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Os “formigas de asas” – João Saldanha
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Os “formigas de asas” – João Saldanha

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Artigo de autoria do João Saldanha (que será homenageado no VII Congresso Nacional da UJC) e que foi originalmente publicado no jornal Classe Operária, em dezembro de 1948.

Os “Formigas de asas”

“Formigas de asa” são esses milhares de pequenos clubes, também chamados independentes, que aparecem e desaparecem dum dia para o outro.

São clubes fundados nos cafés, nos locais de trabalho e nas esquinas dos bairros e subúrbios ai pelo Brasil afora. A razão disto, é que tais dificuldades encontradas por estas pequenas agremiações muito poucas são as que conseguem se manter, e assim mesmo raramente por mais de um ano.

Mas a causa principal, a fundamental, é a falta de campos ou praças de esportes, mesmo aquelas mais precárias que não passam de um terreno e duas balizas, onde os “cracks” das “peladas” possam exibir suas qualidades.

Para que se tenha uma idéia do que representa êste problema, vamos narrar um fato verídico que se passou há pouco mais de um ano na Capital da República:

“Uns garotos estavam jogando futebol na rua, quando em dado momento a bola entrando por uma janela foi parar dentro da casa de um tal Sr. Barbedo, homem de constante mal humor muito avesso ao futebol, principalmente quando praticado em frente à sua casa. Não houve jeito. Os garotos ficaram sem a bola. E já estavam apanhando algumas pedras para uma represália, quando um deles teve uma ideia que foi aceita por unanimidade. Tratava-se de pôr um anúncio num jornal de sexta-feira nos seguintes termos: O Bailarina F. C. aceita jogo para domingo em “seu próprio campo”. Tratar diretamente com Barbedo na rua … (e deram o endereço do homem)”. Foi o diabo. Quando o Sr. Barbedo chegou para jantar, uma pequena multidão discutia acaloradamente em frente a sua casa. Perguntando o que se passava, foi logo abordado pelos representantes do Onze Leões do Catumbi, do Lá Vai Bola F. C., dos Invencíveis do Salgueiro e por todos os demais presentes, cada um reivindicando o direito de jogar argumentando, entre outras, que há mais de três anos estavam invictos, etc. (mesmo os clubes que tinham sido formados ou fundados a base do anúncio).

Quando tudo terminou, depois da intervenção da polícia tinham ficado alguns vidros partidos, e os últimos que se retiraram diziam indignados “não se brinca com assunto sério”.

O assunto é sério mesmo. A desproporção entre o número de clubes e o de campos existente é enorme e com um governo que não se interessa pela solução dos problemas das massas populares a saída é lutar de forma organizada. O que neste terreno seria a formação de um grande organismo de massas fundado numa convenção ou congresso dos “formigas de asa”.

E o primeiro passo para esta realização é sem dúvida alguma, a organização das pequenas Ligas de bairro ou subúrbio.

Organização de Ligas, porque o que dará vida aos clubes será a atividade esportiva permanente. E uma vez que os clubes não podem arcar sozinhos com as despesas de aluguel de um campo, só ao contrário, unidos em grupos de 10 ou 12 poderão enfrentar a situação, alugando assim um campo onde uma vez por semana poderão ser realizados até 8 jogos de um torneio ou campeonato que por ventura estiverem disputando. E amanhã, reunidos em torno de um objetivo concreto, que será o de uma melhor solução do problema, os representantes dessas Ligas, poderão participar de um congresso ou convenção no seio da massa dos “independentes” e representará de fato as reais aspirações.

JOÃO SALDANHA

Transcrito da Classe Operária de 25/12/1948