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Um País em Chamas e a Urgência da Revolução
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Um País em Chamas e a Urgência da Revolução

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“Ecologia sem luta de classes é jardinagem” – Chico Mendes1

Este ano, o povo brasileiro está vivenciando verdadeiras cenas apocalípticas: céus vermelhos repletos de fumaça, chuvas de fuligem, seca e chamas são o retrato da atual crise climática que assola o Brasil.

Um País em Emergência Climática

Há semanas, o Brasil enfrenta sua segunda tragédia climática do ano. Após as enchentes no Rio Grande do Sul, agora estamos lidando com queimadas concentradas nas regiões Norte e Centro-Oeste, que já consumiram uma área equivalente ao estado da Paraíba. Quase 1,5 milhão de pessoas foram afetadas em mais de 500 municípios, incluindo capitais como Belo Horizonte, Brasília e Goiânia, que estão há cerca de cinco meses sem chuva, e Manaus, em estado de emergência.

É um Fenômeno Natural?

Embora as dinâmicas sociais e ambientais estejam interligadas, as queimadas fazem parte da dinâmica ecológica de grande parte dos biomas brasileiros e sua ocorrência não depende necessariamente dos seres humanos. Como fenômeno que renova os ecossistemas, elas permitem novas combinações de plantas em uma área, transferem nutrientes para o solo e contribuem para a reprodução de certas espécies.

Contudo, o fogo que hoje surge atinge proporções históricas, muito além da prática ancestral conduzida por gerações de povos originários e populações tradicionais. São mais de 40 mil focos de incêndio nas regiões fortemente afetadas e mais de 50 mil no total. Embora alguns desses incêndios sejam provocados por quem deseja derrubar florestas, o quadro generalizado de seca, que alimenta os incêndios, tem outra causa: a crise climática.

A Crise Climática em Foco

Essa crise, causada pelo excesso de gases de efeito estufa – como o dióxido de carbono e o metano – resultante da queima de combustíveis fósseis e da destruição dos ecossistemas, vem sendo alertada há décadas por setores da comunidade científica e por movimentos sociais. No entanto, toda ação para mitigá-la ou revertê-la é boicotada pelos monopólios, pela burguesia internacional e pelo agronegócio, interessados apenas em seus lucros imediatos.

O Agro é Pop?

A produção agrícola capitalista, centrada na maximização do lucro e voltada para o mercado externo, agrava tanto a crise climática quanto a insegurança alimentar. A expansão predatória de monoculturas no Brasil, como a de soja, café e eucalipto, substitui áreas antes destinadas ao cultivo de alimentos básicos, como arroz e feijão. Isso não apenas contribui para o aumento da fome, como também expropria terras de comunidades indígenas e camponesas. Portanto, esse modelo não tem como objetivo alimentar a população, mas sim transformar recursos naturais em mercadorias, intensificando o desmatamento, o uso de agrotóxicos e a concentração fundiária nas mãos de latifundiários e grandes corporações.

Ao promover o desmatamento e o uso intensivo de agrotóxicos, o agronegócio não só destrói o meio ambiente, mas também compromete a segurança alimentar e a qualidade de vida da classe trabalhadora. A priorização das exportações e o emprego de tecnologias poluentes intensificam a degradação dos biomas, contaminando o solo e a água. Esse ciclo de exploração e destruição, impulsionado pelo lucro, acelera as mudanças climáticas, enquanto a produção de alimentos essenciais para o consumo interno é negligenciada. No fim das contas, o agronegócio reforça a dependência externa e agrava a vulnerabilidade ambiental e social no Brasil.

Os Efeitos da Crise

Enquanto isso, a grande mídia oculta as verdadeiras causas dessa crise2, tratando a questão como um problema moral ou individual, em vez de abordá-la como um fenômeno econômico e estrutural. As consequências se tornam cada vez mais graves: testemunhamos o aumento do nível do mar e a maior frequência de eventos climáticos extremos, como tempestades, ondas de calor e frio, inundações e secas; a destruição de biomas e a extinção de espécies; o desaparecimento de rios; e a piora da qualidade do ar. Além disso, a destruição crescente causada pelo avanço do agronegócio, da grilagem de terras e da mineração predatória ameaça a biodiversidade e contribui para crises alimentares, elevando o custo de vida da classe trabalhadora, que já enfrenta baixos salários e condições de trabalho precárias.

Quem Paga o Preço?

Apesar de a classe trabalhadora não ser responsável pela crise climática, ela é quem sente seus principais efeitos. Enquanto a burguesia, com seus jatinhos, casas de veraneio e ambientes climatizados, contorna o desconforto térmico, somos nós que perdemos nossas casas e nos tornamos refugiados. Somos nós que não conseguimos trabalhar por causa do calor extremo ou dos efeitos de chuvas devastadoras. Nossas atividades econômicas principais, como a pesca artesanal, são impossibilitadas e nossa fonte de sobrevivência ameaçada. A crise climática atinge de forma brutal quem depende diretamente dos ecossistemas, como as populações indígenas e camponesas, que veem suas terras cada vez mais expropriadas e devastadas.

Desde a nossa infância, ouvimos na escola que as riquezas do Brasil estão na sua biodiversidade e nos seus recursos naturais. No entanto, de que adianta isso ser amplamente difundido se não é o povo quem colhe os frutos dessa riqueza? Como país periférico, o Brasil será mais afetado pelas mudanças climáticas aceleradas, fruto da extração cada vez mais intensa de recursos naturais pela burguesia global e pelo imperialismo. Esses recursos são enviados para longe, e o que se consegue com isso não é repartido com o povo, mas apropriado pela burguesia, aprofundando a desigualdade social. Assim, exploração, opressão e devastação andam lado a lado, enquanto a classe trabalhadora adoece física e mentalmente, enfrentando cargas de trabalho exaustivas e a iminência de uma nova extinção em massa.

A Dupla Face da Burguesia Brasileira

A burguesia brasileira é adepta de grandes discursos, mas suas práticas são mais reveladoras. Enquanto falam de empresas verdes, afundam cidades e derramam chumbo e petróleo nas praias. Enquanto falam de energia limpa, sacrificam vidas em rompimentos criminosos de barragens e seriam capazes de financiar golpes militares para extrair minérios. Enquanto falam em desenvolvimento sustentável, impõem a todos nós um modelo insustentável: o capitalismo. Essa burguesia já demonstrou que seus verdadeiros interesses são lucrar o máximo possível às custas de nossa vida e bem-estar.

Enquanto isso, o proletariado brasileiro tenta sobreviver a duras penas, muitas vezes de forma passiva ou desorganizada, mas resistindo à destruição do Brasil. Não somos culpados pela crise, mas somos obrigados a trabalhar para manter a engrenagem do capital funcionando, recebendo salários miseráveis enquanto os patrões fogem das consequências de seu projeto político de enriquecimento incessante.

Como Superar essa Crise?

Não basta pintar o capitalismo de verde, pois ele é incompatível com a manutenção das espécies e com a dignidade humana. Seu ritmo de produção e exploração é incompatível com o ritmo do planeta. Seu propósito, ligado ao lucro, é incompatível com os propósitos da humanidade, ligados à vida. Para resolver essa crise, é preciso tirar do poder aqueles que a criaram: destruir o capitalismo e construir o socialismo. É preciso construir a revolução.

Nossa luta é pela humanidade e por tudo que conhecemos, por tudo o que ainda não foi destruído pelos tentáculos do capitalismo e sua capacidade destrutiva. Chamamos, pois, a juventude indignada com as injustiças, que sente na pele a destruição do país e do mundo, que sabe que não é possível mudar o sistema sem antes destruí-lo. Conclamamos essa juventude para engrossar as fileiras da revolução, construir a UJC e preparar a contraofensiva. Para salvar o planeta do colapso ambiental, é preciso derrubar o capitalismo! É socialismo ou barbárie!

Pelo Poder Popular rumo ao socialismo!

Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC)

25 de setembro de 2024


Notas de Rodapé

  1. Chico Mendes (1944-1988) foi um seringueiro, sindicalista, ambientalista e militante comunista brasileiro, reconhecido por sua luta em defesa da floresta amazônica e dos direitos dos povos tradicionais. Nascido em Xapuri, no Acre, cresceu trabalhando como seringueiro, extraindo látex das seringueiras. Sua experiência de vida o levou a se envolver com o movimento sindical e a liderar a organização de seringueiros contra o desmatamento e a expulsão de comunidades locais causados pela expansão da pecuária e pelo avanço de grandes latifúndios na Amazônia. Foi um dos fundadores do Conselho Nacional dos Seringueiros e criou a ideia das “reservas extrativistas”, áreas protegidas onde comunidades poderiam viver de forma sustentável, sem destruir a floresta. Sua luta o tornou uma figura internacional, mas também alvo de fazendeiros e grileiros que se opunham às suas atividades. Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado a mando de fazendeiros, tornando-se um mártir na luta pela preservação ambiental e pelos direitos humanos no Brasil. ↩︎
  2. “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Essa frase é um mantra repetido diariamente na maior emissora de televisão do Brasil, que cumpre com rigor seu papel de difusora da ideologia do agronegócio, inclusive em suas novelas, como “Renascer”, “Terra e Paixão” e “O Rei do Gado”. Nessas produções, os problemas do agrários do Brasil são retratados como meros desvios morais de fazendeiros “malvados”, gananciosos e violentos, em contraste com os “bons” fazendeiros, liberais e virtuosos, mascarando o fato de que essas questões são, na verdade, problemas estruturais da produção capitalista no campo. ↩︎