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O Movimento Estudantil e a Greve Geral

O Movimento Estudantil e a Greve Geral

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No dia 28 de abril, o movimento operário esteve no centro do palco da luta de classes: uma das maiores greves políticas da histórica do país paralisou cerca de 40 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, despertando o apoio passivo de mais outros milhões e mobilizando em torno do dia de paralisação da produção uma série de bloqueios em ruas, avenidas, rodovias, aeroportos, barcas e portos; tudo isso acompanhado de manifestações em mais de três centenas de cidades em todo o país, levando às ruas milhões de pessoas.

Naturalmente, com a entrada em cena da classe trabalhadora, toda uma série de movimentos parecerem atirados para um segundo plano. Isso se deve, principalmente, ao forte conteúdo classista de toda a agitação e propaganda em torno da greve geral: ainda que em todo o país diversas camadas da sociedade tenham se mobilizado, o fizeram ao lado e sob a bandeira da classe operária. Movimentos de moradia, pequenos produtores rurais, populações indígenas, movimentos feministas, movimento negro, setores de tendências religiosas, enfim, inúmeros setores da sociedade se puseram em marcha ao lado do proletariado, fazendo de sua greve geral a síntese de toda a luta social contra os ataques da burguesia. “A ‘sociedade’ simpatiza convosco quando sois fortes.”

O mesmo ocorreu com o movimento estudantil: golpeando ao lado do movimento grevista, esteve ao mesmo tempo presente e “lateral”. Ao lado dos trabalhadores da educação, mobilizou suas bases em favor da paralisação das atividades letivas durante o dia 28 de abril. Além de contribuir vigorosamente para toda a agitação classista em torno da greve, o movimento estudantil aderiu à forma de luta de apoio à greve geral: os bloqueios de ruas e avenidas.

Em 28 de abril, os bloqueios surgiram como forma de luta subordinada à greve geral: o método “guerrilheiro” e disperso de qualquer grupo, maior ou menor, que deseje lutar ao lado do proletariado, somando forças em sua ação massiva grevista. Seja pelo clima de obstrução generalizada que ajudaram a infundir, seja por seu efeito prático sobre o trânsito, somaram definitivamente para a amplitude da paralisação do dia 28. Alguns exemplos foram os bloqueios das avenidas Francisco Morato, Consolação e Higienópolis por estudantes secundaristas, bem como o bloqueio nos arredores da USP, organizado pelo DCE-Livre Alexandre Vanucchi Leme ao lado das organizações dos trabalhadores e docentes da Universidade.

Essa unidade entre estudantes e trabalhadores da educação é, na verdade, a marca de toda a onda grevista nas Universidades – um avanço em relação a todo o período anterior, de profunda fragmentação entre as chamadas “três categorias” da Universidade. Sem superestimar os efeitos orgânicos de cada ação conjunta, o caminho a ser perseguido é o da unidade cada vez maior entre estes setores.

No caso dos secundaristas, também as manifestações em solidariedade à greve geral se alastraram como expressão, à sua forma, desta unidade. Evidentemente que essas mobilizações guardam relação com a onda de ocupações de escolas e todos os saltos de consciência e organização do período. Mas, ao mesmo tempo, impossível não relacionar essas movimentações com própria expressividade da onda grevista entre os trabalhadores da educação, paralisando não apenas amplamente as atividades nas escolas públicas, mas também em mais de duas centenas de escolas privadas, apenas em São Paulo – um número inédito. Diante de tamanho envolvimento dos trabalhadores da educação na organização do dia 28, era de se esperar que a juventude estudantil fosse exposta às vibrações da mobilização de massas e convocados à ação unificada.

Diante das ações de massas, toda a superestrutura repressiva se mobilizou em resposta: a propaganda ideológica antigrevista da mídia comercial foi acompanhada pelos duros golpes físicos contra o movimento popular, com prisões de militantes, como os do MTST, e um saldo de diversos feridos, contando entre eles o virulento ataque ao estudante Matheus Ferreira (que até o fechamento deste texto ainda encontrava-se hospitalizado).

Com o acirramento da luta de classes iniciado pela ação grevista de massas, também a repressão tenderá ao endurecimento. Não à toa, após o dia 28, aumentaram inúmeros casos de bárbaras ações das polícias e outros de capangas dos proprietários dos meios de produção, além das perseguições políticas. O movimento estudantil não passará alheio a tais ataques, como demonstra a ação da PM na UNESP de Marília, na noite de 8/5.

Assim, as tarefas que se colocam para o próximo período demandarão a crescente unidade das massas: só nas ações de massas é possível evitar a dura repressão que poderá se abater sobre os grupos de isolados. Nesse sentido, não é difícil prever que os bloqueios de ruas serão alvo de fortes ataques pelo aparato policial, nas próximas mobilizações grevistas gerais. O movimento estudantil deverá estar alerta para essa possibilidade – bem como não negligenciar todo o potencial de apoio e agitação que tal forma de luta permite…

Além disso, é preciso intensificar, entre os estudantes, a campanha pela sindicalização da juventude: na esteira dos elementos de consciência classista sedimentados pela greve geral, o movimento estudantil deve promover uma ampla agitação em favor da sindicalização dos estudantes trabalhadores, para que possam travar a luta em patamar cada vez mais elevado, em temos de organização, e levando-a para a trincheira decisiva: o mundo do trabalho. Esta agitação poderia contribuir para fortalecer os laços entre o movimento estudantil e o movimento operário não apenas na própria Universidade, mas através da formação de quadros que lutem em ambas as frentes, nas diversas categorias nas quais se inserem as e os estudantes, permitindo o intercâmbio das experiências de luta e a unidade crescente de ação.

Por fim, é preciso intensificar o trabalho de massas, aproveitando todas as oportunidades na propaganda revolucionária do Poder Popular – a orientação estratégica capaz de guiar as lutas da classe trabalhadora para além dos protestos vãos e defensivos, rumo a uma recomposição política do proletariado para a luta por seu programa de classe. Todo o processo de tiragem de delegados para o Congresso da UNE, bem como este próprio Congresso, são oportunidades nesse sentido: não só permitem abrir o sobre a necessidade de uma Universidade Popular; mas também o debate sobre o próprio papel do movimento estudantil no contexto da ofensiva burguesa, e a necessidade de recobrar para a combatividade suas entidades de base e gerais, apontando para uma política que ultrapasse os limites da conciliação de classes.

Todo o movimento estudantil conhece aquela afirmação de Florestan Fernandes, segundo a qual “ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo e, nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo”. No momento em que a classe operária se põe à dianteira da luta de todo o povo trabalhador contra os ataques dos capitalistas, nos identificarmos com o destino de nosso povo só pode ter um sentido concreto: construir a crescente unidade de ação da classe trabalhadora, de modo a permitir uma radical recomposição do movimento operário sobre bases combativas, e lutar pela elevação da consciência revolucionária de todas as camadas da classe trabalhadora. Esse é o papel que o movimento estudantil pode ajudar a desempenhar em toda a luta de classes que virá.

Por: Gabriel Landi, militante da União da Juventude Comunista e do Partido Comunista Brasileiro