no Morro do Bumba, em Niterói, onde aproximadamente 250 pessoas perderam suas vidas ou nunca foram encontradas. E até o momento da escrita deste texto, já se somaram 12 mortes no mais atual e revoltante quadro de calamidade que tomou conta de diversos locais da Região Metropolitana.

Indo de encontro a essa situação recorrente, também em 2022 foi aprovado o menor orçamento federal para obras de encostas e de prevenção a desastres causados pelas chuvas. O valor marcou uma redução de 95% em relação ao do ano anterior, passando de cerca de R$ 24 para R$ 2,7 milhões. Outra absurda redução orçamentária foi a de 99% nas verbas destinadas ao “apoio a obras emergenciais de mitigação para redução de desastres”, no orçamento para o ano de 2023, que foi de irrisórios R$ 25 mil. Nesse contexto de sucateamento, diversos estudos são feitos anualmente para que o governo possa investir de maneira correta a verba para esse setor, mas as políticas escolhidas são sempre para mitigar esses problemas e não resolvê-los.

Mais do que uma situação de descaso ou de falta de planejamento, tudo isso apresentado revela um projeto, a lógica central do planejamento territorial burguês. Em uma cidade feita para o capital, não é uma opção fazer intervenções em infraestrutura ou drenagem em todo o território, mas sim priorizar parte dele em detrimento de todo o restante. Dessa forma, enquanto nas áreas centrais e mais elitizadas as obras necessárias são conduzidas, os alagamentos e deslizamentos continuam sendo parte da rotina de quem mora nas áreas periféricas, onde está a maior parte da classe trabalhadora pobre e preta. Em síntese, mostrando uma verdadeira “cidade partida”, a mesma chuva pode gerar efeitos completamente diferentes, a depender da classe a qual uma pessoa pertence. Nós comunistas denunciamos que isso parte de uma escolha, feita para que a segregação socioespacial – fundamental para a sociedade de classes – se mantenha, e a burguesia lucre em cima de nossas dores e adversidades.

Portanto, no capitalismo dependente brasileiro, é desta maneira que a vida humana é entendida: como uma coisa totalmente subordinada aos interesses do capital, representados nas cidades por banqueiros e empresários. Através de políticas territoriais seletivas e promotoras de desigualdades, bem como do corte de investimentos públicos – tão típico do (neo)liberalismo – que poderiam impedir novos desastres, os governos seguem apoiando as investidas da especulação imobiliária, impondo à grande maioria da população a viver em áreas de risco, sem quaisquer alternativas e a mercê do que a força das águas pode fazer, mantendo o projeto de morte e segregação imposto à classe trabalhadora.

E indo além disso, é fundamental frisar: mesmo que saibamos do quadro atual de mudanças climáticas globais – igualmente vinculado ao sistema capitalista – e que estamos em um ano de El Niño [3], sendo ambos os elementos responsáveis por aumentar a quantidade e intensidade das chuvas, é preciso dizer que essas tragédias não são “naturais”, mas naturalizadas, praticamente desastres sociais, fruto de decisões do Estado burguês! Por essas e outras, a construção de um novo mundo, através do socialismo e rumo ao comunismo, é uma urgência histórica para nós humanos, assim como é para o planeta onde vivemos, dado o quadro de desequilíbrio ecológico que vem nos acompanhando. As chuvas são naturais até um certo ponto; porém, o quadro de barbárie no qual estamos imersos em nossa sociedade tem nome: ele se chama capitalismo.

União da Juventude Comunista no RJ

16 de janeiro de 2024

Créditos pelo recolhimento de reportagens: @anti.nio @geografah

Referências

[1] @partidaopetropolis https://www.instagram.com/p/CaC__oOrexY/

[2] @ujcni https://www.instagram.com/p/CdJnBiHLRmU/?img_index=2

[3] @lisa.uerj https://www.instagram.com/p/CuQBwZzJe0f/?igsh=MTVvd2h0MWNqdGJ1OQ==