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5, 111 e 3
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Por Messias Martins, estudante de História na UFPE, membro do Diretório Acadêmico de História Francisco Julião (DAHISFJ) e militante da UJC-Brasil

À primeira vista esses números podem não ter nada em comum, mas para a família dos cinco jovens que receberam cento e onze tiros há três anos em Costa Barros (RJ) esses números representam em 28 de novembro a violência do racismo institucionalizado pelo Estado e aplicado pelo braço da PM contra negros e pobres. O mês da Consciência Negra é também o mês da Chacina de Costa Barros.

Em 28 de novembro de 2015, Roberto, 16 anos, chamou os amigos Carlos Eduardo, Wilton, Claiton e Wesley para comemorarem seu primeiro salário como menor aprendiz. Antes de voltarem para casa, porém, foram surpreendidos por uma viatura da PM que disparou 111 vezes contra eles. Três anos após o assassinato dos cinco os policiais envolvidos ainda não foram condenados.

Na ocasião Wilkerson e Lourival acompanhavam os amigos de moto e também foram alvo dos policiais, porém sobreviveram aos disparos. No entanto, Wilkerson veio a morrer cerca de oito meses depois de aneurisma cerebral, levando consigo o trauma da perda do irmão Wilton.

Após o assassinato os quatro PMs envolvidos tentaram alterar a cena do crime, plantando uma arma no carro dos jovens. Os PMs Antonio Carlos Gonçalves Filho, Fabio Pizza Oliveira da Silva, Thiago Resende Viana Barbosa e Marcio Darcy Alves dos Santos respondem por homicídio, tentativa de homicídio, fraude processual e associação criminosa. Todos são do 41° Batalhão, um dos mais letais do Rio de Janeiro, o mesmo Batalhão denunciado por Marielle Franco, assinada covardemente em 14 de março, junto com Anderson. Não por acaso, uma das propostas de Bolsonaro para segurança é o ato de ilicitude, uma versão piorada do auto de resistência, em que agora nenhum policial poderá ser julgado em caso de ação policial com vítimas.

Joselita de Souza, mãe de Roberto, não suportou a dor de ter tido seu caçula assassinado de forma tão brutal e meses depois, vendo seus assassinos em pune e acometida de uma profunda depressão, veio a óbito. Já não se alimentava direito há meses, tomava apenas sopa. Morreu de tristeza.

5 jovens negros.

111 tiros.

3 anos de impunidade.

Não esqueceremos.