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O Futebol e as Lutas do Povo
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O Futebol e as Lutas do Povo

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imagem retirada do site: http://www.futebolcearenseonline.com.br/site/2017/08/21/ultras-resistencia-coral-nem-guerra-entre-torcidas-nem-paz-entre-as-classes/

Lucas Prestes*

A crise sistêmica do capitalismo, coloca de forma cada vez mais aberta a luta entre as classes, caindo as máscaras e mostrando as verdadeiras intenções dos patrões e seus serviçais, como podemos observar bem aqui no Brasil, principalmente a partir do golpe de 2016, que resultou na reforma trabalhista e vários outros ataques contra nós, trabalhadores.

O futebol está dentro da nossa sociedade, e não poderia de maneira nenhuma escapar desse cenário contraditório e turbulento. O sistema capitalista de maneira geral, e mais especialmente, com sua camisa neoliberal, deforma e destrói tudo que envolve a cultura da classe trabalhadora, aprofundando cada vez mais as relações de mercadoria, elitizando e restringindo os espaços públicos.

Principalmente a partir dos anos 1990, o futebol dentro do contexto da globalização, possibilitou a ampla abertura dos mercados, abrindo espaço para os empresários e as grandes empresas se apropriarem de toda estrutura futebolística, desde as categorias de base, com venda em massa de talentos, até os mais altos cargos de direção nos clubes, como por exemplo, podemos observar mais recentemente num clube alviverde, da Grande São Paulo.

O próprio nível técnico do jogo, gradativamente entrou em declínio, com o abandono dos esquemas táticos mais ofensivos (principalmente o 4-3-3), e a transição para esquemas táticos com maior peso na defesa, na compactação e povoamento do meio de campo (3-5-2, 4-4-2 e etc.), a queda da média de gols nas copas do mundo, a sobreposição da parte física dos jogadores em prejuízo da parte técnica, com treinamentos cada vez mais escassos dos fundamentos, entre outras coisas.

Todo esse processo, passo a passo com as mudanças de conjuntura nacionais e internacionais, também aprofundou a elitização dos espaços do futebol, com a tentativa de exclusão do proletariado dos estádios, com o fim das gerais, a reconstrução dos estádios em formato de “arenas”, elevando os ingressos a preços gritantes, aliada a uma política cada vez mais intensa de criminalização das torcidas organizadas, inibindo as manifestações populares, proibindo bandeirões, sinalizadores e etc.

É sintomático que recentemente, José Mourinho, um dos grandes treinadores do mundo, tenha reclamado que os jogos no estádio do Manchester United, estejam cada vez mais chatos e silenciosos, sem espaço para a torcida ficar em pé, bloqueando o acesso das torcidas organizadas aos jogos por causa da política de ingressos, por exemplo.

Outro grande problema, que arrebenta os clubes menores, é a concentração da verba das cotas de televisão, que ao mesmo tempo gera um endividamento e uma dependência enorme dos grandes clubes, com relação a emissora do plim plim, em compensação corta as possibilidades dos clubes menores terem acesso a uma divisão de renda mais justa, desestimula o crescimento do futebol local em vários estados, e contribui para o monopólio dos clubes do eixo sul-sudeste.

Com o aprofundamento da crise, e com a entrada de governos mais a direita, principalmente na américa latina, a luta tem ficado mais acirrada, aumentando o número de manifestações nos estádios, como no caso da argentina, em que as torcidas de grandes clubes tem ido para cima do presidente, muito por conta da privatização das transmissões dos jogos, e dos cortes sociais que o governo tem feito por lá, inclusive a aprovação de uma reforma da previdência.

As grandes torcidas organizadas tem demonstrado insatisfação com os ataques dos governos de direita, e diferentemente do que o apresentador Tiago Leifert recentemente declarou em artigo, as torcidas mostraram que futebol é sim lugar para debate político, como quando a gaviões da fiel apoiou as ocupações de escolas, ou as torcidas grandes de São Paulo protestaram contra a medida das torcidas únicas nos estádios.

Da perspectiva dos jogadores,o movimento bom senso futebol clube, iniciado em 2013, esboçou uma reação contra as medidas arbitrárias e as más condições de trabalho dos jogadores, a questão do calendário extenso, excesso de jogos para os grandes, e falta de jogos no segundo semestre, para os jogadores dos pequenos clubes, porém, sem um projeto político muito claro, e com a ausência do sindicato nesse processo, o movimento perdeu força, e não conseguiu ter continuidade.

O futebol tem intima ligação com a política, e reflete a luta de classes, com conjunturas mais favoráveis a burguesia, e momentos de maiores possibilidades para os trabalhadores, como na experiência da democracia corinthiana, na qual os jogadores e funcionários do clube, deliberavam das contratações, até as viagens e concentrações, tendo para o futebol brasileiro, politicamente, a importância de uma comuna de paris.

As experiências socialistas mesmo, geraram grandes esquadrões de futebol, como a Hungria de 1952-1954, a URSS de 1960, Tchecoslováquia de 1962, Polônia de 1974-1982 e craques inesquecíveis como Lev Yashin (União Soviética), Ferenc Puskas (Hungria), Josef Masopust (Tchecoslováquia), Paul Breitner (Campeão mundial com a Alemanha Ocidental em 1974, e Maoísta), além de grandes figuras do futebol, como o grande João Saldanha, e muitos outros.

Torcidas e coletivos tem resistido firmemente contra os males do futebol moderno, como os coletivos, mídia e democracia, o movimento agir – arquibancada, ampla, geral e irrestrita, democracia corinthiana, povo do clube (Internacional de Porto Alegre), as torcidas Vascomunistas, Ultras Resistência Coral (Ferroviário-CE), Galo Marx e todas as torcidas antifascistas de modo geral, que tem lutado bravamente contra a elitização do futebol, e a criminalização das torcidas.

As forças classistas precisam olhar com maior atenção as possibilidades da luta política dentro do futebol, que movimenta milhões de trabalhadores, principalmente na juventude, para discutir a construção de pautas em comum, para apresentar um projeto de futebol para os trabalhadores brasileiros, que dialogue com jogadores, torcidas, funcionários dos clubes e dirigentes mais progressistas e todos amantes do futebol em geral. A presença do futebol brasileiro na construção do Enclat (Encontro Nacional dos Trabalhadores e movimentos populares), será fundamental, para apresentar uma saída pela esquerda, não só para a crise do futebol, mas para a crise do capitalismo como um todo.

Contra o Futebol Moderno e pelo Poder Popular!

*Militante da UJC-SP e torcedor apaixonado da seleção brasileira e do A.D. São Caetano-SP

Referências:

https://www.facebook.com/GaloMarx/

https://www.facebook.com/coletivofmd/

https://www.facebook.com/ArquibancadaAmplaGeraleIrrestrita/

https://www.facebook.com/palmeirasantifa/

https://www.facebook.com/SCIAntifascista/

https://www.facebook.com/OPovoDoClube/

https://www.facebook.com/ultrasresistenciacoral/

https://www.facebook.com/SPFC16/

https://www.facebook.com/Vascomunistas/

https://www.facebook.com/coletivodemocraciacorinthiana/

https://medium.com/sem-firulas/macri-la-p-que-te-pari%C3%B3-%C3%A9-o-hit-das-arquibancadas-na-argentina-em-2018-75a74bea6e45

http://www.espn.com.br/post/753210_mourinho-e-torcedores-do-united-se-unem-contra-a-gourmetizacao-de-old-trafford

http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/memoria-futebol-clube/a-lorota-da-arenizacao-esta-enfraquecendo-para-o-bem-do-futebol/

https://www.carosamigos.com.br/index.php/colunistas/223-irlan-simoes/8106-onde-o-futebol-respira-os-estadios-brasileiros-que-resistem-a-arenizacao

http://trivela.uol.com.br/final-em-jogo-unico-tem-ver-com-arenizacao-e-e-isso-que-conmebol-quer/

http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,gavioes-da-fiel-declara-apoio-a-ocupacoes-e-protestos-de-estudantes-,10000003861

https://gq.globo.com/Colunas/Tiago-Leifert/noticia/2018/02/evento-esportivo-nao-e-lugar-de-manifestacao-politica.html

http://www.campeoesdofutebol.com.br/eurocopa.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_1962

http://www.futbolypasionespoliticas.com/2011/05/paul-breitner-el-kaiser-rojo-el.html