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Agitação e propaganda na juventude

Agitação e propaganda na juventude

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Uma contribuição fundamental resgatada por Lênin da obra de Plekhanov são os conceitos de agitação e propaganda e sua posterior organização no sentido de um jornal, sendo o Iskra o mais emblemático. Mas tanto tempo se passou e o uso da palavra “agitprop” tende a simplificar indevidamente uma discussão longa e necessária, que precisa ser qualificada para melhor elaborar a atuação política entre a juventude e a eficaz execução da agitação e da propaganda entre os jovens.

Recuperando: a agitação é a explicação de poucas ideias para muitas pessoas, enquanto a propaganda é a explicação de muitas ideias para poucas pessoas. Na época de Lênin, a primeira era centralmente pela voz, enquanto a segunda, pela escrita. Ou seja, a agitação era o trabalho realizado nos palanques e tribunas, nas conversas com os operários, enquanto a propaganda era o trabalho realizado nos livros, jornais e brochuras, buscando um público mais específico dos operários mais avançados.

A agitação se dedica a emplacar uma ideia simples, e que essa tenha a maior amplitude possível – por exemplo, colocar que é uma contradição que haja dinheiro para pagar os juros da dívida pública, mas que não haja para alcançar os 10% do PIB para educação, ou que um vereador demagogo vote contra a isenção fiscal de bens de consumo popular. Já a propaganda busca qualificar a compreensão, por exemplo, ligando o subfinanciamento da educação pública no Brasil a uma lógica capitalista rentista e subordinada ao imperialismo, ou denunciando o comportamento cínico da burguesia, que defende um Estado perfeitamente desenhado para servir aos seus interesses.

Mas muita coisa mudou desde então. As sucessivas inovações tecnológicas diversificaram muito as possibilidades de circulação de informação. Da mesma forma que agora temos uma circulação de ideias simples por imagens ou textos curtos em massa, como via redes sociais ou aplicativos de comunicação instantânea, temos também outras possibilidades de desenvolver ideias complexas e aprofundadas, como vídeos, podcasts e sites.

E na mesma proporção em que cresce a intercambialidade de formato de uma ação para outra, também cresce a necessidade de definir claramente do que se fala e para onde devemos andar com uma política acertada. As ferramentas se diversificaram muito, mas a confusão entre os conceitos leva apenas a uma execução deficitária de ambos. Se queremos intervir com qualidade nessa esfera, devemos ter clareza dessa distinção e aplicá-la com rigor.

Agitação

Falar de agitação é falar de comunicação de massas, é falar de alçar longe uma ideia simples. Não é possível confundir agitativo com enérgico, com chamado para a ação, com emocionante – não, uma agitação é emplacar uma ideia num grande contingente de pessoas. E apesar de estar comumente associada, ela também não se confunde com slogans, por mais importantes que esses sejam para uma agitação, visto seu potencial comunicativo.

Então, devemos falar de um complexo de agitação, uma política orientada que tenha bases e diretrizes e que seja adaptável aos diversos formatos possíveis. De forma ilustrativa, tratemos da luta pela redução da jornada de trabalho, pelas 30h semanais. Dentro disso, alguns exemplos de como essa política pode ser desenvolvida em cada base e local são importantes.

Primeiro, apesar de não ser uma questão de forma, existem formas que se adequam melhor ao objetivo da agitação. Um livro dificilmente será agitativo, enquanto para um post no Instagram é necessário que se seja, visto que qualquer tentativa de se delongar em causas e efeitos deve perder a atenção num feed. É necessário inclusive que se conheçam as características de cada meio, de onde se dá a mensagem, visando a sua melhor entrega.

Quando falamos de redes, do online, o domínio técnico é definitivamente uma questão, mas uma diminuição significativa dos custos de materiais para essa prática é uma facilidade. Hoje, qualquer um com um celular pode gravar um vídeo tratando de uma jornada de trabalho exaustiva, gravando um ônibus lotado, entrevistando um trabalhador no final do turno, denunciando uma empresa ou capitalista específico por crimes trabalhistas e ambientais – as possibilidades são inúmeras.

Mas, para isso, é importante estudar o meio: cada rede ou aplicativo tem suas especificidades, e devemos levar em conta nossa capacidade material de trabalho, para então podermos discutir como e o que produzir para causar esse impacto. Se faremos uma campanha pela redução da jornada de trabalho, devemos planejá-la de acordo com nossa capacidade, mas também de acordo com suas potencialidades de alcance.

E quando voltamos para o meio físico, se colocam outras questões: que tipo de abordagem é mais efetiva numa panfletagem? Onde colar um lambe para que ele seja visto por mais pessoas? Que tipo de intervenção visual será mais impactante? Tudo isso pede o estudo do local e da dinâmica que se coloca naquele ambiente – os trabalhadores se comportam diferentemente num terminal rodoviário ou na saída do seu local de trabalho.

Aqui já se colocam outras questões: de onde vêm os materiais a serem distribuídos? Quais são os custos envolvidos nisso? E como teremos certeza dessa disseminação da ideia no público-alvo? Novamente, são possibilidades inúmeras, mas estratégias como abaixo-assinados, lambes com contatos e a venda do jornal O Poder Popular podem dar noção de se a mensagem é bem recebida, e de que forma ela é recebida.

Propaganda

Já a propaganda é uma questão um pouco mais delicada, e de certa forma complexa para executar em meio à juventude, no sentido de que é preciso uma certa estrutura material e financeira para viabilizar impressão de livros ou a gravação de um material audiovisual longo, como uma série de aulas gravadas sobre determinado assunto.

Nisso, é preciso estabelecer quais são as prioridades de propaganda, qual o sentido que queremos dar a ela e de que forma podemos aproveitar situações e polêmicas para potencializar seu alcance e impacto. Uma propaganda bem colocada pode fazer a diferença num debate específico, como é necessário desmistificar os pressupostos liberais sobre a redução da jornada de trabalho, para além de sua defesa intransigente.

Fazer a crítica qualificada então é central para o desenvolvimento da propaganda. Logo, é preciso um processo de formação da militância e de apreensão do debate de sua realidade concreta. Explicar corretamente a expressão das contradições do capitalismo em um cenário específico pressupõe um conhecimento necessário tanto das categorias marxistas quanto das singularidades locais, para saber destrinchá-las e colocar as linhas gerais dos acontecimentos.

Na juventude

Por fim, cabe estabelecer uma diferenciação organizativa/operativa na aplicação e no desenvolvimento da agitação e propaganda: é a diferença entre campanhas e aparelho. Isto é, entre uma ação de agitação ou propaganda com um objetivo e prazo determinados (uma campanha) e uma ação de agitação ou propaganda com uma estrutura fixa e prazo indeterminado (um aparelho), capaz de reagir e ecoar as necessidades do momento.

Por exemplo, quando falamos da jornada 6×1, falamos de uma campanha, visto que temos um objetivo específico – a abolição dessa jornada – e de um prazo determinado – até a votação da lei que a regula na Câmara. Para isso, é importante mobilizar os mais diferentes meios e aparelhos para se somar a essa campanha, e não faz sentido restringir a participação nessa de setores aliados.

Alternativamente, quando falamos de aparelho, falamos de um organismo fixo, válido por tempo indeterminado, como uma Comissão responsável por um blog ou página em rede social, ou algum veículo físico, como um jornal ou boletim. Esse aparelho tem objetivos específicos de atuação, e vai seguir essas diretrizes centrais em sua atuação, mas tem seu aspecto central em ecoar e reagir às necessidades do organismo político que o dirige.

Logo, é preciso considerar a agitação e a propaganda em seus diferentes meios e formatos, assim como em diferentes configurações organizativas, que devem se conjugar e servir ao mesmo propósito: atender às linhas gerais da política de agitação e propaganda da organização. Se são periódicas ou pontuais, se são específicas ou gerais, as nossas políticas devem atuar de forma disciplinada e coerente.

Por Guilherme Corona, militande da UJC na Bahia
19 de junho de 2025