Por: Geovane Rocha e Gaia Kalashnikov
Os constantes ataques do capital a classe trabalhadora, como já é do conhecimento de todos, não é uma exclusividade do Brasil. Em todos os países do globo, a ofensiva imperialista tem mostrado o quão nefasto é esse sistema e o quão ameaçador para a vida na terra ele tem se tornado. A crise estrutural do capital tem ampliado o conjunto de contradições da sociabilidade burguesa e isso pode ser percebido com a ampliação da fome, xenofobia, conservadorismo e reacionarismo, as guerras no oriente médio (Como, por exemplo, a agressão do Estado sionista de Israel, com apoio dos EUA, ao povo palestino) e as intervenções do imperialismo na América latina (que tem como maior expressão a Venezuela).
Com a crise, ou seja, com acirramento da contradição capital x trabalho, o receituário que a burguesia (O setor financeiro – os parasitas – em especial) tem apresentado como alternativa para a retomada da taxa de lucro é a aplicação de medidas de austeridade. Tais medidas não são nenhuma novidade, há mais ou menos quatro décadas atrás, as mesmas medidas foram tomadas para salvar os grandes monopólios, em período de crise do capital, no que ficou conhecido como ofensiva neoliberal (Encabeçados por Reagan e Tatcher). Esses ataques aos trabalhadores está colocando abaixo toda e qualquer possibilidade de conciliação entre burguesia e proletariado (defendida por boa parte da esquerda reformista), estão pondo em cheque o pacto social que durante algumas décadas garantiu uma qualidade de vida menos miserável para a classe trabalhadora, mas que há muito tempo faliu na Europa.
Em todos os países onde essas medidas draconianas vem sendo aplicadas (A exemplo da Grécia, França e agora o Brasil), a qualidade de vida da classe trabalhadora vem diminuindo, tem aumentado o número de pessoas que estão morrendo por conta de doenças de fácil tratamento (A exemplo da tuberculose), aumento da criminalidade, o alcoolismo, e o número de pessoas sem moradia se amplia de forma assustadora. As demissões em massa e as ditas “flexibilizações” dos direitos trabalhistas também são fatores que vem influenciado na destruição da vida dos trabalhadores, mas não somente destruição da qualidade física, a mental também.
O adoecimento mental não é algo exclusivo do século XXI (O dito “mal do século”), não é atoa que o próprio Marx chegou a escrever, no séc. XIX, sobre o suicídio¹. O suicídio é o “recurso” que muitas pessoas que sofrem com a depressão, crise de ansiedade, síndrome de pânico (ou com a junção de todos esses) recorrem para acabar com a dor que acumulam durante anos. O Brasil tem liderado o Rank mundial de países com pessoas com crise de ansiedade², com o total de 9,3% da população mundial, ou seja, 9,3% da população mundial com ansiedade encontra-se no Brasil (!). Esses problemas, no caso dos jovens, se intensifica na universidade. Um jovem negro e cotista, que já traz consigo um conjunto de problemas subjetivos que adquire ao longo da vida na periferia, entra na universidade e tem que lidar com o produtivismo acadêmico, mas, ao mesmo tempo não tem condições objetivas de dar conta desse produtivismo, porque em nosso país existe um projeto de desmonte da educação pública – Parafraseando Florestan – no qual o jovem que entra na universidade não consegue se manter porque não existem politicas efetivas de permanência na universidade que garanta ao jovem uma boa formação ao longo do curso e, portanto, permanecer na universidade (essa é uma especificidade, mas que ao mesmo tempo atinge um conjunto de jovens com essa mesma característica que está na universidade graças as milagrosas políticas do governo do PT 2003 – 2014). Essa é apenas uma das facetas da contradição. A universidade intensifica o processo de destruição da subjetividade do jovem, principalmente o que trabalha e estuda. Um exemplo são os que trabalham no telemarketing, ficando sujeitos a assédio moral, sexual e ainda tendo que dar conta das demandas acadêmicas. Esse é mais um elemento que pode gerar o adoecimento.
O suicídio é a consequência mais nefasta do adoecimento, E muitos trabalhadores e trabalhadoras que estão diretamente ligados ao setor produtivo recorrem a esse meio. O capital destrói a subjetividade. Destrói a subjetividade das pessoas trans que não podem andar tranquilas nas ruas porque tem medo de sofrerem agressões, que tem o espaço politico negado a todo momento e outros fatores que tem levando, principalmente os homens trans³ (quando não assassinados), ao suicídio.
ADOECIMENTO E MILITÂNCIA
Na medida que a crise do capital se aprofunda, é cada vez mais “comum” o surgimento de pessoas com “transtornos” psicológicos e nos próximos anos isso vai se intensificar ainda mais, não é por acaso que cada vez mais pessoas relatam no facebook suas frustrações com a vida, relatam possuir ansiedade etc.
É muito importante que desde já se acumulem esforços para compreender tal processo, mas, ao mesmo tempo, não pode-se tratar essa questão como se fosse algo isolado da totalidade da realidade social, pois, dentro dos limites do capital esse problema não poderá ser efetivamente solucionado. Pensar em uma saída individual pode levar a concepção que o próprio capital alimenta que é a de que o indivíduo deve fazer um esforço para superar as crises, caso ele não consiga é pelo fato de ser um incapaz, como explicitamente dizem os receituários de “auto-ajuda”, Isso gera uma frustração, sentimento de incompetência, onde o suicídio parece então a única saída efetiva pra aliviar o sofrimento do indivíduo (indivíduo esse que, diferente da forma como os liberais pensam, não está desvinculado da sociedade, pois o indivíduo é social).
O numero de afastamento na militância por conta de depressão, ansiedade e sobrecarga de tarefas que podem ser ocasionadas por dois desses elementos (em alguns casos por conta da não divisão sexual/racial do trabalho) tem aumentado bastante. Muitos afastamentos se dão por que os/as demais companheiros (as), por não terem proximidade no debate e não possuírem acúmulos, começam a taxar o militante de preguiçoso, tarefista ou na pior das hipóteses dizer que “isso é besteira do (a) militante”.
A consciência de nossa classe é, de certa forma, pragmática (Isso no atual estágio de consciência no qual a classe se encontra). O (a) trabalhador (a) quer soluções imediatas para suas necessidades objetivas e os (as) militantes, muitas vezes, são influenciados por essa forma de pensar e levam isso para a militância. Isso pode gerar uma frustração sem precedentes que leva muitos inclusive a desistir da luta organizada. O (a) militante que tem “transtornos” psicológicos, muitas vezes, acaba usando a militância como um escape, pega o máximo de tarefas que está convencido que dará conta e ao não conseguir tocar todas elas e ver que os resultados não estão aparecendo de imediato, ficam frustrados. Os (as) demais companheiros (as) sem uma mediação adequada para lidar com a questão, acabam fazendo criticas vulgares que afetam subjetivamente o (a) companheira (a). Deve-se ter uma atenção muito grande com a pessoa adoecida, mas ao mesmo tempo, tomar cuidado para não cair no assistencialismo , pois para alguns isso pode parecer pena.
Enfim, esse é um debate deveras complexo, é importante buscarmos acumular cada vez mais para com isso lidarmos melhor com essas situações quando surgirem (e vão surgir). É bom ficar próximo do (a) camarada com “transtorno”, estimular o acompanhamento profissional, a proximidade dos familiares, da (o) companheira (o) e com bastante mediação mostrar que a culpa por todos os problemas que ele passa não é culpa dele enquanto indivíduo. Não podemos mais permitir que valorosos (as) desistam da luta por uma sociedade mais igualitária porque nós não estamos sabendo lidar com essas questões. Não podemos permitir que mais camaradas retirem suas vidas por que ninguém escuta seus gritos.
1 – https://docslide.us/documents/