
Por Conceição Lima, militante do MUP na Bahia*
Em meio a ameaças de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, o Brasil enfrenta ainda um possível conflito interno liderado pelos empresários do agronegócio, da aeronáutica e do petróleo. Sendo blefe ou não – e só saberemos em 1° de agosto – essa medida de Trump pode gerar pressão por parte de organizações lobistas capazes de utilizar o Congresso Nacional (como a bancada do agronegócio) para bloquear qualquer ação retaliatória do governo brasileiro.
Em meio ao crescimento irreversível do comércio multilateral, ao fortalecimento de fóruns como o BRICS e à possibilidade de criação de uma moeda comercial comum ou uso de moedas próprias nas transações, os EUA se veem ameaçados e progressivamente isolados no novo ordenamento geopolítico. Se antes lhes era essencial a dolarização global que permite sua quase ilimitada emissão monetária, hoje o risco de perda de hegemonia reflete o recuo de sua própria economia. Além disso, uma nação que sempre pregou o livre mercado agora adota postura protecionista – desde as recentes ameaças de tarifas de 10% contra os BRICS até a guerra comercial com a China, que resultou em tarifas de até 51% em certos setores (abaixo dos 145% do início do ano).
A União Europeia também será impactada, com tarifas previstas de 30% mais tarifas setoriais (tecnologia, alumínio/aço e agricultura), podendo atingir 60% no total. Os EUA recorrem ao protecionismo sempre que percebem desvantagem competitiva ou ameaça a setores estratégicos.
Com o Brasil, além da participação no BRICS, há o incômodo com nossa política interna, revelando a arrogância e o temor de perder um aliado na maior economia sul-americana. Trump, em diálogos com figuras da extrema-direita como Eduardo Bolsonaro, pressiona o governo brasileiro a impedir as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
O presidente Lula declarou que buscará novos mercados isentos dessas tarifas junto aos empresários brasileiros, esperando deles a defesa da soberania nacional e o confronto direto a Trump. Um erro histórico do movimento revolucionário brasileiro foi justamente crer que nossa burguesia poderia desenvolver capacidades produtivas nacionais nos moldes desenvolvimentistas.
O ex-deputado que alegou estar nos EUA pleiteando sanções contra autoridades brasileiras releu a carta de Trump sugerindo que empresários brasileiros investissem diretamente em território estadunidense – proposta mais provável que qualquer defesa patriótica por parte desses grupos. No jogo do lobby, o cenário mais provável é que organizações a serviço da burguesia pressionem o Congresso para forçar recuos do governo Lula.
As limitações da social-democracia tornam-se evidentes neste contexto. É crucial aproveitar este momento para construir as bases de um nacionalismo popular que mobilize a classe trabalhadora rumo à verdadeira independência nacional no cenário global – objetivo que só se concretizará através da revolução socialista brasileira.
* Artigo publicado originalmente no jornal O Poder Popular.